Anualmente, em 19 de novembro comemora-se o Dia Internacional do Homem. Essa data foi criada em 1999, quando já existia o Dia Internacional da Mulher, criado em 1975. Em todo o mundo, somente um desses dias comemorativos recebe a devida atenção.
O Dia Internacional da Mulher, por ter sido criado antes do Dia Internacional do Homem, é mais conhecido e comemorado. No entanto esse não é o único motivo para o Dia Internacional do Homem passar despercebido.
O Dia Internacional da Mulher é reconhecido como uma homenagem às lutas feministas de mulheres brancas, majoritariamente, pelo direito de votar e de trabalhar em boas condições. É uma data simbólica para a conquista de direitos básicos, que nunca foram negados aos homens.
O Dia Internacional do Homem não envolve um movimento social ou um acontecimento histórico. A data foi criada com o objetivo de favorecer a equidade entre os gêneros, discutir o papel positivo do homem na sociedade e abordar os cuidados com a saúde deles.
Como essas questões ainda são pouco discutidas na esfera pública, é natural que o Dia Internacional do Homem seja menos celebrado. Por outro lado, o sentido original do Dia Internacional da Mulher também foi perdido. O comércio se apropriou dessa data para lucrar, promovendo a ideia de que mulheres devem ser presenteadas nesse dia.
Nenhuma dessas duas datas comemorativas foi criada com a intenção de movimentar o comércio. Esses dias devem ser destinados à reflexão e à discussão sobre os papéis que mulheres e homens desempenham na sociedade, de forma a mostrar para as pessoas que as imposições a cada um dos gêneros, embora sejam tradicionais, precisam ser alteradas.
Sendo assim, no Dia Internacional do Homem e em qualquer outro dia do ano, existem algumas questões que devem ser abordadas. A seguir, você encontrará sugestões de temas para refletir sobre o homem na sociedade internacional.
1) Melhoria da educação entre os homens
Em uma sociedade com base patriarcal, que coloca o homem como superior a todos os outros seres, a forma de educar as pessoas desse gênero impõe obrigações e padrões de comportamento que nem sempre são os mais adequados. É isso que constitui a masculinidade.
Somado a isso, no entanto, é importante lembrar que há também o racismo estrutural. Ao dizer “homem”, muitas vezes esquece-se que há diferenças entre homens brancos e não brancos. A imagem que a sociedade constrói deles é diferente, bem como as obrigações de cada um.
Enquanto um homem branco não tem qualquer obrigação de tratar outra pessoa com respeito ou de reconhecer que ela pode lhe ensinar algo, o homem negro deve sempre permanecer calado e executar as atividades que lhe forem atribuídas.
O homem branco exerce uma relação de poder em relação ao homem negro, na qual o primeiro é superior ao segundo. Essa relação está presente não só entre homens brancos e homens negros, mas também entre homens brancos e homens indígenas, orientais ou asiáticos.
Outro fator que interfere na imagem da sociedade sobre como os homens deveriam ser é a heteronormatividade. Um homem que não é hetero ou que não reproduz a masculinidade, não se vestindo e não agindo de acordo com o que se espera de um homem, também estará em uma posição desprivilegiada em relação aos homens héteros.
Essa desvantagem também é imposta aos homens que têm alguma deficiência. O mundo não está adaptado a todas as formas de existência, então uma pessoa com deficiência sempre estará em uma posição de poder inferior àquelas que não apresentam essa característica.
Levando essas questões em conta, a masculinidade pode assumir um grau tóxico para o homem e para a sociedade que está ao redor dele. Um homem que não tem as próprias vontades atendidas, por exemplo, acaba reagindo de forma violenta ou agressiva, sem reconhecer que o mundo não será exatamente como ele quer.
A ideia de que um homem pode tudo que outras pessoas não podem conduz a comportamentos desrespeitosos e ofensivos, além de a uma série de privilégios que os homens têm em relação a toda a sociedade.
Uma forma de desconstruir a ideia de que aos homens tudo é permitido é a compreensão de que todas as pessoas apresentam as mesmas capacidades para desempenhar qualquer tipo de tarefa, então uma pode aprender com a outra.
No Dia Internacional do Homem, você deve refletir: eu ajo dessa forma por quê? Por que prevalece a ideia de que eu sou superior a qualquer outra pessoa? O que está por trás disso? O que eu posso aprender com a diferença? Como eu posso reduzir as experiências de opressão enquanto opressor?
