Ao contrário do que se pode imaginar, incesto emocional não é propriamente uma situação relacionada à sexualidade, porém até pode ter implicações no desenvolvimento dessa área, podendo afetar a todos os envolvidos nessa trama.
Incesto emocional é uma maneira disfuncional de amar que ocorre em muitas famílias quando, por exemplo, um pai exacerba o seu relacionamento com a filha de tal modo, que ela passa a funcionar como se fosse sua esposa. Isso pode ocorrer na falta efetiva da mãe no ambiente familiar, mas não só, em muitas famílias, o genitor pode escolher a sua criança de ouro projetando nela a sua mulher ideal.
Do mesmo modo que em outras situações existe espaço para que filho homem substitua o lugar do pai exercendo as suas funções de autoridade, ditando regras a serem seguidas e por aí vai.
Esse tipo de comportamento afeta filhos de ambos os sexos sendo que um dos temas mais discutidos para que este funcionamento ocorra é a falta de limites dado por ambos os pais, a desconexão do casal em si, a desconexão para com os filhos e uma vida automatizada mais voltada para fora do que para dentro.
Dentro desse viés, muitos pais acabam sendo permissivos demais, permitindo que os filhos durmam entre o casal, muito além da medida e num contexto que muitas vezes ativa ainda mais a desconexão da dupla promovendo outros tipos de conexões psicológicas não saudáveis.
Em outras situações, quando ocorre um divorcio, pela dificuldade de lidar com a família fragmentada, alguns genitores buscam refazer o imaginário da família ideal readaptando um filho para função de marido, pai ou esposa, mãe.
Quanto menor a idade, mais facilmente o mecanismo da síndrome do incesto emocional será instalada. Em determinados casos, um dos pais projeta em num filho a expectativa de que ele possa ser o marido ou a esposa perfeita que não tiveram.
O problema a ser visto é que crianças e adolescentes têm necessidades emocionais relacionadas às suas idades e o peso destas demandas costumam ter consequências devastadoras na futura vida emocional e afetiva destes filhos.
E mesmo quando ainda são adolescentes, não poucas vezes recebo em meu consultório jovens em estados depressivos severos, com perda de interesse pela vida, pelos estudos e por tudo o que poderiam auxilia-los em seus rumos de vida adulta independente. Perdem a esperança de serem eles mesmos pela árdua missão que têm de substituir os pais.
Outra forma de incesto emocional ocorre também quando, invasivamente, os pais entram e saem da intimidade física dos filhos exercendo seu poder de autoridade sobre eles, não respeitando seus momentos necessários de privacidade, por exemplo, entrando e saindo quando bem quiserem de seus quartos e banheiros.
Ainda exercendo seu suposto poder de autoridade, mesmo quando os filhos já estão na adolescência, os envolvem com carícias, permitindo e os convidando para dormirem juntos, tudo isso sem o sexo propriamente dito.
Ações que podem confundir filhos numa incomoda dúvida secreta, aterrorizante e impensável sobre a intencionalidade dos próprios pais e de si mesmos.
Muitos filhos, por conta de uma lealdade familiar não ousam contar a si mesmos o que esta ocorrendo e com isso vão se desenvolvendo mediante aos danos emocionais provocados por esta forma de abuso, outros despertam percebendo que existe algo de muito errado nessas relações e tentam arduamente clamar pela legitimidade da própria identidade.
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Em alguns casos, diante dos questionamentos e das tentativas de imporem limites, vários desses pais manipulam a situação inserindo culpas, acusando os filhos de ingratos e rejeitadores do amor por eles oferecido.
E como uma das funções dos pais é a de construir nos filhos o principio da realidade objetiva, o discernimento sobre o que é certo e sobre o que é errado fica bastante confuso, ainda que a verdade dos fatos seja uma evidência.
Fazer um processo terapêutico competente nessas ocasiões faz toda a diferença para que o resgate de recursos internos e a lucidez sejam ativados.
Quanto mais despertos, melhor!