Bossa (2000, p. 17) diz que a psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem, então não se basta como aplicação da psicologia à pedagogia. Seu caráter interdisciplinar é ressaltado por diversos autores, interdisciplinaridade essa que recorre à psicanálise, à psicologia, à linguística, à fonoaudiologia, à medicina e à pedagogia. Sendo assim, o termo psicopedagogia não consegue adquirir clareza em sua dimensão conceitual, tamanha sua amplitude.
De acordo com Neves (1991, p. 12), a psicopedagogia estuda o ato de aprender e de ensinar, levando sempre em conta as realidades internas e externas da aprendizagem, tomadas em conjunto. Estuda também a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos.
Já para Scoz (1992, p. 2), a psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, portanto deve englobar vários campos do conhecimento.
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Para Rubinstein (1992, p. 103), em um primeiro momento a psicopedagogia voltou-se para a busca e o desenvolvimento de metodologias que melhor atendessem aos portadores de dificuldades (a fim de favorecer o desaparecimento do sintoma). A partir do momento em que o foco de atenção passa a ser a compreensão do processo de aprendizagem e a relação que o aprendiz estabelece com o mesmo, o objeto da psicopedagogia passa a ser mais abrangente: a metodologia torna-se apenas um aspecto no processo terapêutico, então o principal objetivo é a identificação de etiologia da dificuldade de aprendizagem, bem como a compreensão do processamento da aprendizagem […]
Já Weiss (1991, p. 6) disserta que a psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores.
Segundo Sara Paín (apud Bossa, 2000, p. 39), psicopedagoga argentina, o objetivo do tratamento psicopedagógico é o desaparecimento do sintoma e a possibilidade de o sujeito aprender normalmente em condições melhores, sendo o sujeito agente de sua própria aprendizagem. Sendo assim, amenizar ou suprimir o sofrimento decorrente da dificuldade de aprendizagem se torna um objetivo, e o psicopedagogo é o mediador nesse processo.
A psicopedagogia, portanto, se ocupa da aprendizagem humana e faz uso de conhecimentos específicos de outras áreas, como psicanálise, psicologia social, epistemologia e psicologia genética, linguística, pedagogia e neuropsicologia.
O trabalho psicopedagógico na área preventiva é de orientação no processo ensino-aprendizagem, visando a favorecer a apropriação do conhecimento pelo ser humano ao longo de sua evolução (Bossa, 2000, p. 33). Esse trabalho pode se dar de forma individual ou grupal, na área da saúde mental e da educação. Na função preventiva, cabe ao psicopedagogo:
● Detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem;
● Participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, a fim de favorecer processos de integração e de troca;
● Promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e dos grupos;
● Realizar processos de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo.
O trabalho do psicopedagogo pode também ter caráter assistencial, sem perder sua essência. A psicopedagogia ocupa-se, assim, de todo o contexto da aprendizagem, nas áreas clínica, preventiva e assistencial, envolvendo elaboração teórica no sentido de relacionar os fatores envolvidos nesse ponto de convergência em que opera. A elaboração teórica é o corpo teórico da psicopedagogia, com processos de investigação e de diagnóstico específicos. Consiste em leitura e releitura do processo de aprendizagem e do da não-aprendizagem.
Já na área da saúde, o trabalho é feito em consultórios privados e/ou instituições de saúde, visando a reconhecer e atender às alterações da aprendizagem sistemática e/ou assistemática, de natureza patológica (Bossa, 2000, p. 33).
Segundo Janine Mery (1985), o objetivo do psicopedagogo é levar o sujeito a reintegrar-se à vida escolar normal, respeitando suas possibilidades e seus interesses. Além disso, o psicopedagogo respeita a escola tal como é, apesar de suas imperfeições.
Historicamente, a psicopedagogia nasceu para atender a patologia da aprendizagem, mas tem se voltado cada vez mais para uma ação preventiva. Prever o sofrimento e “cortar o mal pela raiz” evitará angústias futuras.