Boa parte dos conhecimentos que adquiri foi por meio dos livros, mas uma grande parcela foi contemplando…
Assuntos profundos necessitam disso. E a Mãe Natureza é uma ótima professora.
Certa vez, fiquei por um período observando um casal de canarinhos que começou a fazer um ninho na viga de madeira da varanda. Eu sei que o macho é aquele que tem a cabeça mais amarelinha, mas mesmo sem essa informação, não seria difícil identificar a fêmea. Ela piava alto e, frenética, saltitava de um lado para o outro, o macho apenas “escutava”, depois saia e voltava com gravetos no biquinho.
Assim, construíram o seu ninho. Por um período, eu via apenas ele, a fêmea frenética não mais, estava silenciosa e resguardada no seu ninho…
Passado um tempo, percebi um certo movimento. Ora ele saia, ora ela saia para buscar comida, mas sempre alguém ficava a cuidar dos famintos e frágeis filhotes que permaneciam com os biquinhos abertos. Depois desse empenho todo, os pais zelosos se distanciavam e ficavam na retaguarda. Os filhotes já haviam sido alimentados, estavam crescidos e empenados, precisavam aprender a voar, porque essa é a natureza deles…
Os sábios pais aves nunca deixam passar do ponto, o momento exato de “empurrar” os seus filhotes dos ninhos.
Agora, vamos falar de rio…
Os rios, por mais extensos e profundos que sejam, surgem de pequenas nascentes. São tão pequenos quando brotam do chão ou das rochas que parecem até choramingar.
Vão encorpando e ganhando proporções. Para se tornar rio, precisam das margens.
Assim são os nossos filhos: nascem pequenos e, até se tornarem encorpados, precisam ser margeados por nós (pais).
As margens dos rios andam pareadas, lado a lado. No nosso caso, os pais deveriam fazer o mesmo, um não poderia interferir no espaço do outro e, muito menos, abandonar o seu posto, mas esse é assunto para outro momento.
Mas atenção! A margem não segura, ela apenas norteia para onde o rio deverá seguir e, assim, o rio segue o seu fluxo.
Entendendo o macrossistema fica bem mais simples de entender o microssistema.
É crucial alimentar os nossos filhos, até o momento onde eles sejam capazes de buscar o seu próprio alimento. As margens darão a noção exata do que comer, quanto comer, onde comer e o porquê comer.
Mas tentar ensinar isso a eles depois que começam a ficar barbados ou fazer barreiras de contenção é muito mais trabalhoso, desgastante e pouco eficaz.
Mãe, pai ou responsável, vocês não devem entregar um pacote de bolachas recheadas nas pequenas mãos do seu filho de 5 anos porque ele está fazendo birra. Vamos destrinchar a parte técnica do exemplo:
Primeira “margem” – Quantidade: A criança com um pacote de bolachas nas mãos vai comer até se empanturrar. Ainda mais se estiver na frente da TV. O cérebro envia mensagens que é para parar de comer, mas a criança não assimila o comando, porque está entretida demais com o desenho, até que em um dia o cérebro não envia mais mensagem alguma. Lugar de comer é na mesa. Em situações esporádicas, cabe uma pipoca de panela (não de micro-ondas) assistindo um filme com a família no final de semana. Somos nós que determinamos as quantidades até um certo momento da vida da criança. Nesse caso das bolachas, o correto seria 3 ou 4 unidades, não o pacote inteiro.
Segunda “margem” – Qualidade: A criança tende a comer o que ela vê com frequência. Se ela tem acesso ao pacote de bolachas no armário, na altura que ela alcança, e se ela já consegue abrir o pacote sozinha, na hora da fome, a bolacha cai como uma luva. Crianças ainda não têm senso crítico formado, não sabem discernir o certo do errado, pois ainda estão em formação. Então, a criança quer resolver o seu problema da fome e, nesse momento, ela avista o abacaxi adornando a fruteira em cima da mesa ou balcão. Ela não alcança o abacaxi e muito menos consegue descascá-lo, e eu escuto: “Ah, fruta perde aqui em casa, não gosta de nada!”, mas eu sugiro que esse mesmo abacaxi deva estar maduro, descascado, fatiado e, de preferência, geladinho, ao alcance da criança.
Dessa forma, eu realmente acredito que a criança tenha recursos para “aprender” a gostar.
Terceira “margem” – Harmonia: Bolachas recheadas são alimentos industrializados e contêm grandes teores de açúcares, sódio e gorduras “ruins”. Que ao mesmo tempo gruda nos dentes, ocasionado em cáries, e também gruda nas paredes internas dos vasos, aumentando consideravelmente os níveis lipídicos no sangue (colesterol e triglicerídeos). Portanto deveriam ser consumidos em ocasiões bem esporádicas, não à vontade.
Quarta “margem” – Adequação: Somos nós que apresentamos os alimentos para as crianças e não ao contrário. É aquilo que as crianças nos veem comendo desde bebês que elas comerão ao longo da vida. Hábitos e preferências, cada família preserva a sua. Mas que fique claro: uma coisa é encher barriga e outra bem diferente é nutrir um organismo.
Poderia ficar aqui citando pelo menos mais 5 margens, mas acho que já me fiz compreendida e já apliquei as 4 Leis da Alimentação. Um método antigo, porém muito atual e eficaz, principalmente quando se trata de adquirir uma alimentação mais balanceada e saudável.
E também não é preciso muitos estudos e pesquisas para constatar o que de fato se aplica nas leis da natureza, todos os dias, basta parar, contemplar e, assim, aprender!
Aquele ditado antigo da época da vovó é pura verdade e sabedoria: “É de pequeno que se torce o pepino!”.
E é de pequeno que se muda o curso de um rio.
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