CAPÍTULO 57 – NA CASA DOS OUTROS RECONHEÇA O SAGRADO!
Por maior que seja a intimidade, respeitar a casa das demais pessoas é um fundamento dos mais importantes nos movimentos civilizatórios que trouxeram a humanidade das poeiras do chão das cavernas para o sedoso dos tapetes modernos. Cuidar do respeito ao espaço íntimo das pessoas é obrigação de todos e não há justificativas para ignorá-lo.
Por mais que a pessoa procure colocá-lo(a) à vontade em sua casa, procure atentar para os sinais indicativos das fronteiras entre o que pode e o que não pode, aonde ir e aonde não ir, o que fazer e o que não fazer. Não é difícil, basta observar os comportamentos e a caudalosa torrente de sinais de permissão ou não, que são derivados dos valores, cultura e hábitos das pessoas, os quais, repetidos, são o balizamento necessário para se reconhecer os limites.
Mostre que valoriza a honra que lhe é concedida por transitar o espaço sagrado de cada um! Obedeça aos sinais e se ponha à vontade, mostrando sua alegria em estar presente para os anfitriões; entre na sintonia dos comportamentos e tudo ficará bem, todos ficarão felizes e não haverá quaisquer constrangimentos.
Faça uma grande diferença provando ser merecedor, com sobras, de convites para voltar e compartilhar!
Um dia, perdi um amigo daqueles que invadem nossa vida e fazem com que ela fique melhor. Saudade danada do Batatinha… Eu sempre estava na casa dele e me sentia muito à vontade, abrindo a geladeira para pegar a cervejinha, exigindo que me fosse servida uma imensa porção de batatas fritas fartamente regadas com queijo parmesão e cebolas milimetricamente partidas; e, em um dia de extrema ousadia, chegando a comer o último pedaço de pudim de leite, guardado pelo Batatinha para ser degustado na madrugada, quando ele gostava de ficar lendo. Ele dirigiu-me um olhar de furar concreto, mas eu apenas mantive a lembrança do sabor daquele pudim de leite abençoado, devolvendo ao seu olhar furibundo a minha carinha de paisagem.
Em 20 anos de amizade jamais fiquei dentro da casa dele em companhia da sua divertida e cultíssima esposa enquanto ele não chegasse, várias vezes aguardando-o no sofá da recepção do prédio, em respeito ao espaço sagrado que é o metro no perímetro da esposa em sua casa. Jamais entrei no quarto dele naqueles anos de amizade intensa, de horas de presença alegre e fraterna na sua casa. Era preciso respeitar o espaço íntimo do casal e disso nunca tive dúvidas: respeitei e pronto! Não sei por que razão entrei no citado quarto no dia em que ele nos deixou e pude ver a delicada decoração interna, os cuidados em cada pedacinho daquele aposento; e fiquei comovido quando me deparei com uma foto sobre um aparador lateral, junto a várias outras, na qual estávamos eu e ele, equipados com arpões e todos os apetrechos de pesca submarina… segurando uma sardinha! Naquele momento eu soube o quanto foi meu amigo, em prova guardada exatamente no canto sagrado dele e da esposa. Muitas saudades do Batatinha…
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