No momento da quarentena, devemos fazer uma avaliação da realidade. As relações entre duas pessoas são caminhos em constante mudança. Nos tempos em que vivemos, a conjuntura está a obrigar muitos casais a conviverem, a partilharem espaço de uma forma como já não faziam há muito tempo.
A sociedade moderna levou-nos a ter dois casamentos, um com o parceiro e outro com o trabalho. Por norma, este último tem de quase todos mais empenho e atenção. A quarentena pode ser um momento ideal de pausa e avaliação.
O nosso cotidiano atribulado torna-nos muitas vezes seres preguiçosos em relação a nós mesmos e a quem partilhamos a vida. Há uma preguiça instalada nas relações. As pessoas não param para avaliar, para refletir o porquê de estar com aquela pessoa, se ela ainda nos supre ou se simplesmente cedemos ao comodismo.
Não nos podemos entregar à conjuntura, não podemos confundir sentimento com estado emocional. O fato de estarmos fechados, de aumentar o nosso nível de ansiedade, de se avistarem dificuldades a nível econômico podem acionar em nós emoções não desejadas. Essas devem ser filtradas, ponderadas com calma.
Esse tipo de avaliação deve ser muito cautelosa. Temos que medir, compreender se realmente quem está ao nosso lado já não tem o mesmo impacto na nossa vida. Se realmente o sentimento findou, mas não tínhamos dado conta. As pessoas muitas vezes ficam juntas por conforto e segurança, mas, em tempos de crise, podem acontecer rupturas definitivas. Por vezes o medo da solidão pode sobressair.
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Por outro lado, segundo a linha do filósofo, há casais para os quais acontece o oposto. Mesmo tendo sentido uma desconexão por toda uma rotina, agora, neste momento de parada, a relação se fortalece. Segundo Fabiano, “Existem casais que na adversidade se fortalecem, que não cedem aos impulsos e usam o momento para pensar em dupla. Seguem a velha máxima de que uma cabeça pensa melhor que duas. Usam a quarentena para delinear estratégias, buscando um ponto de equilíbrio. Juntos irão recuperar e fazer frente ao que estiver por vir”.
Segundo o filósofo, o casamento pode se transformar em algo mais concreto, sair do abstrato. Há quem viva um relacionamento abstrato pois está com a mente totalmente ocupada em seus afazeres. O concreto é o que define uma linha racional dentro de uma realidade vivida.
Estes momentos servem para ter a percepção real. Ou o relacionamento está acabado ou segue mais forte. Os momentos de parada obrigam-nos a olhar para situações que protelávamos há mais tempo do que o desejável.
O mundo caminha para a solidão. As famílias são cada vez mais pequenas, menos filhos. Há uma individualização instalada. Estamos nós, enquanto humanos, preparados para seguir sozinhos?
Momentos críticos fazem-nos refletir sobre as nossas escolhas. Preferimos passar por essa crise apenas por nossa conta ou a base familiar é uma ajuda?