Autoconhecimento Comportamento Convivendo

Sentimento, intenção e ação

Mulher sentindo o vento bater com roupa voando e sol ao fundo
Escrito por Marisa Pretti
Complementando a ideia do texto anterior, O que nos faz humanos?

“Em um trecho do belo texto da peça “A Golondrina”, do autor barcelonense Guillem Clua, baseada no atentado homofóbico que ocorreu na boate Pulse, em Orlando, em 2016, a personagem Amélia, senhora idosa, pergunta ao jovem Ramón: “O que nos faz humanos, Ramón? De todas as coisas que somos e fazemos, o que você acha que realmente define nossa humanidade?”.

E Ramón responde com uma pergunta: “Não sei… O amor?”.

Amélia discorda: “Isso não é suficiente, eles também amam”.

(“eles” são os terroristas do atentado).

Ramón não sabe a resposta, então Amélia afirma, segura:

“A resposta é a dor. O que realmente nos faz humanos é conseguir sentir a dor dos outros”.

Engatando outra história na locomotiva que é nosso cérebro, refleti mais:

Certo, o que nos torna humanos é conseguir sentir a dor dos outros. Mas apenas sentir? Ainda é pouco.

Mão saindo de campo de flores amarelas

Amélia que era mulher de verdade e eu sou só uma mulher procurando ser melhor para deixar o meu, o nosso Criador, orgulhoso, senão do resultado final, pelo menos do meu sincero esforço.

Eu sinto, tu sentes, ele sente, nós sentimos, vós sentis, eles sentem.

No presente do indicativo, nós sentimos.

Do tempo presente para o passado, é uma flexão, caso a ação não aconteça na sequência do sentimento.

Eu senti, tu sentiste, ele sentiu, nós sentimos… E? O que fizemos?

Os tempos verbais indicam o momento em que uma ação acontece. Pode ser no presente, no passado ou no futuro.

Sem ação, fica apenas a intenção sem um futuro.

Intenção sem ação é passado, apenas boa vontade, não é o empenho ou a determinação de solucionar, diminuir ou ao menos entender o sofrimento, com a firme vontade de auxiliar o outro.

Naturalmente, nem sempre existe uma solução. Muitas vezes, ela está distante no nosso campo de atuação.

Garota assoprando flor dente-de-leão

O amigo ou até mesmo o desconhecido reporta um problema pelo qual está perdendo dias e dias de sono e a resposta de consolo, de empatia e de sentimento, veja bem, sentimento real (não estou aqui dizendo que não é verdadeiro) sai fácil e pronta, vinda lá do fundo do pulmão, meio cuspida assim: “Sei que você vai conseguir”.

Você é forte. Eu acredito em você. Você sempre consegue. Tudo vai ficar bem. Vou orar com amor por você.

Gente, o amor tem feito coisas e lembrando a música “Iluminados”, de Ivan Lins e Vitor Martins: “Que até mesmo Deus duvida, já curou desenganados, já fechou tanta ferida”.

Mas e se a penicilina não tivesse sido descoberta? Se Alexander Fleming amorosamente só ficasse compadecido do sofrimento dos soldados que sentiam dor e morriam porque as feridas não cicatrizavam?

A história nos fala que, de tanto trabalhar arduamente em suas pesquisas, resolveu se dar merecidas férias em Dubai. Mentira. Não sei onde foi.

O que aconteceu é que Alex saiu vazado gritando: “Uhúúú #partiuférias” e não fez um checklist.

Um dos vidros ficou destampado e a Srta. Bactéria Staphylococcus aureus, toda assanhadinha, deixou o Sr. Mofo entrar no vidro.

Alex voltou de viagem e ficou de cara quando viu que aquele encontro Bactéria & Mofo, já que o estrago feito poderia gerar um novo ser.

E dessa casual história de amor, tempos depois, nasceu a menina Penicilina.

Braço recebendo injeção

Não gosto de pesar meus dedos no teclado. Aprecio a escrita leve, mas o assunto surgiu porque, coincidentemente, nesse exato momento, às 11h de uma sexta-feira, um homem de 70 anos, alemão, que não conheço, terá a perna amputada por causa de complicações anteriores e após ser picado por uma aranha.

A pessoa em questão é professor de alemão de um amigo meu e não tem parentes no Brasil.

Esse amigo postou a notícia ontem no nosso grupo do WhatsApp. Somos 19 voluntários em uma Casa Beneficente.

Um pedido de ajuda, no sentido de localizarmos algum outro médico para uma segunda opinião.

Nesse grupo temos duas amigas médicas. Todos se manifestaram. As ações aumentaram. Fizemos ligações, trocamos nomes e contatos com outras pessoas. Unimos forças em uma corrida contra o tempo, porém as complicações eram severas.

Como mencionei lá no começo, nem sempre conseguiremos ajudar.

A certeza da ação e a sensação de que fizemos tudo o que podíamos… Acredito que é isso que nos torna super-humanos.

Mãos unidas vistas de cima

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Por mais que uma tarefa pareça impossível, a capacidade multiplicadora de pequenas ações eleva o nosso potencial e, assim, nos sentimos parte da divindade.

E é nesse momento que os milagres podem se materializar.

A melhor resposta é sempre a seguinte pergunta: “O que eu posso fazer por você?”. Ou talvez nem precise perguntar.

Faça como se fosse para si mesmo.

Acho que ALGUÉM já disse isso.

Abraços acessíveis!

Sobre o autor

Marisa Pretti

Amigo leitor...

Caro leitor...

Querido leitor...

Prefiro chamar você de Passageiro leitor.

Afinal, você está aqui de passagem como eu. Caminhando nesta Terra cheia de buracos e tanta água que haja braços fortes e pernas ligeiras para não se afogar.

Viver, a começar pelo ato de nascer, é para quem tem pacto fechado com a teimosia. O ar inflando os pulmões e o primeiro choro para que ninguém se engane: não estamos aqui só para sorrir, mas principalmente. Sim!

Sou mãe por vocação. Atriz por formação. Entusiasta por opção. Audiodescritora por paixão e profissão desde 2010.

Minha profissão, em uma breve descrição, se resume em traduzir imagens em palavras com o maior detalhamento possível para a pessoa com deficiência visual. Um recurso acessível também para idosos, disléxicos, pessoas com deficiência intelectual e para quem mais sentir necessidade dessa ferramenta assistiva. Simples e complicado assim. Trabalho com filmes, espetáculos de dança, teatro, vídeos, suportes empresariais, e o maior desafio foi levar acessibilidade visual ao Carnaval paulistano, desde 2017.

O mundo é visual, estímulos visuais são constantes! Por meio da audiodescrição qualquer produto pode ser traduzido em palavras.

Trabalhar com inclusão é estar atento ao outro, é ser um facilitador e igualar oportunidades.

Provavelmente foi esse gosto pelas letras encadeadas, mastigadas e saboreadas na língua como um demorado beijo que me trouxe até aqui.

Pretendo contribuir com minhas vivências e reflexões sem pretensão alguma, apenas para compartilhar alguns saberes. Uma leitura leve, um livre pensar, mas nem por isso descompromissado com a sua inteligência.

E porque creio na humanidade, na diversidade e na inclusão aceitei colaborar com o #EuSemFronteiras.

Abraços acessíveis!

OBRIGADA.

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