Em alguns tipos de relações humanas, amistosa ou não, há um tensionamento por um dos lados — ou ambos — para a transformação do outro em um sujeito idealizado.
De maneira mais direta, isso quer dizer que as maravilhas produzidas pelo primeiro contato humano estão à mercê dos sentidos mais palpáveis, como visão, audição e olfato. O “amor à primeira vista” nada mais é do que a soma benéfica dos sentidos com preposições do sujeito idealizado, ou seja, ótimas impressões e premeditações de um modelo perfeito pré-existente em nossas mentes.
Além disso, alusões estéticas geradas por veículos midiáticos transformaram a humanidade, antes diversa, em um produto padronizado do belo, responsável pelo direcionamento dos olhos. Essa mudança fortifica grossos laços da subjetividade, antes judicioso quanto definir inúmeras características para beleza humana.
Numa percepção mais aprofundada, como citado por Platão no Caminho Místico, o espectador contempla a ruína da beleza corpórea, enquanto há infinidade na beleza moral, a última despercebida pelos sentidos supracitados. Nesse estágio, a aproximação dos sujeitos ocorre por valores que excedem barreiras palpáveis ou mesmo irrisórias, por meio do contato com a “beleza da alma”.
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Ainda que agraciados pela sensibilidade de visualização desse tipo de beleza superior, seria grande tolice afirmar que a aptidão para selar uma relação próspera estivesse a cargo de um único atributo. Para tal, devemos agir conforme a Boa Vontade kantiana, ou melhor, a boa vontade em si mesma, sem ligação com qualquer finalidade.
Nesse processo de aperfeiçoamento das relações, uma vez que existam, devemos agir como “Jóias Brutas”, capazes do reconhecimento das próprias deformidades, bem como da poderosa essência e promissor fim. Do mesmo modo, como “Ourives”, dispostos a trabalhar calmamente e com afinco perante os percalços, imperfeições e diferenças para um único objetivo: tornar-se um só.
Isso significa que a habilidade para lidar com as imperfeições do outro e a disposição para crescimento mútuo transcendem as relações líquidas de Bauman, relações que estão cada vez mais entregues ao superficial prazer.