Vale relembrar que o corpo absorve mais do que os nutrientes quando nos alimentamos. Por isso, é importante estar em um estado consciente e desperto, estar em um estado de conexão com a gentileza que habita em nós por meio da imersão em pensamentos positivos, sempre que a proposta for cozinhar!
Um ciclo de transformação
Os alimentos são transformados no calor, ao serem processados, fatiados e congelados, podendo adquirir mais ou menos qualidade e nós conduzimos esses processos, sendo também transformados a cada etapa de uma ação na cozinha. Nada acontece isolado. Você doa um ato e se transforma na proporção em que doa.
Por isso, é impossível não experimentar um mergulho no autoconhecimento, quando a culinária é focada e cheia de propósito!
Podemos ganhar mais entendimento sobre quem somos ou deixar escapar uma grande oportunidade de prestar atenção em nossas qualidades, potenciais e até mesmo dificuldades, quando estamos no passo a passo de alguma receita, por exemplo.
Basta prestar atenção no aprendizado que o espaço cozinha proporciona e se permitir experimentar cada minuto culinário como se fosse um minuto de meditação e autocuidado.
No cozinhar, exercitamos alguns estados internos interessantes:
– A virtude da paciência;
– A gestão do tempo;
– A capacidade de improviso e adaptação;
– Senso de medida;
– Consciência ambiental;
– Criatividade;
– Processos curativos do estresse e ansiedade pela introspecção e pelo envolvimento em trabalhos manuais;
– Cuidado prático da saúde física;
– Presença com cooperação;
– Simplicidade;
– Autonomia com responsabilidade;
– Senso de humor.
A culinária pede mentes dispostas ao aprender, mentes que analisem e trabalhem com a ideia do altruísmo, mentes que meçam pelo cuidado e não pela mesquinhez, mentes ponderadas e criativas, mas acima de tudo pede mentes capazes de perceber que o resultado saboroso ou não, de algo, vem sempre da qualidade da intenção que se tem e do reconhecimento de quem se é.
O sabor marcante da amorosidade
Preparar refeições, fazer um bolo para receber a família ou os amigos, para levar ao setor de trabalho, traz à tona o resgate do companheirismo, do acolhimento, do convívio pela conversa olho no olho e do cuidar.
A culinária tem o aspecto da memória afetiva. Ela aproxima as pessoas, fortalece vínculos e faz com que se registrem experiências de amorosidade e carinho na existência e na jornada de cada um.
Cozinhar é uma atividade muito antiga, que precisa ser mantida e incentivada, sem distinção de sexo, profissão e idade. É preciso renovar os votos com o fazer natural e dissociar-se daquilo que nos robotiza em excesso e que nos distancia de nosso lado mais orgânico e bonito.
Preço e valor
Atualmente é comum dar preço a tudo, fomentar o mais rápido, o pré-pronto e o artificial. Trocar preço por valor e cozinha por programas de culinária é bem habitual, mas aqueles que preparam suas refeições, sovam seus pães e fazem seus manjares entendem o quanto há diferença no sabor, na qualidade e, principalmente, na dinâmica da saúde e do consumo. Sabem, acima de tudo isso, que o criar algo com a energia que se tem e com as próprias mãos eleva a autoconfiança.
Se desfrute, nesse processo, da verdadeira abundância: podemos fazer e recebemos pelo que fazemos, naturalmente, sem que uma etiqueta de preço nos seja dada.
O cozinhar nos devolve a dinâmica integrativa que tem a vida. Ao cozinhar, nós entendemos que só pela mistura de elementos cheios de diversidade se tem algo inteiro, que de fato alimenta. Cada pedaço é uma parte desse todo. Entendemos que assim é na culinária e assim é no convívio.
Reconectando e cozinhando
Vivemos na era da fragilidade, do excesso de doenças, da propagação de pânico. Em parte, a extinção de aspectos mais artesanais de nossas rotinas e o aprofundamento no hábito de mais desembalar do que descascar, junto ao medo de sujar as mãos e da preguiça, nos fez chegar a esse ponto mais crítico (que pode ser alterado), que nos trava e nos limita.
Perdemos a conexão com os recursos da Terra, com a vitalidade e com o orgânico da existência quando nos afastamos da ideia e da prática de hábitos saudáveis, como o de cozinhar, por exemplo.
Então, é fundamental criar tempo para o uso do espaço cozinha, pois essa decisão é a decisão de criar uma vida com mais qualidade, mais verdade e mais harmonia.
Afinal, o que nos alimenta, alimenta também boa parte de nosso estado emocional, gera um impacto em nós e no entorno. A qualidade de nosso estado emocional garante uma existência mais saborosa ou mais amarga. A escolha é sempre nossa.
Que tal, hoje mesmo, você começar a desvendar a potencialidade da culinária no seu processo de autoconhecimento e voltar a modelar os dias com a doçura de quem modela um bom biscoito de gengibre natalino?
Você também pode gostar de outros artigos da autora. Acesse: O consumo consciente do bem e a nutrição da paz