As virtudes do adepto: saber, poder, ousar, calar. “Alquimia” é um termo derivado do árabe “al-kimiya”, mas suas exatas origens se perdem no tempo. Essa pseudociência já era conhecida e praticada na Antiguidade, no Egito, na Grécia e em Roma.
A prática combinava o conhecimento místico e espiritual com várias áreas do conhecimento – ainda nos primórdios –, como física, química, medicina, metalurgia etc.
O conhecimento adquirido pelos adeptos era registrado e passado para poucos aprendizes, com o emprego de uma linguagem hermética de difícil compreensão aos leigos, cheia de simbolismo. O adepto procurava trabalhar em silêncio e recolhimento, sem fazer alarde sobre suas pesquisas.
A paciência era uma virtude primordial ao adepto, pois ele deveria desenvolver uma disciplina de leitura, análise, experimentação e observação durante décadas. O primeiro passo do aprendiz era estudar as obras dos antigos clássicos, e discernir entre as milhares de obras aquelas que eram genuínas das que procuravam desviar o estudante do caminho correto. Depois, a linguagem simbólica dos livros precisava ser compreendida, aprofundando a intuição para desvendar seu significado real.
O segredo era outra virtude necessária, pois muitas vezes as descobertas poderiam ser usadas para fins nada nobres, como a fabricação de instrumentos para a guerra ou a transmutação de metais comuns para metais nobres, como o ouro.
Essa transmutação dos metais – hoje possível de ser realizada em laboratório, graças ao avanço da ciência (por exemplo, a criação de diamantes artificiais) – foi a operação mais divulgada para os leigos, e por muito tempo foi considerada o maior objetivo da alquimia.
Outras metas também faziam parte do arsenal alquímico: a busca por um elixir da imortalidade e o desenvolvimento de um solvente universal (o “alkahest”). Não à toa, quem se dedicava à nobre arte procurava manter silêncio sobre suas atividades, pois esses conhecimentos trariam a ganância e a inveja dos poderosos!
“Na ciência, no bem, o adepto deve CALAR-SE.” – Fulcanelli
O adepto deveria também se aprimorar, eliminando o orgulho e a avidez. Somente os merecedores poderiam completar a Grande Obra (em latim, “Magnum Opus”), a criação da “pedra filosofal”.
Para o verdadeiro alquimista, a Grande Obra ia além do domínio da matéria. A matéria era o início do trabalho, que iria culminar em um novo patamar de estudo e prática: o desenvolvimento interior do próprio adepto, aprimorando a observação e o raciocínio por meio de profundas meditações.
A “pedra” filosofal pode ser compreendida como metáfora do processo de individuação. Na psicologia analítica de Carl G. Jung, a individuação é a realização do Si mesmo (“self”). Isto é, a pessoa se torna consciente e diferenciada, uma totalidade autônoma e indivisível. O principal foco da individuação é o conhecimento de si mesmo – e como esse conhecimento pode ajudar a tornar o mundo mais próximo, contribuindo para uma convivência com os semelhantes mais saudável.
O processo de individuação tem muitas semelhanças com a Magnum Opus:
– Nigredo – a primeira etapa do alquimista, partimos da matéria comum, um ego indiferenciado. Os aspectos sombrios da personalidade são confrontados.
– Albedo – a descida cada vez mais profunda e dolorosa ao inconsciente torna-se subitamente uma iluminação vinda do alto. É o momento de insight, de mudança da consciência, em que são percebidas as projeções da sombra e as demandas de um ego inflado, removendo-as da psique.
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– Citrinitas – a matéria bruta inicial é transformada nessa operação em um material mais nobre. Psicologicamente, essa etapa corresponde ao encontro do Eu Superior, a voz da sabedoria interna – o arquétipo do ancião ou anciã sábios.
– Rubedo – o sucesso alquímico foi alcançado. Nessa etapa, o Self conquista a totalidade; os opostos estão integrados, o processo de individuação está completo. É o fim da Grande Obra.
Referências
Alchemy – https://en.wikipedia.org/wiki/Alchemy
https://www.significados.com.br/alquimia/
“O Mistério das Catedrais”, Fulcanelli, Edições 70, Lisboa