Todo mundo sente ansiedade. Ela é normal em situações de maior nervosismo, como uma prova difícil ou a chegada de um filho. Para fugir em situações de perigo ou até mesmo conseguir planejar o próprio futuro, é essencial que exista um pouquinho de ansiedade.
No entanto, para algumas pessoas, esse sentimento ultrapassa os limites normais. Ele deixa de ter um motivo específico e causa sofrimento intenso. É nesse momento em que há a suspeita do transtorno de ansiedade generalizada (TAG).
O transtorno de ansiedade é um dos problemas mais preocupantes em todo o mundo — e no Brasil não é diferente. Em 2023, segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 29,3% da população brasileira sofre com taquicardias, tremores, preocupações excessivas, isolamento e vários outros sintomas relacionados à TAG.
E a inquietação fica ainda maior ao saber que boa parte dessas pessoas não procuram o tratamento adequado para a sua condição, sofrendo ainda mais com as consequências da ansiedade não tratada. A seguir, veja o que o transtorno pode causar na sua vida quando não recebe a atenção devida:
1 – Uso de drogas e álcool
A ansiedade tem uma ligação de mão-dupla com o abuso de álcool e outras drogas. Quando uma pessoa se sente muito ansiosa, o uso das substâncias ilícitas pode atuar como um gatilho que potencializa as crises. Ou seja, ela consome cada vez mais para evitar a sensação ruim que vem após o uso. E o contrário também acontece: tentando fugir das preocupações excessivas, muitas pessoas buscam nas drogas uma forma de extravasar o que se passa em sua mente.
E aí o ciclo se torna vicioso, agravando ainda mais a situação. Principalmente no caso dos jovens, a adição em drogas lícitas e ilícitas traz inúmeros malefícios à saúde mental de quem as utiliza. No que diz respeito à ansiedade, ainda que o quadro pareça controlado durante o consumo, o resultado quando o efeito passa é reverso: torna as crises cada vez mais fortes.
Além dos impactos para a saúde, isso também prejudica as relações sociais e de trabalho do usuário, já que pode afastar amigos, familiares e colegas de trabalho.
2 – Depressão
O abuso do álcool e outras drogas combinado com a ansiedade pode ainda resultar em depressão. Mas esse é um transtorno que, mesmo em quem não utiliza nenhuma substância, está comumente associado à TAG. Na prática, pessoas com comportamentos ansiosos apresentam um risco 33 vezes maior do que a população geral de apresentar comportamentos depressivos.
A lógica é simples: um indivíduo muito ansioso está sempre em estado de alerta e sente que nunca está completamente resolvido em diversas áreas da vida. Isso faz com que ele tenha dificuldades para pensar, agir e se sentir de forma plena, o que provoca o surgimento de inseguranças e problemas na autoestima. Desses sentimentos, nasce a depressão.
Outra explicação tem a ver com fatores genéticos. Alguns dos genes que acarretam um maior risco para o transtorno de ansiedade são os mesmos que também levam a um maior risco para depressão.
Por isso, quando o quadro de ansiedade vier associado a sintomas como a perda de prazer em coisas que a pessoa gostava de fazer antes, tristeza profunda e alterações de sono, apetite e psicomotricidade, pode ser que a depressão também esteja presente.
3 – Problemas digestivos, problemas estomacais e problemas intestinais
Já no que diz respeito à saúde física, a ansiedade não tratada impacta, principalmente, o trato gastrointestinal. Quando não controlada, a TAG pode alterar as funções do organismo e resultar em problemas estomacais mais graves ao longo do tempo, como gastrites, úlceras e síndrome do intestino irritável.
É comum que quem sofre com preocupações excessivas experimentem queixas como dores de estômago, náuseas, diarreias, constipações, azias e outros. Todas elas fazem parte da vasta gama de problemas digestivos associados à ansiedade.
A gastrite nervosa, uma das principais doenças crônicas associadas ao estado emocional, é uma inflamação do estomâgo que acontece em momentos de estresse intenso. Os sintomas vão desde cólicas até mal-estar, vômitos e mudanças no apetite. Em um contexto mais amplo, afeta ainda o bom funcionamento da vida social, pessoal e profissional daquele indivíduo.
