“Quanto mais você tenta conhecer os princípios do zen lendo livros, mais se distancia da natureza da iluminação. Entretanto, se tentar alcançar o conhecimento sentando-se, sem especulação, a iluminação começará a brilhar por si mesma, e você compreenderá o verdadeiro Eu Inteiro, o que estava procurando.”
Roshi Mumon Yamada
Estudar o caminho de Buda
é estudar a si mesmo.
Estudar a si mesmo
é esquecer-se de si mesmo.
Esquecer-se de si mesmo
é ser iluminado por tudo que existe.
É abandonar corpo-mente seu e dos outros.
E nenhum traço de Iluminação permanece.
E a Iluminação é colocada à disposição de todos os seres.
Eihei Dogen
“O silêncio é a verdadeira forma de Deus”.
Ramana Maharishi
A meditação lhe lembra de sua natureza iluminada. Você se distrai no teatro social e se esquece o que é o Buda (Aqui Buda significa iluminado). A ignorância é o não buda. Meditação é presença, estado de alerta, em que se torna possível liberar a mente, relaxar o corpo e entregar-se ao momento. Vou insistir nisso: Seja feliz por ter uma mente, isso é uma experiência divertida, mas observe que você não é sua mente. Contemple sua mente, agradeça por sua existência, pois ela proporciona a você muitas experiências que pode julgar ser boas ou ruins, mas tome consciência de que há uma distância entre o observador e observado. A prática constante da meditação aumenta sua capacidade de distinguir entre o real e o irreal, de reconhecer aquele que nunca nasceu. Você nota a sua natureza, a presença. Ao contrário dos teóricos meditativos, não devemos parar de pensar. Isso é ilusório.
Quem assim ensina nunca se tornou íntimo da meditação. Sei que existem vários cursos ou grupos que propõem que você “zere” a mente, que expulse seus pensamentos. Investigue se esse não é um método errado. Os verdadeiros sábios o convidam a deixar todos seus pensamentos aí mesmo e, até indo além, convidam todo tipo de ansiedade, medo e depressão a virem visitá-lo. Mestre Suzuki ensinou a “dar um pasto para a mente”. Deixe-a. Não tente pará-la, até porque o desejo de parar a sua mente é dela mesma, da mente ou ego. Meditar basicamente é permitir que tudo aconteça, que surjam pensamentos, desapareçam pensamentos. Memórias vêm e vão. Sensações vêm e vão. Observe. Não faça nada, só veja e não interfira. Entre na dimensão do não fazer. Reconheça que você é a testemunha do movimento da mente, o silêncio é o mais próximo que pode ser definido como a forma de Deus.
Monja Coen conduz a prática: “Medite. Não é pensar. Nem não pensar. Sente-se em silêncio, ouça as falas internas, os sons em silêncio, ouça as falas internas, os sons internos e os externos. Sem apego, sem aversão. Apenas sente-se de face para a parede. Sua parede. Nossa parede. Sua vida. Nossa vida. A mente olhando a mente. Percebendo, vivenciando, sendo. Tudo e nada. O nada repleto de tudo que existe. O todo vazio de si mesmo.”
O meditador é livre de muitos conceitos, vive no Samsara, pertence ao mundo, porém mantém a mesma atividade de testemunhar os acontecimentos da vida com serenidade notando todo o teatro incessante de renascimentos através do mundos. Isso não o torna mumificado, ele é plenamente vivo e consciente. Quem tem coragem de silenciar, reconhece que a vida está acontecendo agora. Este instante é como uma bênção única. A prática da meditação requer certa disciplina, mas diferente do que muitos acreditam, pode ser celebrativa a puro deleite. Todo o potencial para essa descoberta já pertence a você. O monge Yongey Mingyur Rinpoche ensina: “A essência da prática budista não é tanto um esforço para mudar seus pensamentos ou seu comportamento para que você se torne uma pessoa melhor, mas perceber que, independentemente de sua opinião sobre as circunstâncias que definem sua vida, você já é bom, pleno e completo.”
Existe uma profunda sensação de inadequação que o impede de ver que você é um ser completo e Iluminado… agora. Nas minhas primeiras práticas meditativas também não compreendia o significado disso, a mente caótica me perturbava constantemente, tentando ver o que não pode ser visto. É necessário passar por isso, pelo caminho de observar qual o funcionamento de seu ego/personalidade/mente. Mestre Jung dizia que o self não pode ser melhorado nem piorado, que ele é exatamente o que é, e ainda Buda nos deixou o ensinamento de que a mente observada ou disciplinada é nirvana. Você tem que “des-cobrir” esse tesouro. O silêncio por trás da mente é único – não existem dois silêncios diferentes.
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“Praticar o samadhi é viver com profundidade cada momento que nos é dado. Samadhi significa concentração. Para podermos nos concentrar, temos de estar conscientes, totalmente presentes e conscientes do que acontece. A atenção plena gera concentração. Quando estamos profundamente concentrados, isso significa que estamos absorvidos no momento. Nos tornamos o momento presente. É por isso que o samadhi às vezes é traduzido como ‘absorção’. A atenção plena correta e a concentração correta nos elevam acima dos reinos dos prazeres dos sentidos e dos desejos, tornando-os mais leves e mais felizes. Nosso mundo já não é tão grosseiro e pesado – o reino dos desejos –, mas o reino da materialidade sutil, ou o reino da forma.”
Thich Nhat Hanh
Poema do Zazen
“Fazendo zazen calmamento no dôjô,
Colocando de lado todos os pensamentos negativos,
Obtendo nada além de uma mente sem desejos –
Esta alegria está além do paraíso.
O mundo corre atrás de fama e honra,
Roupas bonitas e conforto,
Mas estes prazeres não são a verdadeira paz –
Corre e permanece insatisfeito até a morte.
Vista o kesa e o kimono preto e pratique o zazen,
Concentre-se com determinação –
Quer esteja quieto ou em movimento,
Veja com seus olhos a profunda sabedoria interior.
Observe e conheça intimamente
O verdadeiro aspecto de toda ação e de toda a existência –
Seja capaz de observar o equilíbrio,
Compreenda e conheça com uma mente que está totalmente calma.
Se você é assim,
Sua dimensão espiritual –
A mais elevada no mundo –
Estará além de qualquer comparação.”
Kodo Sawaki Roshi
Otávio Leal (Dhyan Prem)