Na maior parte das vezes, a prática do Yoga é um excelente retrato do que se vivencia no cotidiano de nossas vidas. Quando resolvemos nos dedicar a uma prática, há, na certa, um entusiasmo inicial devido às novidades que essa prática oferece, como a nova perspectiva de seu próprio ser por meio da consciência corporal, que se amplia desde a percepção do grau de flexibilidade do nosso corpo até a descoberta de nossa rigidez.
Na prática do Yoga, há a oportunidade de voltar a respirar por completo, como fazíamos quando ainda bebês, e essa respiração possibilita uma amplitude do ser por inteiro, sendo o suporte das posições, dos asanas, com os quais se torna possível “aguentar só mais um pouco”.
Enfrentar medos também faz parte do processo, medos transformados em nós musculares, dificuldades para se alongar, incapacidade de fazer posturas que, para o colega do lado, são “tão fáceis”, descoberta de pequenas imperfeições e, ao mesmo tempo, a constatação de que a perfeição se constitui de uma junção de tentativas, desistências e recomeços.
Mas a prática do Yoga não é sempre igual e linear, pois haverá momentos em que a vontade é de parar, não se quer mais continuar. Nesse estágio, inventamos desculpas para não ir às aulas ou praticar em casa, pois o processo de silêncio meditativo que o Yoga oferece pode, em certas situações, amedrontar mais do que o corre-corre do dia a dia, pois existe no ser humano um medo imenso de sair da nossa zona de conforto, de encarar o novo.
Dores das mais diversas surgem, como nos braços, nas articulações, na coluna e nos pés, e essas dores vão mudando de lugar estranhamente, parecendo um teste, uma provocação, um ciclo, tentando mostrar que a vida não é fácil, mas que está em suas mãos a escolha de se entregar às posturas e aprender a respirar conscientemente ou fugir delas e voltar a não pensar sobre essa respiração, ou seja, viver sem “sentir” a vida que circula o tempo todo dentro de si.
Geralmente, ao estar no tapete, o praticante de Yoga encontra-se consigo e pode observar sem pressa as suas mais secretas dificuldades, encará-las, conversar com elas para entendê-las e, assim, transformá-las em aprendizado. Quando não se resiste mais e se faz da prática um hábito, percebe-se que o “aguente mais um pouco” passa a ser natural em todos os momentos da vida. Dessa forma, fica natural aguentar as dores do mundo, comuns a todos os seres humanos, com um olhar mais doce e com a certeza de que tudo flui, de que tudo é um ciclo, assim como o “Inspire, expire… Inspire… Expire…” que se ouve lá longe, de uma voz externa a você, na figura de um professor, ou mesmo uma voz interna, na figura da própria divindade, a acalentar e a tornar possível, durante o relaxamento final, o ápice da prática de Yoga, que é o encontro do Criador com a criatura.
Dar a si mesmo o presente de estar sobre um tapete de yoga por alguns minutinhos, todos os dias, é uma forma mais fácil de “aguentar só mais um pouco” o tanto que for preciso.
Om!
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