Autoconhecimento

Como evitar o ciclo da negatividade

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É muito fácil ser negativo. É fácil ver um defeito em um dos meus pais, é fácil pensar no que não gosto do meu chefe. É tão fácil que não paramos no primeiro exemplo. É fácil saber o que não gosto do meu emprego, é fácil dizer como as pessoas a minha volta me machucam. É fácil ser negativo a respeito da política ou a respeito do meio-ambiente. Neste caso, para conseguirmos basta realmente querer. E às vezes queremos.

Então a negatividade se institui como ciclo. O ciclo da negatividade se retroalimenta das avaliações negativas. Tudo pode ser negativo e a negatividade cresce sem ter um fim. Eu pulo de um assunto ao outro, trazendo a negatividade comigo.

O ciclo da negatividade se retroalimenta das avaliações negativas.

A negatividade expande a áreas comuns: do trabalho à falta de transporte público barato ou de qualidade à situação econômica familiar ou do país, os buracos na via pública ou o excesso de impostos, o barulho estridente da moto, os conteúdos e opiniões veiculados nas mídias, o latido alto do cachorro, a música ruim do vizinho, a morte, a violência e a corrupção.

A negatividade não se contenta em negativar o evento ou o outro e, de modo incessante, ela volta-se contra o negativador.

Transformo meu senso de si com a negatividade que projeto em mim mesmo: não sou suficiente, sou burro, sou feio, as pessoas não gostam de mim, não sou valorizado, o que faço e minhas capacidades não têm a apreciação que merecem.

Se você deu asas à negatividade, não sobra uma crença positiva a seu próprio respeito.

Se a negatividade é incapaz de parar por si mesma, como seria possível pará-la? Nós mesmos podemos. Algumas técnicas básicas:

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Técnicas de direcionamento da avaliação

1. Avaliar o possível, não o ideal.

2. Simplesmente deixar as avaliações e os julgamentos de lado.

3. Perguntar-se: como posso encarar isso de um modo positivo? E responder essa pergunta.

4. Fazer uma lista de coisas, eventos ou pessoas as quais você é grato, dizer isso a elas se possível.

5. Reconhecer e valorizar o esforço ou a intenção envolvidos, ainda que o resultado não seja o desejado.

Técnicas expressivas  

6. Escrever, desenhar ou pintar (“pôr para fora” o que você sente por meio de práticas expressivas, criativas ou estéticas, em vez de deixar este tóxico dentro de si).

7. Encontre-se regularmente com amigos, família ou pessoas que você gosta e se importam com você — não é meramente para se distrair ou rir, conte as dificuldades que você está passando. Apoio social é uma das melhores fontes de resiliência.

Técnicas de direcionar sua energia

8. Fazer uma atividade física para “soltar essa energia”.

9. Identificando o problema específico que gera desconforto, identificar uma ação sua que pode resolvê-lo ou auxiliar a enfrentá-lo.

10. Focar em uma coisa qualquer a fazer, e apenas uma (lembra daquela lista de coisas que você queria fazer? Não tem? Comece uma! Depois parta para o primeiro item da lista) — o principal é tirar o seu foco da negativação, propor-se a algo produtivo.

11. Afastar-se da fonte de sua negatividade (feche o WhatsApp/a rede social, deixe para ver o resultado do concurso amanhã, peça licença a pessoa que está lhe irritando).

12. Engaje-se numa atividade regular que encherá sua vida de sentido, algo que realize seu senso de propósito. Pode ser uma causa humanitária ou simplesmente um hobby que o faça sentir-se bem.

Nós, de fato, temos uma possibilidade muito limitada de modificar nosso ambiente ou de influenciar outras pessoas. Mas nossa atitude mental está completamente em nosso controle. Todos nós podemos, em todos os momentos, escolher entre uma avaliação reativa aos eventos (determinada pelo ambiente), uma avaliação negativa (que interpreta algo como ruim), uma avaliação passiva (que será indiferente ou esperará que forças exteriores modifiquem a situação), uma avaliação positiva (em que aceito e busco apreciar aquilo que está dado) ou uma avaliação proativa (em que busco criar as condições para que a situação seja modificada de acordo com meus próprios ideais, determinando o ambiente).

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Exemplos de avaliação reativa:

“Isso está determinado, decidido”

“Eles não permitirão”

“Eu não posso/não consigo”

“Eu devo”

“Eu desisto”

Exemplos de avaliação negativa:

“Isso é ruim/mau”

“Isso não presta”

“Isso/Ele me entristece/irrita”

“Eu/você/ele agiu errado”

“Isso não vai dar certo”

Exemplos de avaliação passiva:

“Espero que isso mude”

“Deus vai me ajudar”

“Não farei nada/vou deixar as coisas assim”

Exemplos de avaliação positiva:

“Isso é bom/ótimo”

“Isso me ajuda”

“Tudo vai dar certo”

Exemplos de avaliação proativa:

“Isso está acontecendo comigo, mas não me determina”

“Eu tenho alternativas”

“Posso escolher ou controlar minha reação”

“Prefiro/escolho/decido”

“Vou fazer tal coisa”

“Vou persistir em meus ideais até que eles se tornem realidade”

“Farei o que for preciso para fazer prevalecer o que é mais importante”

A questão aqui não é a priori decidir qual atitude é superior. As atitudes “corretas” dependem das próprias avaliações das pessoas em determinados contextos específicos. São elas que devem decidir, in loco e naquele momento, se é melhor, por exemplo, “aguardar para ver” o desenrolar de uma história ou realmente tomar a iniciativa.

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Em minha experiência, algumas vezes é preferível uma avaliação passiva a uma proativa, tomando uma atitude de relativa indiferença quanto a certos eventos, principalmente quando esses eventos acabam ficando fora do nosso ciclo de influência ou determinação.

Este meu modo de avaliar reconhece que não conseguimos, muitas vezes, ser pragmáticos a respeito de certas coisas, e privilegia a saúde emocional ao resguardar-se de certas ações ou avaliações. Para dar um exemplo, evito entrar em debates online com quem tem opiniões diferentes da minha, porque é uma atividade inesgotável, exaustiva e de retorno incerto.

Cada um tenha maior consciência tanto de suas próprias possibilidades quanto de suas efetivas decisões.

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Entretanto, para dizer novamente, quem efetivamente decidirá isso será cada pessoa em cada situação específica. A proposta deste texto é delinear melhor o tipo de respostas ou descrições que damos a eventos para tornar mais claro a que tipo de atitude estamos dando vazão, possibilitando, assim, que cada um tenha maior consciência tanto de suas próprias possibilidades quanto de suas efetivas decisões.


Você pode usar outro texto do autor? Bullying: as crianças são a esperança

Sobre o autor

Guilherme Henz Franco

Psicólogo desde 2007, com formação em Antropologia Social na Alemanha (2015), trabalhou por 8 anos em Psicologia Organizacional, tendo também boa experiência em Psicoterapia Adulta e Infantil, e ainda Psicologia Escolar e Avaliação Psicológica. Na área cultural, é editor do site "O Franco Atirador", desde 2016, com produções artísticas e divulgação de material científico e político, e também do Blog "O Auscultador do Invisível", desde 2007, com produção literária (traduções, poemas, aforismos e ensaios).

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