Convivendo

Um balanço de 2018

Mulher sentada em uma mesinha escrevendo em um caderno.
Escrito por Márcia Leite

É … o ano passou, mais uma vez, numa velocidade implacável!

Parece-me que vivemos vários séculos em 365 dias, cansativos, conturbados, desgastantes, atribulados, regados de grandes emoções, positivas e negativas …

Revelações que nunca gostaríamos de ter… Muitas amizades desfeitas, famílias em pé de guerra… A nova postura da sociedade brasileira diante de seus problemas cotidianos, que a afetam direta ou indiretamente…

Sinceramente, o primeiro semestre não se apresentava assim tão complicado, as redes sociais estavam consideravelmente equilibradas, havia uma certa indignação no ar, mas nada que mostrasse que a segunda metade do ano se assemelharia a um ciclone (até porque o furação ainda está em formação).

Homem sentado em uma ponte e ao fundo há carros passando em uma avenida.

Eu, pessoalmente, entrei em uma fase de silêncio textual (risos), nem mesmo a agenda eu conseguia preencher… Escrever se tornou um fardo, algo doloroso, a expressão de sentimentos mal saía pela boca. E, sinceramente, ainda não me recuperei totalmente do clima negativo que baixou neste país…

Ainda temos muitas dúvidas sobre os próximos anos, nem sabemos quais as formas de liberdade teremos. Há muitas pessoas com a sensação de uma grande sangria se aproximando de nossas vidas, nossas famílias, nossos amigos, com muita dor e sofrimento.

Vivemos hoje em um país que segue seu caminho como um trem desgovernado, onde as ações em todos os setores são nebulosas.
O brasileiro comum tem se desdobrado para ter uma vida comum, com seus filhos na escola, com sua fonte de renda constante (garantida é uma palavra muito forte), com seus valores básicos preservados. Porém, muitas vezes, somos bombardeados com mais um escândalo, mais um crime contra nosso bolso, mais um ataque contra nossa vida, mais um ato condenável.

Antes, mantínhamos nossas esperanças nas conquistas do futebol, já que nossos outros “prêmios” estavam pautados no índice de criminalidade, no baixíssimo lugar no ranking da educação, na falta de moradia e trabalho digno para a população; hoje, os “7 a 1”, seguidos dos “3 a 0”, ainda nos doem fundo na alma, e os outros fatores seguem na mesma situação. De lá pra cá, parece-me que as coisas se desconjuntaram.

Homem olhando pela janela.

Conversando com alguns amigos, pensamos que a nação está passando por um expurgo muito forte, talvez eficaz, mas que não conseguimos, ainda, mensurar a sua extensão. Há mais manifestações racistas ou contrárias ao racismo nas conversas, nas mídias sociais, nas obras audiovisuais. Os movimentos relacionados à identificação de gênero também têm tomado forma. E os mais conservadores têm se sentido incomodados, ameaçados, impulsionados a reagir contra estes posicionamentos considerados “desrespeitosos e ousados”. E diversas pessoas já desistiram daqui e partiram para novas vidas e aventuras, em outras nações.

Está mais do que na hora de revisarmos nossos pensamentos e decidir se o que está aparecendo como caminho no futuro é convergente com aquilo que temos como norte em nossas vidas.

Afinal de contas, a sociedade em que queremos viver é de privilégios e regalias para poucos ou de justiça e igualdade para todos?

Ficamos contentes em ver que as famílias são capazes de sustentar honestamente suas vidas com o mínimo de conforto e dignidade ou preferimos sair às ruas e nos depararmos com multidões vivendo debaixo de viadutos, danificando suas estruturas e submetendo-se às intempéries e poluição lançada imperiosamente em seus órgãos vitais, expostos à violência e acidentes?

Falta empatia, solidariedade, ação positiva, sangue nos olhos…
Somos conhecidos como povo acolhedor, mas, no momento, a nossa verdadeira face individualista está sendo revelada pela nossa inércia na vida real e valentia nas redes sociais.

E, ao fim de 2018, renovamos as esperanças para tempos melhores, apesar dos pesares.

Que venha 2019, e 2020, e 20…


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Sobre o autor

Márcia Leite

Graduada em Farmácia e atualmente estudante da área de Humanas, mostro interesse em diversos temas. Incomodada com questões sociais e que mexem com a convivência e a saúde das pessoas.