Estimados leitores, saudações de paz!
Acredito e vivencio a escrita como ferramenta de autocuidado. São as palavras que trazem paz e leveza para meu coração diante de diversas situações que a vida me apresenta.
Quando fui demitida e tive que repensar minha carreira, senti como se fosse jogada num precipício. A demissão em si é um fato que nos tira o chão e ganha um tom muito mais dramático ao ser somada ao cenário do nosso país nos últimos tempos. Nem sempre uma demissão chega em boa hora, mas uma coisa é quase certa: quanto mais autoconhecimento, mais leve e até prazeroso será o recomeço.
Um certo tempo atrás, quando era adolescente e começava minha trajetória profissional, tinha apenas um par de chinelos havaianas. Não eram bonitos e coloridos como hoje, mas eu era feliz desbravando meu mundo adolescente de maneira confortável – calçando chinelos. Veja que desprendimento!
Mas os anos se passaram e a adolescente que queria mudar o mundo calçando chinelos hoje é uma mulher (de havaianas coloridas!) que encontrou dificuldades para atualizar seu próprio currículo profissional. Tantas experiências, pós-graduação, cursos, muitos anos de aprendizado. Bloqueio total. O que colocar no meu currículo? Por que estava tão difícil?
Culpado: perfeccionismo. Querer aprovação e sentir medo de sofrer. Medo de não ser perfeita e consequentemente não ser amada. Maldito destruidor de lares! A questão era algo assim: preciso agradar empregadores e provar o quanto sou boa no que fiz e no que faço. Me contrate!
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Minha pressão interna somada à pressão externa (12 milhões… Você leu sobre isso?) geravam um questionamento intenso, que se potencializava com o momento a superar: meu desânimo, reconhecer meus erros e orgulho ferido. Conter minhas ações provocadas por dores que ainda não sabia curar ou agir com raiva provocada pela decepção. Onde errei? Por que não me encaixo?
Minha autocrítica é cruel. Ela dança em ciranda ao meu redor de braços dados com a ansiedade e com a vergonha. Juntas, essas pestes cantavam bem alto que não estou pronta, que não sou boa o suficiente, que minha carreira precisa de retoques. Precisei de ajuda. Chamei por Sócrates – meu autoconhecimento: Por favor, venha comigo! Vamos juntos para a arena da minha vida! Vamos com a Brené Brown que essa, sim, entende do assunto – estar na arena da vida. Fomos.
Na arena, eu no centro e uma plateia ao redor. Que vergonha… Sócrates apontou para um simpático senhor chamado Mário Sergio Cortella, que mandou sorridente: “Defina vergonha”. Ao lado dele, observei o treinador Carter com um cartaz em mãos com os dizeres: “Faça o que deve. É o que quero para você de verdade. Você deve ser tudo que pode”. Que mundo insano e cheio de gente esquisita. Eu? Mais ainda…
Pausa na escrita.
No rádio Camila Cabello canta “Señorita”. Não resisti. Parei a escrita e fui dançar. Quando passamos dos 40 anos essa música é uma delícia. Vá lá! Dançar cura e liberta. “I love it when you call me señorita… I wish I could pretend I didn’t need ya ya ya…”
Mas agora escrevendo – porque escrever também cura e liberta, acho que sei um pouco sobre o motivo, além dos citados acima, que expressaram minha tão sofrida questão, concluir meu currículo. Talvez somente agora perceba conscientemente minha grandeza como ser humano. Essa grandeza é uma vasta soma de todas as pessoas com quem convivi ao longo de tantos anos. Há muitos aprendizados, histórias incríveis, sorrisos, superações, cachorros doados, choro, alegrias. É muita coisa! A lista é imensa. Claro que não cabe numa página de currículo. E se fosse resumir tudo isso numa única palavra seria mais fácil. A palavra seria gratidão, pois ela contempla tudo, mais os sentimentos que moram no meu coração.
Gratidão também me mostra que tudo tem lado bom. Sempre tem um lado bom. E a demissão foi uma oportunidade ímpar de enterrar minhas velhas crenças e padrões que não servem mais. Posso ser “substituída” e está tudo bem! Faz parte da vida, do processo sobre me reinventar. Gratidão aqui de novo.
Precisei de um tempinho para ter condições de aceitar minhas falhas com a mesma graça e humildade com as quais aceito minhas melhores qualidades – que são muitas e não tenho motivos para escondê-las ou nega-las. Ao experimentar e vivenciar cada etapa de uma demissão, permitimos que a vida flua de maneira mais graciosa. Na verdade, ela sempre flui de maneira graciosa, só que às vezes não conseguimos notar.
Para onde a vida te levar, vá com seu coração. Sempre.