Minha razão — Relacionamento abusivo
Talvez eu devesse começar pelos relacionamentos abusivos. O primeiro aconteceu quando eu tinha 14 anos, o que me levou a ter depressão e anorexia. Ele era legal, mais velho, estiloso, excessivamente ciumento e me culpava por tudo. Gritava comigo, até mesmo quando comentei que contei para os meus pais o fato de ter perdido a virgindade, ele gritou mais uma vez, me xingou e fez mais um de seus muitos jogos emocionais. O segundo, eu já era mais velha, aconteceu enquanto eu morria de amores e me esforçava para cuidar do nosso relacionamento, mas ele me olhava com desprezo e me culpava por ser “pessimista” enquanto estava enfrentando, mais uma vez, a depressão por não conseguir emprego e por estar infeliz com as poucas opções que tinha.
Minha razão — Emprego
Relacionamento desgastado. Morando sozinha em outro país. 200 euros na conta e ter que fazer isso durar pelos próximos sei lá quantos meses. Sem perspectiva de emprego. Sem coragem de pedir ajuda para a família. Enfrentando sentimentos de fracasso, impotência e choque de realidade, afinal, a menina privilegiada finalmente estava vivendo a realidade de muitos: imigrante e passando fome para economizar, sem ter a certeza do sustento do próximo mês. Eu me odiava. Eu me sentia incapaz e burra. Nos momentos de desespero em que eu chorava e gemia alto na cama, perguntando a Deus o porquê aquilo estava acontecendo comigo, eu simplesmente me batia forte no rosto, no corpo ou em qualquer lugar que fosse me fazer sentir uma dor mais forte do que aquela que estava sentindo em meu coração.
Talvez essas não te pareçam razões suficientes, mas aí chegamos ao ponto do que se trata a depressão e o desejo de suicídio: não estamos falando sobre a sua opinião ou interpretação dos fatos, estamos falando da dor do outro, aquela que é invisível e incompreensível aos seus olhos.
O porquê de querer e nunca ter tentado
Duas coisas sempre seguraram as minhas ações:
Uma vida sem os meus pais seria a morte para mim. E eu sei que uma vida sem mim seria a mesma coisa para eles. Eu simplesmente não desejo a dor de perder alguém para ninguém. E a minha mãe sempre me ensinou: “Não faça para os outros o que não gostaria que fizessem com você”.
Minha reflexão
Conheça-a na conclusão desse texto:
A verdade é uma só: ninguém sabe qual é a profundidade da sua dor, o quanto você se machuca pelas ações alheias, o quanto viver em sociedade exige de você. E o fato é que muitas pessoas não vão se importar, ou pior, vão rir ou incentivar a sua derrota. Contudo quanto mais pessoas espalharem a “escuridão”, maior deverá ser a sua força e luz interior.
Recentemente, eu perdi uma amiga para o suicídio. Não sei quais eram as suas dores e o que a motivou, mas sinceramente isso não importa: ela foi só mais uma pessoa que estava sofrendo e que ninguém enxergou… Ou não quis enxergar.
Nós passamos muito tempo julgando os outros, opinando sobre a vida alheia, mas por dentro todos nós nos cobramos demais e tentamos matar a nossa confiança e autoestima a cada pensamento ruim que cultivamos. Mas eu acho que está na hora de mudar. Talvez seja a hora de espalhar o bem. Talvez seja a hora de elogiar mais e criticar menos. Talvez seja a hora de cuidarmos uns dos outros, porque todos nós, muitas vezes, nos matamos aos poucos. E, para você que, assim como eu, já pensou em tirar a própria vida, eu te proponho a minha constante reflexão:
Você também pode gostar de outro texto da autora: Ser mulher