Psicologia

O que é a Psicopedagogia, suas funções e seus campos de atuação?

Ilustração forma a cabeça de uma criança de perfil com um globo girando na ponta do seu dedo.
A educação, mais do que nunca, precisa ser transformadora e cuidadora. Resguardar o sujeito de frustrações que podem ser prevenidas, quando falamos dos processos de aprendizagem, é um dos caminhos edificados pela psicopedagogia, ciência cujos campos de atuação são vastos e férteis. A doutora em psicologia e especialista em psicopedagogia Nádia Bossa afirma que a psicopedagogia não nasceu no Brasil, nem tampouco na Argentina, onde se enraizou. A origem da preocupação com os problemas de aprendizagem se deu na Europa, no século XIX. Não entraremos em detalhes a respeito deste momento de seu surgimento, apenas versaremos sobre seu conceito e suas aplicações.

Bossa (2000, p. 17) diz que a psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem, então não se basta como aplicação da psicologia à pedagogia. Seu caráter interdisciplinar é ressaltado por diversos autores, interdisciplinaridade essa que recorre à psicanálise, à psicologia, à linguística, à fonoaudiologia, à medicina e à pedagogia. Sendo assim, o termo psicopedagogia não consegue adquirir clareza em sua dimensão conceitual, tamanha sua amplitude.

Estante de livros em forma de crânio.

De acordo com Neves (1991, p. 12), a psicopedagogia estuda o ato de aprender e de ensinar, levando sempre em conta as realidades internas e externas da aprendizagem, tomadas em conjunto. Estuda também a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos.

Já para Scoz (1992, p. 2), a psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, portanto deve englobar vários campos do conhecimento.

Golbert (1996, p. 13) versa que o objeto de estudo da psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêutico. 
O enfoque preventivo considera o ser humano em desenvolvimento e seu objeto de estudo é a pessoa a ser educada, seus processos de desenvolvimento e as alterações de tais processos, focalizando as possibilidades do aprender. Não deve, portanto, se restringir à escola, mas ir também à família e à comunidade. Poderá esclarecer sobre as características das diferentes etapas do desenvolvimento, sobre o progresso nos processos de aprendizagem, sobre as condições determinantes de dificuldades de aprendizagem. O enfoque terapêutico considera o objeto de estudo da psicopedagogia a identificação, a análise e a elaboração de uma metodologia de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem.

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Tabuleiro de letras coloridas sobre uma mesa branca.

Para Rubinstein (1992, p. 103), em um primeiro momento a psicopedagogia voltou-se para a busca e o desenvolvimento de metodologias que melhor atendessem aos portadores de dificuldades (a fim de favorecer o desaparecimento do sintoma). A partir do momento em que o foco de atenção passa a ser a compreensão do processo de aprendizagem e a relação que o aprendiz estabelece com o mesmo, o objeto da psicopedagogia passa a ser mais abrangente: a metodologia torna-se apenas um aspecto no processo terapêutico, então o principal objetivo é a identificação de etiologia da dificuldade de aprendizagem, bem como a compreensão do processamento da aprendizagem […]

Já Weiss (1991, p. 6) disserta que a psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores.

Segundo Sara Paín (apud Bossa, 2000, p. 39), psicopedagoga argentina, o objetivo do tratamento psicopedagógico é o desaparecimento do sintoma e a possibilidade de o sujeito aprender normalmente em condições melhores, sendo o sujeito agente de sua própria aprendizagem. Sendo assim, amenizar ou suprimir o sofrimento decorrente da dificuldade de aprendizagem se torna um objetivo, e o psicopedagogo é o mediador nesse processo.

A psicopedagogia, portanto, se ocupa da aprendizagem humana e faz uso de conhecimentos específicos de outras áreas, como psicanálise, psicologia social, epistemologia e psicologia genética, linguística, pedagogia e neuropsicologia.

O trabalho psicopedagógico na área preventiva é de orientação no processo ensino-aprendizagem, visando a favorecer a apropriação do conhecimento pelo ser humano ao longo de sua evolução (Bossa, 2000, p. 33). Esse trabalho pode se dar de forma individual ou grupal, na área da saúde mental e da educação. Na função preventiva, cabe ao psicopedagogo:

● Detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem;

● Participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, a fim de favorecer processos de integração e de troca;

● Promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e dos grupos;

● Realizar processos de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo.

Ilustração de uma professora segurando uma engrenagem em frente a uma criança.

O trabalho do psicopedagogo pode também ter caráter assistencial, sem perder sua essência. A psicopedagogia ocupa-se, assim, de todo o contexto da aprendizagem, nas áreas clínica, preventiva e assistencial, envolvendo elaboração teórica no sentido de relacionar os fatores envolvidos nesse ponto de convergência em que opera. A elaboração teórica é o corpo teórico da psicopedagogia, com processos de investigação e de diagnóstico específicos. Consiste em leitura e releitura do processo de aprendizagem e do da não-aprendizagem.

Já na área da saúde, o trabalho é feito em consultórios privados e/ou instituições de saúde, visando a reconhecer e atender às alterações da aprendizagem sistemática e/ou assistemática, de natureza patológica (Bossa, 2000, p. 33).

Segundo Janine Mery (1985), o objetivo do psicopedagogo é levar o sujeito a reintegrar-se à vida escolar normal, respeitando suas possibilidades e seus interesses. Além disso, o psicopedagogo respeita a escola tal como é, apesar de suas imperfeições.

Historicamente, a psicopedagogia nasceu para atender a patologia da aprendizagem, mas tem se voltado cada vez mais para uma ação preventiva. Prever o sofrimento e “cortar o mal pela raiz” evitará angústias futuras.

Referências:
BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil. Porto Alegre, Rio Grande do Sul: Artes Médicas Sul, 2000.
GOLBERT, Clarissa Seligman, MOOJEN; Sônia Maria Pallaoro. Dificuldades na aprendizagem escolar. In: SUKIENNIK, Paulo Berél. Org. o aluno problema: transtornos emocionais de crianças e adolescentes. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1996. Pp. 79 – 109.
MERY, Janine. Pedagogia curativa escolar e psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.
NEVES, Maria A. Psicopedagogia: um só termo e muitas significações. In: Boletim da Associação Brasileira de Psicopedagogia. V. 10, nº 21, 1991
RUBINSTEIN, Edith. A intervenção psicopedagógica clínica. in SCOZ, Beatriz e outras (org.).Psicopedagogia. Contextualização, formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
SCOZ, Beatriz. A identidade do psicopedagogo: formação e atuação profissional. In. SCOZ, Beatriz e outras (org.). Psicopedagogia. Contextualização, formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
WEISS, Maria Lucia Lemme. Reflexões sobre a psicopedagogia na escola. Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Vol. 10, n° 21, p. 6-9, 1991.

Sobre o autor

Caroline Gonçalves Chaves

Caroline G. Chaves é licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e possui especialização em Psicopedagogia e Tecnologias da Informação e Comunicação - TICs (UFRGS) e em Educação Infantil: Perspectivas Contemporâneas (Unioeste-PR). Ademais, é graduanda em Licenciatura em Letras-Língua Inglesa (UFRGS) e professora municipal da Educação Infantil de Porto Alegre-RS.
Caroline também é escritora de livros infantis e infantojuvenis, tendo lançado "Dorminhoca" (2019) e "Inverno, Verão e Livros - A História de Martina e Miguel" (2023).

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