4 – Insônia
A ansiedade também interfere diretamente na qualidade do sono. E por que isso acontece? Por conta do pensamento acelerado, das preocupações excessivas e do permanente estado de alerta que fazem com que a pessoa demore a pegar no sono.
Antigamente, os especialistas achavam que a insônia era mais um dos sintomas da ansiedade. No entanto, hoje já se sabe que são condições distintas que, muitas vezes, podem andar lado a lado, como se fossem comorbidades.
Aprenda mais sobre ansiedade
Todas as inquietações relacionadas à ansiedade podem fazer com que a pessoa não consiga relaxar completamente, sofrendo de insônia. Por outro lado, quando essa dificuldade para dormir já existe, a hora de dormir pode ser envolta em muita ansiedade: o medo de não conseguir descansar e sentir as repercussões no dia seguinte. Ou seja, ansiedade e insônia agravam uma a outra.
Noites mal dormidas, além de prejudicarem o rendimento no dia seguinte, também dificultam a fixação de informações, causam maior irritabilidade e diminuem a capacidade de concentração.
5 – Dores de cabeça e dores musculares
As dores aparentemente sem motivo são mais uma das consequências da ansiedade. Dores de cabeça constantes e incômodos musculares persistentes representam as queixas mais comuns desses pacientes. Isso porque o cérebro interpreta o sofrimento psicológico como um problema físico, provocando somatização dos sintomas em resposta aquela ameaça.
No caso das dores de cabeça crônicas, a explicação está associada às alterações nos níveis de serotonina no cérebro, neurotransmissor responsável pela satisfação e bem-estar. A sua queda é alertada pelo corpo através de dores de cabeça na nuca, na testa e em outras regiões do encéfalo.
A tensão também se espalha pelos ombros, pelas costas e por outras áreas do corpo, levando à recorrência de relaxantes musculares, o que pode acarretar dependência medicamentosa. A razão é que os músculos ficam muito tempo contraídos devido à angústia que não passa.
6 – Problemas cardíacos e respiratórios
Até mesmo quem não tem o transtorno de ansiedade sente o coração acelerar quando se sente mais ansioso. Por que isso acontece? Porque o estresse causado por essa sensação leva a um aumento da produção de cortisol e adrenalina, o que leva o corpo a ativar o modo de combate. Parece que só existem duas opções: lutar ou fugir. E, para isso, o sangue precisa circular rapidamente pelo organismo.
Em ocasiões pontuais, esse é um ótimo mecanismo de sobrevivência humana. Mas quando a ansiedade é constante e a produção de cortisol e adrenalina fica elevada por muito tempo, o risco é de contração das artérias. Entre as consequências, estão a hipertensão, o infarto e o acidente vascular cerebral, conhecido como AVC.
Já em relação ao sistema respiratório, os problemas podem surgir devido à falta de ar. Durante uma crise de ansiedade, os músculos do corpo ficam tensos e rígidos, inclusive os do pescoço e dos ombros, dificultando a passagem de ar. Além disso, a respiração fica acelerada, cansando esses músculos, que não conseguem trabalhar direito. A asma é um dos problemas respiratórios que pode ser agravado pelo transtorno de ansiedade.
7 – Suicídio
Ainda que o comportamento suicida esteja muito mais relacionado com a depressão no imaginário popular, a ansiedade também pode ser um dos fatores que levam ao suicídio. Estudos mostram que há uma forte correlação entre os sintomas ansiosos e os pensamentos suicidas. Os números de pessoas com transtorno e ansiedade que tentaram o suicídio são bem mais altos do que aqueles entre a população geral.
No entanto, esse é um tema que ainda exige mais estudos. Infelizmente, o suicídio ainda é um tabu tanto para pessoas que sofrem com transtornos psicológicos e psiquiátricos quanto para quem convive com elas e até entre os próprios especialistas.
