Naquela mesma semana eu tinha tido um sonho, não sou muito de ter sonhos onde a lição é clara, mas neste um palestrante me dizia: “Você tem que perguntar ‘por que?’ três vezes, só aí você vai achar a resposta. Às vezes, a própria terceira pergunta é a resposta.”.
Ao chegar em casa, resolvi fazer o exercício:
– “Por que eu continuo atraindo gente que ri do meu trabalho?”
– Porque eu mesma não me levo a sério.
– “Por que eu não me levo a sério?”
– Porque, apesar de todo o feedback que recebo sobre o meu trabalho, tem algum lugar lá no fundo que acha que sou uma farsa.
– “Por que acho que sou uma farsa?”
– Porque, por mais que eu faça, nunca acho que é o suficiente: não medito o suficiente, não estudo o suficiente, não purifico o meu canal o suficiente.
Ou seja, aquele homem só estava espelhando o que estava dentro de mim mesma. Os pensamentos de dúvida que eu tenho sobre mim mesma, como se não bastassem ocupar a minha mente, estavam agora materializados nas vozes daqueles dois homens.
Apesar de ter trazido a situação para mim e ter feito um questionamento interno, uma coisa ainda estava me incomodando: embora tenham me mostrado a minha sombra, o quanto aqueles dois homens estavam isentos de responsabilidade?
Joguei esta pergunta em uma rede social e recebi vários conselhos, um deles muito valioso: que eu considerasse estas pessoas única e exclusivamente como uma manifestação do meu subconsciente para me mostrar algo que preciso trabalhar em mim.
Essa tarefa não é fácil… Uma das razões é que eu não vejo essa minha sombra personalizada em uma mulher, por exemplo. Com exceção de uma única vez, que uma mulher questionou como eu exercia a profissão de coach sem ter um diploma de psicóloga, fato é que eu recebo esse tipo de comentários vindo de homens.
E uma arma que tem sido bastante importante nesse trabalho é ter me educado sobre quatro maneiras que os homens têm de se comunicar, muitas vezes, sem se aperceberem disso:
- Mansplaining: união das palavras “man” (homem) + “explaining” (explicar), quando um homem explica didaticamente uma coisa óbvia para uma mulher, como se ela fosse incapaz de entender ou ignorando o fato de que ela já sabe (como dirigir, por exemplo);
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Manterrupting: união das palavras “man” (homem) + “interrupting” (interromper), quando um homem interrompe uma mulher porque acha que o que ele tem para falar é muito mais relevante do que o que ela está falando (ou talvez só porque ele acha que pode);
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Bropriating: união das palavras “bro” (mano) + “appropriating” (apropriar), quando um homem se apropria da ideia de uma mulher;
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Gaslighting: expressão tirada de um filme com o mesmo nome, quando um homem manipula uma mulher psicologicamente de tal maneira que ela começa a duvidar de sua sanidade mental. Não, isso não acontece só em filmes! Quando um homem diz uma coisa e depois nega que disse, quando te chama de louca, etc… Tudo está dentro desse pacote!
O que faço agora, quando acho que estou passando por alguma dessas coisas, é perguntar para a pessoa: “Você sabe o que é manterrupting?”, e se ela não sabe, explico. Normalmente o que acontece é que a pessoa tem uma tomada de consciência e é obrigada a olhar para aquilo, para o quanto ela usa aquilo. E fica mais impessoal do que dizer: “Você me interrompe toda hora!”. Então, eu a deixo lidando com a sombra dela e vou lidar com a minha.
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