A profissão de coach me colocou no papel de observadora atenta dos relacionamentos, sejam eles conjugais, familiares, empresariais ou sociais.
Sabe o que mais me chama a atenção? A capacidade que alguns têm de eleger um algoz, sem perceber que vez ou outra somos nós o algoz uns dos outros.
Temos uma enorme capacidade de encontrar culpados para o vazio da nossa própria alma. Somos bons nisso. É muito prático transferir culpa quando vivenciamos ela dentro de nós. É mais fácil culpar do que admitir nossas falhas. Aprendemos a culpar o outro em lugar de perdoar.
Existe uma passagem bíblica de que gosto muito e que procuro reviver sempre que minha mente vira tribunal de inquisição, está no capítulo 8 de João, versículo 3 a 11:
“Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar em pé diante de todos e disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério. Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E o senhor, que diz?” Eles estavam usando essa pergunta como armadilha, a fim de terem uma base para acusá-lo. Mas Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo. Visto que continuavam a interrogá-lo, ele se levantou e lhes disse: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela”. Inclinou-se novamente e continuou escrevendo no chão. Os que o ouviram foram saindo, um de cada vez, começando com os mais velhos. Jesus ficou só, com a mulher em pé diante dele. Então Jesus pôs-se de pé e perguntou-lhe: “Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou?” “Ninguém, Senhor”, disse ela. Declarou Jesus: “Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado”.
O que essa passagem me diz é: somos todos semelhantes.
Muitas vezes, nosso algoz é espelho daquilo que somos ou fizemos. Ele vem muito mais para nos confrontar e dar oportunidade de mudarmos do que propriamente para nos condenar. A condenação é escolha de quem acusa, o perdão e a mudança são decisões unicamente de quem é acusado. É preciso, antes de tudo, perdoar a si mesmo, caso contrário seremos nós o nosso próprio algoz. E isso é o mais cruel, porque teremos que conviver com ele todos os dias.
Precisamos romper o ciclo vicioso da culpa. E isso só é possível se admitirmos que somos todos imperfeitos e passíveis de incontáveis escolhas e atitudes equivocadas. Erramos e erraremos inúmeras vezes na vida, e por um simples motivo: toda escolha tem consequências e renúncias.
Quando temos filhos, renunciamos noites de sono, vaidades, horas de lazer e até momentos de individualidade. Ao nos casarmos, renunciamos a “liberdade” de fazer o que bem quisermos, do jeito e na hora que desejarmos. Quando abrimos uma empresa, renunciamos decisões unilaterais, assumindo a responsabilidade de afetar vidas. Em todas essas escolhas teremos ganhos, que podem ser incríveis, se soubermos enxergá-los e dar valor a eles. Exemplos de alguns ganhos: com um filho vivemos um amor incomparável, temos um senso de proteção jamais visto antes, nossas ambições são potencializadas, visando elevar a segurança deles; no casamento temos com quem dividir nossos anseios, com quem conquistar realizações, namorar, falar besteiras e ser livres juntos; abrindo uma empresa, ganhamos força na execução, temos muitas mentes e braços em prol de objetivos e somos capazes de escalar resultados.
Tudo isso, é claro, precisa ser construído e alimentado diuturnamente.
Toda relação diz respeito a uma escolha principal: que impacto essa escolha ou atitude vai gerar na minha vida a na das pessoas com as quais me relaciono?
Mesmo que nossa opção seja ficar só, não casar, não abrir uma empresa, não trabalhar em empregos tradicionais, não ter filhos, qualquer escolha gerará impacto.
Viver é assumir e gerenciar riscos. E viver exige envolvimento. Fugir disso é uma opção utópica, simplesmente porque somos seres relacionais. A menos que você fuja para uma ilha deserta e viva em isolamento total, terá que aprender a se relacionar.
Relacionar-se exige compreensão, porque nem sempre concordamos com as atitudes e escolhas do outro.
Para compreender é preciso conhecer a história, as origens, os pressupostos que formaram as crenças e as atitudes do outro.
Gostaria de compartilhar com você algumas das lições mais preciosas que pude aprender nestes 40 anos de vida, em relação a viver em paz, e que se tornaram as cinco valiosas formas de eliminar da vida o algoz que tanto mal faz a você:
1. Olhe para dentro sempre que algo o ofender ou desestabilizar – se gerou esse efeito, houve identificação;
2. Perdoe-se e corrija o erro sempre que possível – e não volte a cometer;
3. Compreenda o outro, só assim será possível perdoar – mesmo que não tenha a oportunidade de conhecer a história dele, certamente as experiências ou as más escolhas forjaram seu algoz;
4. Dê um tempo a si mesmo(a) – muitas vezes os sentimentos momentâneos não permitirão a você “digerir” a situação, é preciso dissolver o ocorrido e isso só se faz cumprindo o próximo item;
5. Invista no desenvolvimento da sua Inteligência Espiritual – isso está além da religiosidade – é uma competência decorrente do autoconhecimento, centramento, ampliação da consciência, maturidade e muito treino.
O pior algoz que você pode ter na vida é uma consciência pouco desenvolvida e presa em julgamentos. Assuma a responsabilidade dos resultados que você pode gerar.
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