E podemos tanto! Podemos até repovoar a Terra com gerações e mais gerações de pessoas que desconheçam o medo, a insegurança, a desesperança e que não fomentem em si o ódio e as muitas raivas que são os ocupantes dos terrenos do desamor e do abafamento da compaixão.
Podemos, sim, e devemos, mas nos omitimos. E, uma vez por ano, fingimos compungida consciência do destrambelhamento existencial em cada dia que antecede essa vez por ano. Trocamos abraços e votos burocráticos, de olho nos comes e bebes e na expectativa de belos presentes, enquanto conhecidas trilhas musicais mexem com as escondidas e arredias emoções represadas e tome-lhe Bing Crosby cantando “White Christmas”, John Lennon com seu hino “So this is Christmas”, enquanto coros de crianças de cabelos encaracolados encantam corações com cuidadoso repertório de músicas sobre as divindades do Natal. Ficamos todos de coração mole e quase acreditando que, passadas as tais festas e curadas as diversas ressacas delas decorrentes, até a do cartão de crédito, estaremos em novas narrativas de nós mesmos, melhores, mais tolerantes, menos materialistas e muito mais abertos para os sussurros da atmosfera povoada por seres de luz e propósitos superiores.
Sendo Josés e Marias podendo tudo, nos quedamos diante da miopia de papéis e propósitos nessas bandas de cá da Existência, e não geramos os legados que a Vida tanto espera de nós, tão desejosa de se perpetuar e compartilhar as suas dádivas. Podendo tanto, nada fazemos e, melhor dizendo, fazemos um montão de besteiras, desde as cataclísmicas, como o assassínio ponto a ponto do planeta em que videmos, mero nada na indescritível imensidão do espaço, mas tudo o que temos, até envenenar o pombo que suja o nosso telhado e a fonte em que sorvemos a água vital. E, de besteira em besteira, não fecundamos, Josés e Marias que somos, as matrizes para a reconstrução diária de novo e melhor patamar da qualidade de vida emocional, espiritual e material: como um casal entediado, perdemos precioso tempo com indiferenças, desavenças, julgamentos cruéis, enquanto poderíamos melhor investi-lo em tornar melhor e mais humano todos os espaços à nossa volta.
Josés e Marias podem tudo, inclusive trazer muitos Jesus que não serão Cristos, porque jamais serão molestados e para sempre serão intocados como seres de renovação, habitando e inspirando os corações de todos em que puserem os olhos e tocarem com sua fala mansa, de paz, de harmonia, de descoberta de que todos somos um, do mesmo José e da mesma Maria, porém artífices do idioma em que se expressa a humanização do ser humano, vista esta como a célula que enfim desconhecerá dor, sofrimento e propiciará um novo tom de azul para a atmosfera, dessa vez o azul profundo em que a luz de todos os sóis vem calibrar o seu brilho.
E, para você, José ou Maria que se deixou trazer até aqui nesse texto, que lhe seja fértil a aventura de viver, que suas noites sejam repousos em berço de amor da imensa obra de construção durante o dia e que seu legado seja sempre o de um planeta bem cuidado, com paz e emoções alegres para seus habitantes e que, por eles, seu nome seja reverenciado em gratidão!
Você também pode gostar de outro artigo deste autor. Acesse: Corpo de verão ou verão do corpo?