2) Importância da paternidade
A sociedade não exige que um homem seja pai. Não há qualquer tipo de obrigatoriedade ou de imposição relacionada a isso, o que pode motivar os altos índices de abandono paterno. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), identificou, em 2015, que mais de um milhão de famílias brasileiras eram compostas por uma mãe solo.
Uma gravidez não planejada, as dificuldades para abortar de forma legal e segura ou a recusa de assumir a responsabilidade de pai de uma criança são outros motivos pelos quais um homem escolhe abandonar a criança que nasceu por causa dele.
Para a maioria das mulheres que passam por essas mesmas questões, a maternidade poderia também não ser uma vontade. No entanto a sociedade exige que mulheres sejam mães e cuidem de seus filhos.
Sem essa pressão social e sem passar por mudanças físicas, um homem que recusa a paternidade pode continuar com a vida que sempre teve. A responsabilidade cai sobre a mãe, que ainda pode ser culpabilizada por não ter escolhido um homem que lidaria com a paternidade.
A partir do momento em que um homem é parte fundamental da concepção de uma criança, ele é responsável pela criação e pelo desenvolvimento dessa vida. Se a opção da família for encaminhar a criança para a adoção, ele também deve participar dessa escolha.
Se ele estava consciente de que as ações dele poderiam resultar em uma gravidez, assumir as consequências disso é que deveria ser um exemplo de cumprir o papel de homem. Por mais que a sociedade não obrigue um homem a ser pai, é preciso desconstruir esse conceito.
Em outro caso, o tabu da educação sexual para todas as pessoas pode ser responsável pela dificuldade de ressaltar a importância do uso de métodos contraceptivos. A camisinha, que é o único método que um homem pode usar, pode até ser distribuída, mas pouco se fala sobre a importância de usá-la.
Sem a orientação adequada, um homem pode julgar que a gravidez foi um acidente e que ele não quer lidar com isso. Como a sociedade não impõe qualquer tipo de obrigação em relação à paternidade, é ainda mais fácil recusar o papel de pai. Esse conceito precisa mudar.
No Dia Internacional do Homem, questione: como uma criança vai crescer sabendo que foi abandonada pelo pai? Por que um homem não precisaria lidar com a responsabilidade de ter concebido uma criança? Por que um homem não precisaria oferecer suporte para a mulher com quem se relacionou intimamente?
3) Luta contra a tolerância da violência entre homens e meninos
A violência é normalizada e naturalizada na sociedade mundial. É comum ver filmes, séries, novelas e até desenhos infantis com cenas de pessoas sendo agredidas ou assassinadas. Muitos jogos de videogame, por exemplo, lucram em cima da glamourização da violência, que é transformada em uma experiência estética.
Uma pessoa não pode atirar em outra na vida real, mas pode realizar esse desejo em um jogo. Ainda que haja discordâncias sobre a influência de jogos violentos na promoção de uma sociedade também violenta, deve-se ressaltar que, no mundo virtual ou no mundo real, os homens são as pessoas mais violentas.
A pesquisa “Estatísticas do Registro Civil”, realizada pelo IBGE, em 2017, aponta que um homem na faixa etária de 20 a 24 anos tem onze vezes mais chances de morrer por causas violentas do que uma mulher com a mesma faixa etária.
Essas causas violentas, de acordo com o IBGE, incluem homicídio, suicídio e acidentes de trânsito, de formas gerais. Existe o senso comum de que o homem, naturalmente dotado de força física, deve resolver os conflitos que surgem usando a força física.
Brigas na escola, em baladas, na rua ou no trânsito são frequentes entre os homens. Xingamentos e ameaças são permitidos e entendidos como comportamentos normais em uma situação de estresse.
A justificativa de que “meninos são assim” caminha até a maturidade de um homem, tornando-se “homens são assim”. Qualquer violência praticada entre homens, nesse sentido, é perdoada, como se um homem não tivesse outra escolha senão agir de forma violenta.
No Dia Internacional do Homem, é preciso questionar: até que ponto a violência gera mais violência? A melhor forma de resolver um conflito é por meio da violência? Quais são as vantagens de dialogar e de compreender realidades diferentes da própria? O que torna a violência tão normalizada? Como reverter esse processo?
