Quantas vezes já não ouvimos que alguém é justo pelo fato de que trata todos iguais? Essa frase faz todo o sentido como usar açúcar para salgar alguma coisa. O nosso objetivo não é afirmar a superioridade de um conceito ou outro, mas questionar a possibilidade de colocar a igualdade ao lado da justiça, defendendo que as duas são necessárias, separadamente, para cada tipo de ocasião.
Frustrado com algum ato errado de um dos seus filhos, você já deve ter ouvido algum pai de família reclamar que não sabia o que fez de errado na criação daquela criança, pois tratou todos iguais e somente aquele não deu certo. Não vamos entrar no mérito do que é “dar certo” ou “dar errado” na vida de uma pessoa, mas sim na ilusão de que um tratamento igualitário, que nos poupa do julgamento de como agir diferente em cada circunstância, seja a solução absoluta para todos os problemas.
O fato é que as pessoas são diferentes. Estimular uma pessoa com a moral baixa pode ajudá-la a superar desafios, mas fazer o mesmo com alguém excessivamente autoconfiante é perigoso, porque pode desprepará-la com a possibilidade do desafio não ser superado.
A primeira necessita de incentivo, a segunda precisa ser alertada. Da mesma forma que cada pessoa precisa de um estímulo diferente, as diversas situações também precisam ser vistas sob diferentes óticas. Para uma pessoa desempregada, o mais prudente é dizer a ela para que não fique passiva e lute para mudar essa adversidade. Para esse mesmo indivíduo diante de um assalto, o conselho mais sugestivo é que ele fique passivo e não reaja, afinal bens materiais são recuperáveis.
Seguindo esse ponto de vista, então seria mais justo que somente os mais preparados pudessem votar, certo? Errado. Apesar de que cada situação precisa ser analisada sob uma determinada ótica, todos somos cidadãos e merecemos direitos iguais. Chega a ser meio irônico, mas na Justiça todos devem ser tratados com igualdade. E nesta igualdade, todos devem ser tratados com justiça, respeitando suas características individuais e aptidões pessoais. Apesar de aparentar um certo antagonismo, faz todo o sentido quando compreendemos que temos duas existências: uma social e outra individual. O problema é quando o social e o individual entram em confronto.
Quando chega a hora de cortar o bolo da festa, você pode adotar duas soluções. O mais lógico é respeitar todos os convidados e dividir os pedaços de bolo em partes iguais. Mas aí, uma das pessoas alega que comprou os ingredientes para o bolo e também fez o recheio, então o mais justo é que receba um pedaço maior. Há situações em que a igualdade ou a justiça são aceitáveis.
O problema da justiça é que ela necessita de critérios. Nessa discussão de quem merece o pedaço de bolo maior, a pessoa mais velha da festa alega que precisa de uma parte maior porque o seu corpo é o mais debilitado e sofre com hipoglicemia (falta de açúcar no sangue).
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Ouvindo isso, a criança mais jovem responde que merece ainda mais o maior pedaço, pois está em fase de crescimento e o seu corpo precisa de mais açúcar para repor as energias.
Considerando que não dá para dar partes maiores para todos, só resta a você decidir em dar partes iguais a todos e gerar uma insatisfação geral ou dar partes maiores para alguns, de acordo com o critério que você achar mais justo, gerando uma contestação ainda maior daqueles que se sentiram desprestigiados.
Embora seja um exemplo, a ideia é ilustrar que apesar da justiça ou a igualdade poderem ser aplicadas, o ego dos seres humanos nunca poderá ser contemplado em sua totalidade.
- Texto escrito por Diego Rennan da Equipe Eu Sem Fronteiras.