Aos poucos, aprendemos como a vida é efêmera e quão pouco conseguimos controlá-la. Em 2017, quando mudei de vida, deixando um cargo executivo para morar abordo de um veleiro com objetivo de dar a volta ao mundo, sentia-me no controle da minha vida como nunca antes. Havia deixado de seguir as referências que me haviam sido apresentadas a vida toda e escolhido um caminho diferente. Este caminho era desafiador mas fazia com que eu me sentisse livre e realizada.
Pouco antes de embarcarmos para nosso primeiro destino, minha vó, que é uma pessoa muito religiosa e que já teve várias visões, me chamou desesperadamente para ir a sua casa pois havia tido uma delas. Chegando lá, ela me disse que a visão tinha sido com a Martina, minha filha pequena, que estava com um ano. Na visão, a Martina pedia ajuda à minha vó, e queria pegar na mão dela. Fiquei estremecida mas faltavam menos de 7 dias para embarcarmos. Eu disse à minha vó que iríamos tomar cuidado redobrado com ela. E assim desatamos as amarras e partimos.
Estivemos cinco meses abordo da nossa casa flutuante.
As crianças adoravam o novo ambiente. Mas uma coisa me perturbava. A Martina só queria ficar no meu colo e, se eu saísse, ela chorava muito. Eu começava a sentir um desespero interno me questionando o que poderia estar acontecendo com ela. Cerca de dez dias depois, ela foi diagnosticada com Tumor de Whilm’s, um tumor de Rim, que afeta principalmente crianças. Eu tinha uma filha com um ano e sete meses e que tinha câncer. De repente, toda aquela sensação de controle desapareceu, e a percepção de vulnerabilidade diante da vida que todos nós temos se tornou evidente para mim.
A partir deste momento, viver a vida ao máximo a cada minuto se tornou uma missão para mim. É como se, de repente, eu tivesse sentido na alma a nossa finitude. Assim, mesmo diante de todos os desafios que enfrentávamos, eu procurava dar o meu melhor mesmo diante de tanto sofrimento. Nossa vida mudou completamente. Em 48 horas, deixamos o barco no Caribe e voltamos para o Brasil. Começamos uma longa luta com a nossa pequena. Passamos por tudo, muitas sessões de quimioterapia, cirurgia para remover o rim, UTI e muitos momentos emocionalmente difíceis.
Foram quase dez meses de tratamento.
Dez meses que significaram pelo menos dez anos de aprendizado e desenvolvimento pessoal. Vi minha filha lutando como uma guerreira, sem perder sua luz e sua alegria de viver em nenhum momento. Ela me inspirava todos os dias para me manter em pé. E, se ela estava feliz, quem era eu para ter alguma tristeza? Passei a viver cada dia como se fosse o último. Vivia no presente me doando a cada momento que a vida desdobrava para mim, fosse ele difícil ou não. Passei a aceitar tudo o que eu recebia e assim sofria muito menos.
Passados 6 meses da alta dela, olho para atrás e entendo que este foi o pior momento da minha vida, mas ao qual tenho muita gratidão, pois foi através dele que minha percepção sobre a vida se expandiu. Foi realmente uma lição de vida. Hoje, a prioridade na minha vida é vivê-la da melhor maneira junto da minha filha e da minha família e a inspirar e ajudar pessoas a saírem do condicionamento automático e viverem suas vidas ao máximo. Porque não temos tempo a perder.
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