Antigamente, mas em um tempo não muito distante, filhos saíam de casa mais cedo porque se casavam mais jovens ou porque haviam chegado a uma idade em que moralmente percebiam que deveriam partir ou contribuir financeiramente em casa. Fosse o que fosse, faziam de tudo para se manterem. Costumavam também reconhecer todas as atitudes e esforços dos pais.
A grande maioria dos genitores não mediu esforços pela educação de suas crias, não como uma obrigação, mas imbuídos de atos de amor que muitas vezes aconteciam dentro de contextos bastante difíceis.
Tenho pacientes mais velhos que se recordam de terem oferecido parte de seus primeiros salários aos seus pais, como gratidão. Outro paciente, logo que se viu mais abonado, comprou um carro novo para o seu pai, pois o mesmo não teria condições de trocar o que tinha e que estava bastante desgastado.
Filhos reconheciam muitos sacrifícios que os pais faziam em nome de dar o melhor a eles e constantemente exerciam atos de gratidão, afinal estavam ficando mais velhos e mereciam mais atenção e conforto. Esses novos adultos sabiam que possuíam a juventude e toda uma vida pela frente, então não eram egoístas e tinham a capacidade de enxergar o outro.
Jovens de hoje, quando questionados sobre abusos financeiros que podem estar cometendo em relação aos pais, ainda ousam dizer que não pediram para nascer e que é obrigação dos mesmos cuidar deles, independentemente da idade.
Pais da atualidade tornaram-se eternos devedores de filhos, que, neste aspecto, infelizmente estão bastante infantilizados, para não dizer adoecidos. Mesmo aqueles que não falam abertamente comportam-se como se fosse obrigação dos pais mantê-los numa idade em que seria vergonhoso não se bancarem. Estes jovens, inclusive, poderiam passar algumas dificuldades, como muitos dos pais passaram no início das suas vidas e sobreviveram.
Notem que não estou abordando neste tema filhos sindrômicos, mas filhos “comuns” e da nossa atualidade, mas que ao meu ver também se encontram bastante adoecidos, com a doença do narcisismo exagerado somado a um egoísmo infinito. A maioria destes racionaliza causas e deveres dos pais em nome de si, esquecendo-se de onde vieram e dos esforços que foram feitos para criá-los.
Acham que tudo veio pronto. No celular abre-se uma tela e de imediato pode surgir uma imagem do outro lado do planeta. Ao que parece, as suas demandas emocionais cegamente se rebelam para este tipo de imediatismo afetivo, o que é totalmente impossível.
E por que os pais de hoje não se rebelam? Será que temem a ameaça da perda do amor e o mau humor de seus filhos? Será que estes filhos, totalmente inconscientes, estariam funcionando de modo perverso para com os seus genitores, como os tais narcisistas perversos do século XXI?
Pais da nossa atualidade, ao temerem este tipo de confronto, tornam-se reféns dos seus filhos, então o que era permissividade e amor transforma-se em terror, devoção cega e medo.
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Como fazer com que estes filhos adultos se tornem adultos num sentido maior? Será que a vida, por si só, fará este serviço? Às vezes sim, mas enquanto isso o tempo está passando, os pais estão envelhecendo e muitos adoecendo por causa dos sentimentos de impotência e tristeza.
Desejo que este breve artigo possa ajudar no despertar de ambas as partes e que novos e melhores cenários possam ser redesenhados a partir do ganho de consciência.
Que possamos viver com mais empatia, reconhecimento e gratidão.
Quanto mais despertos, melhor!