Autoconhecimento

Maternidade e Individualidade

Mulher branca caminhando na areia, em direção ao mar, segurando a mão de criança pequena.
Escrito por Ana Racy
Falar sobre o tema maternidade e individualidade pode dar a impressão de mexer em um vespeiro, porque os pensamentos sobre isso são bastante diversos. No entanto, buscarei colocar alguns pontos importantes sobre as duas coisas para que a vida tanto da mãe quanto da criança possa ser mais harmoniosa e saudável.

O dicionário online de português diz que maternidade “é o estado, a qualidade de ser mãe; é a ação de pôr uma criança no mundo”. O mesmo dicionário diz que individualidade “é a qualidade, caráter do que é individual, do que existe como indivíduo”. É a partir da prática de enxergar-se e de viver como um indivíduo que os equívocos podem acontecer. Vamos entender o que isso quer dizer.

Maternidade e Individualidade

É antiga a ideia de que a mulher só se realiza quando se torna mãe e isso deixou suas marcas nas crenças carregadas no inconsciente arcaico. E, por estarem lá registradas, têm sua influência na vida da mulher.
Da mesma forma que muitas mulheres desejam se tornar mães, outras não têm esse desejo e isso não define a mulher que sabe amar incondicionalmente ou não, que se realiza na vida ou não. Não podemos esquecer o fato de que algumas mulheres não podem ser mães e acreditar na plenitude da mulher apenas quando pode trazer ao mundo uma criança seria impingir um castigo eterno àquelas que não podem carregar em seu ventre um bebê. A maternidade é algo lindo, é a oportunidade de gerar um novo ser, de aprender a se doar, a negociar, a abrir mão do nosso lado egocêntrico em favor da necessidade do outro. Mas existem inúmeras formas de aprendermos isso em nosso dia a dia.

A maternidade é linda e também cansativa, mas por toda ideia já enraizada do sagrado da maternidade, parece que somente a parte do “ser linda” precisa se cumprir e a parte da realidade fica de lado. Isso faz com que muitas mulheres se sintam mal quando sentem falta de tempo para elas, para fazer as coisas que estavam acostumadas e que davam tanto prazer, sentem falta de um banho mais relaxante, de usar um perfume cheiroso, ao invés do perfume regurgitado. Eu já vi, li e ouvi isso inúmeras vezes. Isso sem falar no quanto as mulheres se cobram a perfeição, ou seja, precisam trabalhar, cuidar da casa, do filho, do marido, da comida e de tantos outros afazeres, e acabam com a ideia de fracasso porque não conseguem fazer isso.

Maternidade e Individualidade

Gostaria de deixar um recado para todas nós; “Mulheres: Relaxem!”. Nós só precisamos aprender a viver um dia de cada vez e lembrar que o aprendizado se faz em todas as ações do cotidiano. As tarefas já não são mais do homem ou da mulher, mas sim compartilhadas; o mundo está mudando, novos arquétipos estão se formando. Paciência é uma palavra muito importante na maternidade e, às vezes, resignação, porque depois que o bebê nasce não tem como devolvê-lo para a barriga ou esperar que a vida seja exatamente como era antes de ele existir. A vida muda e se ajusta a uma nova realidade e que pode ser prazerosa também. Nesse momento, entra a importância de nos enxergarmos como indivíduos. Individualidade é diferente de individualismo. Voltamos ao dicionário online de português para as definições de cada uma.

Individualidade “é aquele que existe como indivíduo” e individualista “é aquele que manifesta egoísmo”. Para o individualista é muito trabalhoso pensar em abrir mão das suas coisas para fazer alguma coisa para alguém. Porém, exercitar a individualidade é ter seu grupo de amigos e sair com eles, ter seus momentos de lazer e até com você mesmo e, ao mesmo tempo, saber atender a necessidade do outro pelo amor que sente e não por obrigação.

Ninguém nasce sabendo ser mãe e pai e espera-se que pais amem incondicionalmente, como se isso já estivesse pronto dentro de nós. Importante lembrar que somos seres em evolução constante e não seres prontos. Faremos coisas muito boas e outras nem tanto, mas todos aprenderão com isso.

Um bom exemplo para entender a importância de nos respeitarmos como indivíduos é pensarmos sobre irmãos gêmeos. Cada um quer ser visto como é e não confundido com o outro o tempo todo, eles querem usar roupas diferentes, gostam de matérias diferentes na escola, têm gosto musical distinto, enfim, cada um é um, sem ser individualista, mas desejando respeitar e ser respeitado como individualidade.

Para encerrar, gostaria de deixar um recadinho para as mães: a maternidade é linda, ensina a amar, a negociar, a se doar, mas não torna ninguém melhor do que ninguém. A maternidade pode ser vivida lado a lado com a individualidade e será muito mais saudável.

Maternidade e Individualidade

Existe uma frase que diz “maternidade é viver um mar de rosas”, mas há que se considerar os espinhos no caule representados pelo cansaço, pelas noites mal dormidas, pela impaciência, pelo não saber o que fazer e como lidar com aquele ser que está em suas mãos. É importante poder falar isso para que as pessoas reflitam e auxiliem, porque as críticas não vão ajudar. Trazer à realidade as dores e as delícias de ser mãe. Permitir-se ser mãe e mulher. Dessa forma, a vida seguirá mais leve e o respeito a maternidade e a individualidade se fará presente.


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Sobre o autor

Ana Racy

Psicanalista Clínica com especialização em Programação Neurolinguística, Métodos de Acesso Direto ao Inconsciente, Microexpressões faciais, Leitura Corporal e Detecção de Mentira. Tem mais de 30 anos de experiência acadêmica e coordenação em escolas de línguas e alunos particulares. Professora do curso “Psicologia do Relacionamento Humano” e participou do Seminário “O Amor é Contagioso” com Dr. Patch Adams.

E-mail: anatracy@terra.com.br