Hoje pode ser a última vez que você verá alguém nessa vida: pode ser o motorista de ônibus, pode ser sua mãe…
Essa é a realidade. É até difícil escrever e pensar sobre isso. As palavras vão sendo escritas apesar de uma grande negação do ego e muitos muros internos elevados contra a percepção real sobre a efemeridade das coisas, das relações e das pessoas.
Nunca falamos sobre isso abertamente. Às vezes, a gente pensa “será que todo mundo pensa sobre isso”. E é essa pergunta que eu quero te fazer: quantas vezes por dia você percebe que pode morrer a qualquer momento? Ou alguém próximo?
Essa vida de viajar, morar longe e ficar em retiros me fez viver isso com intensidade. Nas minhas primeiras viagens, era o medo de nunca mais ver a minha avó. Medo de que, quando eu voltasse, ela não estivesse mais aqui na Terra. Mas e se eu ficasse com esse medo me dizendo o que fazer? Eu nunca teria ido viajar. E todas as vezes que fui, um dia antes de viajar, eu ia na casa dela e pedia a bênção. Que sempre tive. Ela me libertou.
E eu estive ao lado dela quando ela fez a passagem. Eu também tinha medo de não poder estar no seu velório. E eu estive, porque tudo acontece no momento certo, como deve ser.
Mas mesmo morando juntos e vendo em todos os dias, as pessoas podem nos deixar. Inesperadamente até… Quando amigos, irmãos de amigos ou cunhadas deixam o corpo com menos de 30 anos, algumas vezes sem explicação racional. E é assim. A gente fica pensando na última vez que se viu. Lembrando as últimas coisas que falamos e se, no meu contato com ela naquela noite antes de morrer, ela guardou uma boa lembrança, se pudemos trocar boas energias.
E se eu pensar que posso morrer a qualquer momento, assim como todo mundo, então, vou entrar em pânico? Não! Daí a gente começa a prezar mais pela vida e pelas relações. Se eu sei que, na realidade, pode ser hoje o último dia que vou ver meu marido, eu vou procurar sempre ter boas lembranças com ele, cultivar o tempo juntos com bons sentimentos, porque é isso que sempre vou pensar depois. E depois pode ser tarde demais.
Eu não sou mais defensora da filosofia “carpe diem” de jeito inofensivo. Eu não acho que devo ficar buscando satisfazer todos os meus desejos porque a vida é curta. Bem, por isso mesmo, e por não ter controle sobre quanto tempo vai durar, é que procuro aproveitar com qualidade, com presença. Aqui e agora! É cultivar tempo de vida. É ter consciência e viver com a verdade. Se isso norteia a forma como se relaciona com tudo no mundo.
Para se ter essa felicidade e aceitação, precisa de disciplina, de prática, de ajuda e de trabalho. É simples, difícil, estamos aprendendo.
Você também pode gostar de outros artigos da autora: Viagem e autoconhecimento