Na tentativa de lutar contra a submissão, muitas mulheres desenvolveram mecanismos de defesa que as impulsionam à revolta automática. A revolta automática não resolve o problema da submissão. Ela pode gerar mecanismos de compensação e controle social como vergonha, culpa, punição e vingança. A emoção que levanta e comanda tal resistência é o medo. Falo de resistência porque o problema continua a ser reproduzido em outras circunstâncias da vida feminina.
O medo do cabresto – é difícil admitir isso, uma espécie de “medo ativo”, que incita à coragem, como “eu não vou deixar isso acontecer de novo” – coloca a mulher na exata mira dele, em que experiências passadas vão se repetindo, sem que ela consiga decifrar COMO isso está acontecendo consigo.
As experiências dolorosas de quando se viveu sob o cabresto de alguém que se impôs como uma figura de autoridade e abusou do poder emergem como um estopim de memórias, fantasias e emoções que escravizam a mulher, em vez de libertá-la.
É necessária muita lucidez para sair desse tipo de conflito, a qual só pode ser alcançada quando há a liberação da raiva e do medo que cegam e controlam o comportamento reativo. Liberar significa reconhecer. É preciso dar reconhecimento à raiva e ao medo como memórias emocionais ativadas na musculatura corporal. É preciso também reconhecer que essas emoções estão paralisando-o, a fim de observar como elas controlam-na e sabotam-na, fazendo você se submeter às mesmas experiências de dor, atraindo pessoas muitos semelhantes àquelas que lhe fizeram mal no passado. Ou seja, a experiência da submissão continua sendo jogada na sua cara – o que a enfurece ainda mais.
É preciso interromper o ciclo, deixar de se sentir atraída pela experiência da submissão como uma condição nas relações. É necessário desativar esse gatilho emocional – ele funciona nas sinapses. Podemos dizer que é um gatilho capaz de condicionar qualquer pessoa ao masoquismo, ao sadismo, fazendo ela buscar sempre as mesmas experiências.
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Uma forma de elaborar isso direito é reconhecer o seu lugar de igualdade dentro do processo, sem se abalar com as exigências ou inconvenientes formas de pensar do outro, afinal ele tem o direito de pensar como quiser – seja ele um companheiro, um ex, uma ex, a mãe, o pai, um irmão, uma irmã, um chefe ou colega de trabalho.
A elaboração desse reconhecimento e dessa possível “imunidade” às reações emocionais do outro ocorre quando você está consciente de que a causa de sua indignação não é o comportamento da outra pessoa, mas suas crenças, seu julgamento e seu próprio complexo paralisante, que a sabota.
Ao aceitar esse fato, você acolhe desse aspecto frágil de sua criança interna e ela se sente protegida – e isso a empodera para assumir um ponto de tranquilidade dentro de uma posição natural de não submissão, uma posição natural de igualdade, numa harmonia impecável, numa comunicação não violenta. E se isso incomodar alguém, não é problema seu, afinal você fez uma escolha diferente e a outra parte também é livre para escolher não se incomodar, se assim o desejar.
Quando você se reconhece na sua posição – e se aceita nela -, abre seu nível de permissão para receber reconhecimento, respeito e consideração. Nesse estado de consciência, a rejeição da outra parte em reconhecer que sua posição é de equidade e não de inferioridade, não a incomoda mais porque você sabe que o que leva o outro a tentar diminuir os demais são simplesmente os complexos dele. Bom, o que é dele, é dele.
Mantenha seu foco em si mesma, cultive seu equilíbrio e siga adiante.
P.S.: Esse texto não desconsidera a necessidade de se acionar os meios legais na execução dos direitos de cidadania. A submissão é uma condição interna que precisa primeiramente ser desconstruída e cancelada dentro da mulher, mesmo que precise ser efetivada com ações externas.
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