Mesmo assim, é um fato que, se não for tratada adequdamente, a ansiedade pode, sim, levar a comportamentos suicidas e até ao ato de colocar um fim na própria vida.
8 – Ataques de pânico, fobias e TOC
A ansiedade costuma aparecer associada a outros transtornos, inclusive agravando quadros mais leves. Entre eles, estão a síndrome do pânico, as fobias e o transtorno obsessivo compulsivo, o TOC.
A síndrome do pânico, também chamada de ansiedade paroxística episódica, é a ocorrência repentina de crises agudas de ansiedade sem nenhum motivo aparente. Na maior parte dos casos, a pessoa sente um medo intenso e apresenta sintomas físicos e emocionais de tensão. É como se ela tivesse a certeza de que vai morrer ou enloquecer em breve. Tais crises podem surgir devido ao medo excessivo característico da TAG.
O mesmo medo, em graus mais elevados e frequentes, pode resultar em uma fobia, problema classificado como um tipo de transtorno de ansiedade. Essa fobia pode ser de qualquer coisa: palhaço, agulha, lugares fechados, altura, entre muitos outros. Não importa qual seja o objeto causador de medo, mas a sensação de pavor que ele suscita.
Já o transtorno obsessivo compulsivo, por sua vez, está relacionado aos pensamentos indesejados típicos da ansiedade. A pessoa pensa por tantas vezes em uma situação que não consegue controlar que aquilo se torna uma obsessão. Para extravasar, ela pode desenvolver hábitos ou rituais em seu dia a dia que afetem a rotina, caracterizando o TOC.
9 – Emagrecimento ou obesidade
Apesar das várias consequências já citadas neste artigo, é a alteração no peso que geralmente acende o alerta para as outras pessoas de que algo não vai bem com quem tem o transtorno de ansiedade.
O ganho ou a perda de peso acontecem, entre outros motivos, pelo apetite desregulado. Quando ansioso, o indivíduo costuma comer rapidamente, sem prestar atenção nos sabores, o que pode alterar a sensação de ansiedade e modificar os hábitos alimentares. Além disso, pode surgir ainda uma compulsão como forma de escapar daqueles sentimentos ruins.
No caso do aumento de peso, outras razões envolvem o desequilíbrio na saúde física e mental, como a dificuldade para dormir, manter uma alimentação balanceada e praticar exercícios físicos. A liberação de hormônios do estresse também pode levar o organismo a um estado inflamatório.
Já quando há a perda de peso, mais rara, os motivos estão relacionados à perda de apetite e, em algumas ocasiões, ao uso de medicamentos antidepressivos.
10 – Baixa imunidade
Por fim, sabe-se que a ansiedade influencia na imunidade de uma forma geral. Durante situações ansiosas específicas, o corpo se prepara para lutar ou fugir, mas depois retorna aos seus níveis normais. Já quando o estresse é frequente, o organismo enfrente dificuldades para voltar ao funcionamento regular. Isso faz com que o sistema imunológico enfraqueça.
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Nesse contexto, podem surgir diversas doenças, como infecções, viroses e alergias. É que o estresse altera o número de linfócitos presentes na corrente sanguínea, ou seja, estruturas responsáveis pela destruição de agente invasores, tais como vírus e bactérias. Sem eles, qualquer pessoa fica suscetível a adoecer.
A ansiedade não tratada e associada a hábitos de vida ruins, como alimentação desequilibrada, sono desregulado e sedentarismo, acarreta uma baixa imunidade. Sendo assim, além de ficar doente mais vezes, a pessoa leva mais tempo para se curar.
Ou seja, não dar a atenção devida ao quadro de transtorno de ansiedade generalizada leva ao surgimento de problemas mentais, físicos e sociais. É importante procurar ajuda especializada para entender a fonte dessa ansiedade e tratá-la da melhor maneira, levando em consideração a sua rotina. Não existe um único caminho para controlar a ansiedade, mas é fundamental reconhecer o problema e buscar orientação médica. Com paciência e o tratamento adequado, o paciente com TAG é capaz de alcançar muito mais qualidade de vida.