Por outro lado, é importante frisar que cada pessoa tem um jeito próprio de sentir dor. Ou seja, a dor não é democrática, é a ditadura do físico sobre o psíquico. Ou seria o contrário? Por outro lado, a dor física é passageira, pontual. Tem início e um fim. A dor psíquica é múltipla. Não tem uma causa específica. Por isso que não tem fim. Até depois da morte, ela continua absoluta. Aliás, é no pós-morte que a dor psíquica costuma se manifestar com força total.
Como forma democrática, a dor pode ser física, emocional, moral ou até mesmo espiritual, mas a dor tem vida própria e características peculiares. Ela se manifesta em cada ser vivo de forma diferente e cada pessoa a sente de um jeito único.
Por isso que se diz que a dor é irmã gêmea da morte. Primeiro vem a dor, depois a morte. Ou seria o contrário? Quando uma pessoa está bem e morre de acidente de carro ou é assassinada, quem vem primeiro: a morte ou a dor? Ou será que existe morte sem dor?
A morte pode ser o esquecimento dos amigos. O fim de um romance. O fim das férias. Pode ser o fim de todas as sensações. De forma que, morre-se mais de uma vez na vida, morre-se em todas as vezes que não fazemos aquilo que gostamos.
Poucas situações são tão dignas de consideração quanto a do amado que vive à espera da amada. Esse tempo é formado por momentos de angústia, sofrimento e dor, mas de muita esperança. Esperança de que a amada seja a cura para todo o sofrimento vivido. Para o amante, a amada possui a capacidade inenarrável de cura, é bálsamo. Sem a amada, o amante perde-se na solidão existencial.
Se não for correspondido, este pobre coitado enfrenta a funesta perspectiva de um número indeterminado de anos de solidão, que historicamente, muitas vezes, termina em loucura, a exemplo de Amaranta, personagem principal de “Cem Anos de Solidão”, do escritor colombiano Gabriel García Márquez.
Na cabeça de quem ama e não é correspondido, o sofrimento é muito maior porque a possibilidade de cura é o outro, mas este outro lhe rejeita. Então, a única coisa que resta fazer é tirar a própria vida. Sim, em muitos casos, o suicídio é o meio mais comum que os amados encontram para dar cabo ao amor não correspondido.
Uma vez que o instinto mais arraigado do ser humano é o da sociabilidade, como explicar para a pessoa que ama e não é correspondida a questão da rejeição? Ser rejeitado seria um estado de negação insuportável, capaz de justificar o pior de todos os desatinos: o suicídio. Atualmente comete-se muito mais suicídio do que morrem homens em guerras.
Por outro lado, o amor verdadeiro é capaz de suportar tudo, até mesmo a própria rejeição. Este amor move o homem a viver em companhia dos seus semelhantes sem esperar nada em troca. Abrem-se novas perspectivas de vida. Não apenas por uma questão de melhor qualidade de vida, mas por uma necessidade fundamental de complementação por meio do convívio mútuo: a solidariedade.
Dessa forma, é no convívio com o outro que revelamos quem somos. Nessa revelação, o ser humano constrói o seu ser, o seu caráter e a sua vida. Assim, pelo fato do homem não ser um robô, do bom relacionamento dos seres humanos entre si, surge como correlato a amizade.
Em função desta, resultante de circunstâncias tão variadas quanto complexas, as pessoas se tornam capazes de agir desinteressadamente umas pelas outras, mesmo quando unidas, não por um fim sublime, mas por mera afinidade.
Sim, é a amizade que salva o homem da mesmice, da barbárie e ameniza a dor existencial, física, psicológica e espiritual. É a amizade que pode libertar os homens da escravidão do egoísmo. Somente a amizade pode trazer de volta a vontade de viver dos amantes, dos que sofrem todo tipo de opressão.
Enfim, não se pode esquecer que a amizade é uma coisa tão rara que a Bíblia chega a dizer que: “Quem encontrou um amigo encontrou um tesouro”. No entanto se você não tem nem se acha amigo de ninguém, não se desespere, não sofra e não desista de lutar, pois existe alguém olhando para você: o seu desejo de ser mais, de querer mais! Viva mais e sofra menos!
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