O que é audiodescrição (ou áudio-descrição)?
As duas formas estão corretas, por questões de escola e escolha, adoto audiodescrição.
O nome causa estranhamento, esse recurso de acessibilidade ainda é desconhecido pelo público em geral e também por muitos cegos.
Para vocês terem uma noção da importância desse recurso de acessibilidade, no Brasil, o último censo de 2010 revela deficiência em 23,9% da população: 45,6 milhões com algum tipo de deficiência física, visual, auditiva, intelectual ou múltipla.
A audiodescrição é considerada uma tradução intersemiótica, onde um signo visual é traduzido para o verbal, a recepção é feita por meio de voz gravada, narrada ou sintetizada, permitindo assim que pessoas cegas e com baixa visão tenham acesso ao conteúdo de diversos produtos visuais, sejam eles estáticos ou dinâmicos.
Surgiu nos EUA nos anos 70, expandiu-se pela Europa e chegou ao Brasil por volta de 2000.
Com uma defasagem de aproximadamente 30 anos, agora está se fortalecendo no Brasil como uma ferramenta acessível imprescindível.
De maneira bem objetiva, a audiodescrição é a tradução das imagens em palavras. Todo produto que puder ter a imagem traduzida em palavras pode ser audiodescrito: filmes, peças de teatro, ópera e musicais, dança, eventos esportivos e culturais. Quem se beneficia com isso? O público alvo são os cegos e as pessoas com baixa visão, que terão um entendimento maior daquilo que é apresentado e, com isso, uma interação maior com as pessoas videntes. Mas também contempla pessoas com dislexia e idosos.
Estudos validam benefícios para as pessoas com espectro autista e para as pessoas com dificuldade de atenção.
Gestos, cores, formas e tudo o que for relevante para a compreensão de determinada obra são traduzidos ao olhar atento do audiodescritor para que a pessoa com deficiência tenha condições de igualdade para opinar, decidir e até adquirir algo que seria impossível sem o recurso acessível.
O profissional audiodescritor deve ser um bom observador.
Traduzir com fidelidade aquilo que ele vê, detalhar sem opinar e com objetividade. Avaliar se aquela informação é relevante ou não para a compreensão do contexto.
Já conversei com cegos que adoram receber tudo detalhado. Outros cegos querem apenas as informações de ações que não são faladas.
Então, o bom senso me leva ao meio termo!O produto chegará até o cego de nascença, o que perdeu a visão jovem, o adulto e o que tem baixa visão.
Uma boa audiodescrição sempre começa com um bom roteiro e uma ótima revisão, feita por outro audiodescritor e um revisor audiodescritor com deficiência visual.
O audiodescritor utiliza de técnicas aprendidas e habilidades individuais: bom vocabulário, facilidade para escrever frases bem encadeadas, fluentes e sem entraves sonoros perceptíveis na hora da recepção.
Uma boa audiodescrição deve priorizar a tradução com riqueza de detalhes do que é visto, porém, sintetizada, para que não seja cansativa.
Se for narrada, que seja por um bom narrador, com boa dicção, sem interpretação, mas com entonação adequada a cada produto.
Se for gravada, que seja com uma qualidade técnica no mínimo boa e com bons aparelhos receptores, sem interferências.
Em espetáculos (como teatro, dança e óperas), trabalhamos assistindo ensaios, conversando com os atores, bailarinos, diretor, figurinistas e cenógrafos.
O detalhamento se torna necessário: descrever o local do evento, o palco, cenários, figurinos, tecidos utilizados, iluminação, tornar o convite do evento acessível, com descrição das imagens contidas em e-flyers.
Todo esse trabalho passa despercebido porque acontece muito naturalmente na hora da apresentação, mas requer muito tempo de preparo.
A narração é sempre presencial, ao vivo, pois pode haver um improviso.No caso de roteiros para filmes, como não há cenas improvisadas, podem ser gravados e o roteiro recebido por fones de tradução simultânea ou aplicativos.
Só para você ter uma ideia: para fazermos um filme de 2 horas, são necessárias aproximadamente 40 horas.
Assistimos várias vezes o filme, damos pausas, voltamos, corrigimos, quebramos a cabeça para encaixar o roteiro acessível nas pausas das falas. A sobreposição às falas só acontece em casos extremos.
Pela minha experiência profissional, a maior dificuldade são os espetáculos de dança. Por quê? Porque não tem fala, apenas a música e eventualmente alguns sons. Tem um enredo, uma história, uma beleza, um encantamento suspenso na imaginação de quem ouve que pode ou não coincidir com o tempo dos movimentos.
A ação dos corpos no espaço que ele ocupa tem que ser traduzida.
Não basta usar termos como vira, gira, roda, salta, você tem que pesquisar muito sobre o que o coreógrafo quis transmitir.
Por isso, nessa situação, um consultor bailarino é imprescindível.
Pelo segundo ano consecutivo, o blog “As Meninas Dos Olhos” fez a audiodescrição do carnaval paulistano, até o momento, o nosso maior desafio! Missão dada é missão cumprida.
E você? Está pronto para uma missão?
Vamos começar pelo básico?
Nas redes sociais: postou foto ou imagem? O que você vê? Simples assim: descreva para quem não vê.
O computador e o celular fazem parte do nosso dia a dia, e mais ainda, como um facilitador das pessoas com deficiência visual.
A acessibilidade digital é feita por meio de dispositivos, como hardwares e softwares de voz.
Acontece que o leitor de voz utilizado pelos cegos, Jaws, Dosvox, NVDA e outros, não leem imagens, então, se tiver algum conteúdo escrito inserido dentro de uma imagem, o cego não terá acesso, assim como fotos e qualquer outro tipo de imagem.
Procure fazer uma breve descrição, traduza o que acontece na cena.
O Facebook já utiliza de inteligência artificial para descrições, mas ainda são muito básicas.
Descrevendo as suas imagens, você demonstra boa vontade e respeito!
Tudo é questão de hábito, com o tempo, o ato de descrever imagens torna-se algo natural.
Na página “Iris Cor de Mel”, você encontra muitos exemplos de descrições, é só passar por lá e começar: https://www.facebook.com/AsMeninasdosOlhos?ref=br_rs.
Pequenas dicas para tornar as suas apresentações mais acessíveis visualmente:
- Antes de iniciar a palestra, apresente-se ao microfone e fora do microfone. Assim, o público cego saberá onde estão localizadas as caixas de som;
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Se o palestrante sabe que o evento terá audiodescrição, disponibilize o material antes para o audiodescritor;
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Outro detalhe importante é dar uma pequena pausa entre um slide e outro para que o audiodescritor tenha tempo de descrever as imagens;
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Se não tiver o recurso audiodescrição, o próprio palestrante pode descrever as imagens de maneira simples:
O slide cujo título é… É ilustrado por… No slide, uma foto de… No slide, o gráfico mostra os resultados de…
Um grande abraço acessível!
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