Por que a busca pelo ideal está nos destruindo?
Você quer um mundo melhor?
Quais são as grandes injustiças sociais que te incomodam? Quem você julga responsável por isso? Imagine por um instante com os olhos fechados, a imagem dessa injustiça que te abala. O que você sente enquanto imagina essa imagem?
Como está sua relação com sua mãe? Quais foram os últimos motivos de conflitos que você teve com seus familiares? Qual é a forma que você está demonstrando seu amor para aqueles que você convive?
Frequentemente, em nossa sociedade, existe o desejo por uma vida mais justa e amorosa, porém uma síndrome que se iniciou no século XVIII está assombrando as famílias brasileiras do século XXI, tornando o que era para ser uma busca por um mundo melhor em um fetiche por confusão: a síndrome do revolucionário.
A síndrome do revolucionário
Os ideais iluministas que surgiram na Europa do século XVIII marcaram o mundo com os novos valores que iriam influenciar todo o ocidente nos séculos seguintes.
Robespierre e seus aliados começaram um movimento de questionamento do estilo de vida da época, mais especificamente da existência e das regalias do clero e da nobreza francesa, que culminou na sangrenta revolução francesa.
As principais mudanças de pensamento por eles trazidas foram a popularização dos valores de igualdade e da liberdade, bases hoje do nosso sistema capitalista.
Além disso, os iluministas influenciaram líderes sociais em todo mundo, através do exemplo, exercidos durante a revolução francesa. Exemplo este que culminou na criação de um novo papel dentro da sociedade atual. Papel este que se fortalece sempre que existe insatisfação do povo com os seus governantes.
Os Revolucionários!
Analisaremos abaixo como pensa o revolucionário e disponibilizaremos maneiras de identificar se você, leitor, está sofrendo dessa síndrome.
O pensamento base do revolucionário é;
“O sistema está poluído e sujo, temos que mudá-lo”.
Internamente, o revolucionário está dizendo para si mesmo:
“Estou sujo e poluído, preciso me transformar”
O revolucionário tem um desejo no seu interior de destruir. Ao olhar para o sistema de uma perspectiva negativa, assumindo para si um papel de herói ou mártir, o revolucionário começa a destruir tudo aquilo que é julgado pelo mesmo como injusto ou errado.
Na cabeça do revolucionário, quem não pensa como ele pensa é um acomodado que não busca por mudança.
Porém, existe uma outra fora de buscar mudança.
Mas antes de olharmos para a cura, identificaremos juntos, caro leitor, se você sofre ou não dessa síndrome, afinal, só curamos aquelas síndromes que conhecemos e aceitamos que temos, correto?
Diagnóstico
Quais das 2 seguintes frases, você se identifica?
Os fins justificam os meios? Ou os meios justificam os fins?
Dependendo de sua resposta, é possível estimar como está sendo seu estilo de vida.
Quando acreditamos que os fins justificam os meios, na pratica, faremos qualquer coisa para atingir aquilo que acreditamos ser o ideal.
Exemplifico, se eu acredito que o ideal para a sociedade é igualdade, farei de tudo para provar para todo mundo que a igualdade é o caminho para uma sociedade justa.
A revolução cubana foi assim. Che e seus parceiros mataram pela liberdade dos cubanos perante os imperialistas.
A revolução francesa foi assim. Robespierre e seus parceiros guilhotinaram pelos ideais de liberdade e igualdade.
No século XXI, o revolucionário:
“A sociedade vive na Matrix”, acredita o revolucionário…
O revolucionário briga com o tio capitalista no almoço de família.
O detentor da síndrome do revolucionário discute no Facebook com todos aqueles que parecem não se importar com a fome na África ou o preconceito que sofrem os homossexuais no Brasil.
Se você, então, acredita que os seus pontos de vista para um mundo melhor (idealismo) valem mais que os seus comportamentos no presente, sinto lhe informar mais você está sofrendo da síndrome do revolucionário.
Se mais vale para você, discutir e brigar com um familiar para provar seu ponto de vista “humanitário” do que viver com respeito e harmonia com os mesmos, você provavelmente carrega o vírus.
“O revolucionário no seu mais íntimo, está procurando a si mesmo…´”
Entretanto, se você acredita que os fins não justificam os meios, você acredita que a mudança está no presente. Está na maneira com que nos relacionamos com o próximo.