4) Melhoria na expectativa de vida dos homens
Se os homens são as pessoas que mais morrem no mundo, a expectativa de vida deles é mais baixa do que a das mulheres. Isso não significa que não há motivo para se preocupar com as mulheres, mas é preciso se atentar também aos homens.
Como citado anteriormente, conflitos violentos podem resultar em morte. A desconstrução da violência e a compreensão de que ela não deve ser o meio para resolver algum problema já poderia reduzir o índice de mortes.
Além disso, é preciso considerar a parcela de culpa do Estado sobre a baixa expectativa de vida dos homens. Segundo o “Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública”, entre 2015 e 2016, o número de homens negros mortos pela Polícia Federal foi três vezes mais do que o número de homens brancos mortos pela mesma instituição.
Nesse ponto, é nítida a influência do racismo estrutural na expectativa de vida dos homens. São muitos os casos de meninos que morrem voltando da escola ou fazendo atividades convencionais do dia a dia, sem qualquer indício de violência ou de que um crime seria cometido.
No Brasil, a população negra corresponde a 54% do total, segundo dados divulgados pelo IBGE, em 2015. Quando há uma política de embranquecimento da população, portanto, homens negros são negativamente afetados, vendo o fim das próprias vidas de forma precoce.
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A violência de uma pessoa contra ela mesma, o suicídio, também afeta mais os homens em relação às mulheres. Dados do Ministério da Saúde, obtidos em 2019, evidenciam que os homens cometem suicídio quatro vezes mais do que as mulheres.
Isso acontece devido à ideia de que homens não devem falar sobre como se sentem, nem mesmo se estiverem passando por algum problema para o qual não veem solução. No último tópico desse texto, você irá aprender mais sobre esse assunto.
Outro fator que causa a baixa expectativa de vida dos homens é o câncer de próstata. Segundo um levantamento feito pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), em 2018, um homem morre a cada trinta e oito minutos por causa dessa doença. A solução para esse problema está na prevenção do câncer, que será abordada no tópico a seguir.
5) Conscientização pelos cuidados com a saúde masculina
O Novembro Azul é uma campanha brasileira que tem como objetivo alertar os homens sobre a importância de fazer o exame de prevenção ao câncer de próstata. Considerando que essa é a segunda forma de câncer mais comum entre os homens, é essencial prevenir-se contra ela.
Infelizmente, o que poderia ser uma importante campanha de prevenção acaba escancarando um tabu do gênero masculino. Como o exame é feito quando um(a) profissional da saúde introduz o dedo no reto do paciente, muitos homens se recusam a fazer esse procedimento.
Um levantamento feito pelo Instituto Datafolha, em 2018, apontou que o preconceito e o medo do exame são os principais motivos pelos quais os homens não o fazem. Descuido, preguiça e falta de sintomas também foram indicados como desmotivadores para se submeter ao procedimento.
A ideia de que um homem será menos masculino se fizer esse exame pode custar a vida dele. Aproveite o mês de novembro para fazer esse exame anualmente e evitar que a sua saúde se deteriore por causa de um preconceito que precisa ser deixado para trás.
6) Ajuda psicológica para homens
O levantamento “Depressão, suicídio e tabu no Brasil”, realizado pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, em 2019, determinou que 30% dos homens acreditam que a depressão é causada pela falta de fé ou que ela não existe.
A desinformação sobre a saúde mental afeta toda a população, mas, para os homens, que aprendem que o correto é esconder como se sentem e sufocarem toda a fragilidade que existe dentro de si, essa questão é ainda mais agravante.
Um homem apresenta defeitos, problemas e sentimentos. Aceitar que isso pode atingir todos os seres humanos é o primeiro passo para buscar ajuda. Não há vergonha em sentir tristeza, raiva excessiva ou dificuldade para desempenhar tarefas do cotidiano.
Os sentimentos que são repreendidos precisam ser trabalhados por profissionais da saúde. A tristeza, o desânimo, a solidão e a desesperança frequentes são indícios de que é melhor buscar auxílio psicológico.
Não é vergonha procurar ajuda. Falar sobre os próprios sentimentos não torna um homem menos homem. Em vez disso, faz com que ele seja consciente de si mesmo e mais capaz de enfrentar os desafios que são impostos à sua vida.