Capítulo 40 – OUVIU MALEDICÊNCIAS? ESQUEÇA-AS IMEDIATAMENTE!
A arma mais cruel de que dispõe a maldade humana, represada pelos temores de sanções e pelas barreiras que ainda separam os territórios da convivência harmoniosa e da arena de todas as violências, tem sido falar mal do outro. Onde houver mais que duas pessoas e alguma coisa a ser disputada, mesmo que sem valor algum, pode-se esperar que, no caso, uma das três será vítima da língua venenosa das outras duas.Arma tenebrosa, certeira e que nada custa, é usada sabe-se lá quantas vezes ao dia em todos os segmentos da tragicomédia dos tempos atuais. Preferida dos medrosos, covardes e daqueles que só se sentem bem quando agem nas sombras, a maledicência impõe muito sofrimento para quem dela é vítima, fato que é agravado pela virulência e pela contaminação, o que faz com que, em pouco tempo, uma pessoa seja execrada por todas as demais, e daí para pior.
Faça a diferença que protege e ampara na vida das pessoas ao “cortar” a corrente viscosa da maledicência apenas calando-se e nada comentando com qualquer outra pessoa! Imagine quantas correntes de propagação de matéria venenosa você evitará apenas calando-se e deixando morrer em sua memória mais volátil o que tenha sido dito!
Maledicência de filmes bem ao gosto do Tarantino e seus banhos de sangue nas telas foi a que levou Elizimara ao mundo do silêncio sem volta e do desespero sem fim. Ela viveu bem próxima à casa onde passei boa parte do meu crescimento, no bairro das Laranjeiras, zona sul do Rio de Janeiro. À época, eu tinha uns 14 anos, mas já me incomodava com o enxame de comentários maldosos que vinham das matronas italianas e portuguesas que se sentavam todos os dias, por volta das quatro da tarde, em frente às portas das suas casas, a tudo observando e sobre tudo despejando caldeirões de venenos em cuja receita cada uma contribuía com o extrato das duas vidas infelizes.
Sobre a Elizimara, moça bonita que vivia sozinha numa das casas (acho que a casa 15…), dizia-se que recebia um amante todas as semanas, que a mantinha e trancava sob chaves, já que, coitada, mal saía de casa vez ou outra para comprar o pão de comer junto com a sua solidão. Um dia soube-se que o cavalheiro que a visitava todas as semanas era seu pai, que com ela chorava a perda da mulher, mãe da Elizimara, vitimada por lenta tuberculose que a mantinha internada numa clínica em Campos do Jordão (SP). Na verdade, Elizamara era filha de um amor que não se oficializou com o casamento, um atentado aos bons costumes dos anos 1960, já que seu pai era casado e não podia assumir publicamente a relação com a sua mãe, mas que delas cuidou enquanto viveu e até onde não sei, porque aos 14 anos de idade não estamos ainda muito sensíveis para os problemas da existência, mais entretidos com o futebol e o carrinho de rolimã.
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