Tem horas em que as pessoas queridas que encantam as nossas vidas querem mesmo é ficar em silêncio, completo silêncio, distantes de nós, desejando apenas que sejam deixadas em paz, e assim deve ser!
Não é hora para as inconvenientes perguntas do tipo “O que é que você tem?”, “Te fiz alguma coisa?” ou “Você está com dor?” ou “Está quente até, né?” Não é mesmo! Não é o momento para puxar assunto apenas para arrancar a pessoa do seu mutismo, porque pode ser que este seja o melhor remédio para os momentos de aflições ou reflexões por que esteja eventualmente passando.
O melhor a se fazer é sentar-se ao lado da pessoa e ficar bem quieto, em silêncio também, ou se retirar para outro cômodo, em ato de profundo respeito. E isso faz uma diferença enorme para a pessoa que se refugia na quietude dos silêncios, porque ela guardará para si a sensação de que merece ser respeitada. Sentimentos protegidos e tudo mais do gênero que tanta falta faz num mundo de cacofonias e zumbido de palavras e frases, reverberam dentro da cabeça, enquanto por vezes é melhor o silêncio das naves de templos escondidos, do excesso de canais de som que nos avassala. Não temos, o que é uma pena, um botão do tipo “mute” para acionar nas pessoas, só podendo contar com a capacidade de que sejam a diferença vital apenas agindo como se não estivessem bem ali, ao nosso lado.
Deixe claro para a outra pessoa que seu silêncio é uma liturgia de respeito e de proteção ao direito de que você possa desconectar por um tempo, para que possa encontrar em algum canto de si algumas conexões soltas e cuidar de consertá-las!
Foi praticando o silêncio em resposta ao silêncio do outro que aquele casal resolveu uma séria ameaça para a solidez do casamento que vinham sustentando havia mais de 20 anos! Concluíram que já haviam falado demais e trocado farpas verbais muito além do que se poderia assumir como razoável, e que o sofrimento decorrente disso tudo era rascante, sem sentido na verdade. Então combinaram que cada um faria um grande esforço para ficarem juntos no mesmo espaço, porém no mais absoluto silêncio das suas vozes e de aparelhos como TV, rádios, cuidando – que beleza! – em desligar seus aparelhos celulares.
Você também pode gostar:
Bastasse um sinalizar que um deles queria ser deixado em paz, em silêncio, e o outro tiraria seu prefixo do ar e recolheria suas antenas emissoras para uma prudente manutenção, e assim foi durante bastante tempo. Num desses silêncios a dois descobriam algo formidável: como sentiam falta um do outro e como haviam perguntas a ser feitas e histórias a contar, porém amordaçadas nos recônditos de cada um pois tinham sido silenciadas pelo muito falar e pouco ouvir. Uma das perguntas que guardaram muito tempo, abafada por eles mesmos, e que ajudou muito a repaginar o casamento de ambos foi: “Mas por que nós não nos calamos antes?”
Continue acompanhando a série