Se você acredita que os valores e os princípios aplicados na prática valem mais que um ideal, se você tem consciência que você não tem capacidade de saber o que é o ideal para uma sociedade, que o presente vivido com integridade vale mais que um futuro prometido, se você busca manter seus valores independentemente da situação que enfrenta, se você age e não apenas reage a seu meio, se você se sente útil as pessoas, você acredita que a mudança é gradual e começa de dentro para fora. Você está se curando da síndrome do revolucionário.
A importância da síndrome do revolucionário.
“Tudo que vivenciamos tem o seu valor”.
Quando incluímos em nosso coração as nossas doenças, aceitando-as como parte importante do nosso processo dentro da vida terrena, abrimos nossa percepção para o valor que elas nos proporcionam.
A síndrome do revolucionário gera um impulso para servimos as pessoas ao invés de apenas trabalhar por dinheiro. Além disso, proporciona-nos uma busca por nós mesmos e por encontrarmos o nosso lugar dentro do sistema.
Só mudamos aquilo que aceitamos!
O modelo mercantilista-capitalista no qual estamos inseridos é maravilhoso. Eu, do fundo do meu coração, reverencio-o e agradeço por ser o nosso sistema regente.
Sem ele, não estaria aqui agora de frente a meu computador compartilhando meus pensamentos com você que pode estar em outro continente.
Sem ele, provavelmente 99% dos leitores frequentadores do EuSemFronteiras não estariam preocupados em se conhecer, pois ainda estariam lutando diariamente pela sobrevivência neste planeta. Nem mesmo o EuSemFronteiras existiria.
Imagine um filósofo grego vivendo nos dias de hoje. Ele se espantaria com o número de pessoas que está buscando autoconhecimento. Essa escalabilidade só é possível graças ao nosso sistema atual.
“O que excluímos, se apodera de nós e o que aceitamos nos liberta” Carl Jung.
Quando não aceito o sistema vigente do momento, coloco-me como superior em posição de julgar algo muito maior que eu. Um dos comportamentos típicos do revolucionário.
Quando faço isso, me coloco como parte externa do sistema a qual analiso, criando assim, um movimento de autoexclusão do mesmo.
Entretanto, ao aceitar e reconhecer o valor do sistema atual, libertamo-nos para viver em harmonia com nós mesmos. Afinal, o sistema em uma perspectiva profunda, representa uma parte nossa.
Ao entrar no sistema e encontrar o seu lugar dentro do sistema, o ex-revolucionário pode servir a uma causa real e, ao mesmo tempo, estar em harmonia consigo e com o próximo.
Portanto, quando conseguimos aceitar o sistema capitalista da maneira como ele é com todas suas imperfeições e falhas, podemos encontrar nosso lugar dentro dele, a premissa base para viver em harmonia.
A Cura- Aceitando o Pai para aceitar o sistema.
Segundo o Psicoterapeuta Bert Hellinger, pai das constelações familiares, só podemos viver em paz e harmonia conosco e com os outros quando aceitarmos o PAI e a MÃE tal como eles são.
O mundo ao qual vivemos hoje é representado pelo nosso pai. A maneira que lidamos com o pai é a maneira que lidamos com o sistema.
A mãe representa a vida. Ela nos carrega por 9 meses e nos alimenta. Até que começamos a ter consciência de nós mesmos, nossa vida é a nossa mãe.
Em um certo momento da vida, existe um movimento da criança querer ir da mãe para o pai. Esse é movimento simbólico que representa a criança deixando o conforto do lar para conhecer o mundo.
Nas constelações familiares, é possível identificar se esse movimento foi interrompido na infância e continuar o movimento para que a criança consiga chegar até o pai.
Quem não reconhece e aceita o pai tal como ele é, nunca conseguirá respeitar e reconhecer o sistema vigente.
O revolucionário sofre geralmente de um relacionamento péssimo com o pai. Internamente, ainda existe um desejo de superar o pai que é externalizado pelo desejo de transformar o sistema.
O evolucionário transforma o sistema de dentro
Aqueles que transformam o sistema de maneira harmônica, sem “vender a alma para o diabo” estão dentro do sistema.
Assim que aceitamos o sistema e encontramos nosso lugar dentro do mesmo, temos força para cumprir nosso papel dentro do mesmo e colaborar para a sua evolução de maneira gradual e harmônica.
Toda mudança na natureza harmônica ocorre de maneira gradual
Portanto, aquilo que o revolucionário tanto deseja está acessível em menor grau para aqueles que estão dispostos a um olhar com mais humildade para a própria situação e a uma perspectiva de respeito aqueles que vieram antes.
Como diria o mestre Bert Hellinger “geralmente não queremos a solução, pois ela nos faz perder grande parte de nossa importância”.
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