Dia desses recebi mensagem de um inoportuno site que vende isso e aquilo, afirmando que eu “seria o mais feliz dos homens” se me cobrisse com os fiapos de nada sem sentido e valor, travestido em moda de ponta, que era o que me vendia. Alegava o patético site que nem eu sabia o que ele descobriu, navegando pelos espaços por onde passei no mundo virtual, quase sempre olhando só para saber o que tanto interessava às pessoas ditas normais e não me arrancava nem suspiro arrastado: meu perfil, segundo o mal-educado e insolente site, era de um descolado de vanguarda e eu PRECISAVA enfiar meu corpitcho naqueles panos cheios de nada que me cativasse a alma. E eu percebi ter sido esmiuçado por uns analistas de-não-sei-o-quê, aprisionados pelos parâmetros de um arrogante algoritmo. Detestei a invasão e tasquei o tal site naquele espaço das porcarias que podemos bloquear, antes que nos infestem a caixa de entrada, espaço que prefiro consagrar para os que me tocam o coração e fazem sorrir a alma.
Vida que segue, mesmo que nela saibamos ser mais perseguidos que seguidos e, sem saber, eu estava de olho no monte de frases e imagens e de músicas até bonitas algumas, que se nos é despejado pela volúpia das mídias, regurgitando tentações jamais vistas nem nos desertos dos relatos bíblicos: do prosaico “Feliz Natal” até uma douta explicação de um intelectual que sabe tudo sobre tudo, escorregando no quase blasfemo na sua vinculação do espírito do Natal à alma dos carentes por um dia apenas de piedade divina. Vi mais, nesse seguir da vida, já que me foram abertos olhos ainda virgens das contradições e absurdos humanos: vi um sujeito vociferando raivas contra o preconceito racista contido na alva pele e branca barba do desditoso Papai Noel. Nunca acreditei em Papai Noel, é verdade, mas nunca acreditei que cor de pele fosse a diferença para merecer o reencontro com doçuras que seguem mantendo infantis as crianças que ainda não se afogaram nos pixels e não se perderam nos gigabites das telinhas das engenhocas eletrônicas que um dia foram simples e úteis telefones.
O espírito do Natal não cabe em algoritmos. Ele não precisa ser delineado e muito menos definido em equações e resenhas estatísticas: uma criança pode muitíssimo bem defini-lo, basta que nela sejam colhidas as expressões que combinam alegrias, ofertas de abraços com começo mas sem preocupação com finais, encontro de faces em beijos lambuzados de ternuras e muita, mas MUITA MESMO gratidão pelo privilégio de ainda lembrar ser possível deixar-se conduzir pelas densas torrentes de amor sem preço.
Desejo ao (à) leitor(a) mais que um FELIZ NATAL! Desejo, ardentemente, que cada um(a) seja motivo de feliz natal todos os dias para aqueles a quem ame e em quem veja razões para ser imensamente grato(a)!
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