CAPÍTULO 30 – PEÇA DESCULPAS!
Pois é… como é difícil para muita gente pedir desculpas que são devidas legitimamente a outras! Tudo indica ser mais fácil rosnar qualquer coisa, fazendo cara feia, a colocar um pouco de doçura na voz e pedir desculpas, seja pelo que for, desde um ligeiro esbarrão até os encontrões da vida, daqueles que praticamente alteram o giro do planeta em torno do próprio eixo!
Todos os dias cada pessoa manifesta comportamentos que ensejam um pedido de desculpa e nada é mais constrangedor que sentir-se “credor” de um desses pedidos e não receber dele nem o pingo do “i”. Por outro lado, não pedir desculpas, desde que se tenha comportado de forma a que o pedido seja obrigatório, é nos aproximar muito e perigosamente da barbárie que pensávamos ter ficado para trás, dissolvida nas brumas escuras e malcheirosas de uma história que não queremos ver nem no cinema classe C.
Pedir desculpas é um ato de grandeza, próprio das culturas que reconhecem e preservam a qualidade e a fidalguia nos relacionamentos entre as pessoas e suas diversas extensões no espectro amplo e irrestrito da sociedade. Ato de grandeza porque preserva a natureza humana bafejada pelos longos séculos de evolução e dá oportunidade para que as pessoas se olhem, vejam e se compreendam como preciosas cada uma na vida de todas.
Faça, você, a diferença na vida das pessoas com quem divide os espaços sob o céu! Disse o que não devia, agiu de forma inconveniente, frustrou algum compromisso ou expectativa criada… peça desculpas de forma sincera, olhando nos olhos da outra pessoa, se couber o presencial e, se for pelo virtual, que suas palavras carreguem o seu sentimento de forma clara e conclusiva.
Havia uma jovem senhora que não pedia desculpas de jeito nenhum e se orgulhava disso tanto quanto das bolsas, sapatos, joias, perfumes e a bagulhada de muito valor que entupia seus armários e até os espaços onde estariam coisas de outra pessoa porque na vida dela não havia pessoa alguma. Para seu horror, sua bolsa social foi roubada no estacionamento do luxuoso shopping onde fora fazer umas comprinhas para compensar o tédio daquela tarde de sexta-feira, depois de uma passada pelo laboratório de análises clínicas para apanhar os resultados de uns exames. Furiosa, esbravejando contra todos os viventes, praticamente derrubou um senhor que saía do elevador que a levaria para a sua caverna lá num dos andares altos do prédio… e nem piou um “desculpe!”, porque, como dito na primeira linha, orgulhava-se de nunca pedir desculpas.
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Duas horas depois de sua entrada em casa, toca o interfone e o zelador informa que estaria subindo para lhe entregar uma bolsa, deixada por um desconhecido na portaria. Surpresa, engolindo com muito esforço os vapores dos seus bufos e azedumes, ela recebe a bolsa com tudo dentro, faltando nadinha, incluindo o envelope dos exames laboratoriais e um bilhetinho em letra canhestra, português tenebroso, que dizia mais ou menos assim: “Devolvo com desculpas porque não sabia que tava tão maus e ferrada assim!”. Ela entendeu quando leu os exames, não se sabe o que diziam, mas devia ser coisa ruim…