Enquanto o ser humano não descobrir quem é, fatalmente estará fadado ao sofrimento. Como assim?!
Existe um vírus colocado, instalado, configurado, replicado, fomentado, fortalecido, inserido e hierarquizado. Ele foi, é e será transmitido para todos nós – e sequer nos damos conta de que estamos contaminados.
Esse vírus se chama Ego.
Ego é tudo aquilo que faz uma pessoa pensar que ela é alguém. Ele fornece a estrutura, a base da “pessoa” que nós acreditamos piamente ser: a base dos pensamentos (cognição e memórias), a base das emoções (alegrias e tristezas), a base da imagem (corpo) etc.
Sempre que um bebê nasce, é senso comum atribuir-lhe um nome. Este nome é definido por alguém externo, e depois repetido indefinidamente ao longo do processo de crescimento do bebê, fazendo com que ele acredite ser “Fulano de Tal”. Destaco: alguém de fora definiu um nome arbitrário, e a criança passou a acreditar que ela era aquele nome. Uma reflexão rápida: se essa criança, já crescida, quiser mudar de cidade/país… e se apresentar com um outro nome… então quem ela será?
Certa vez, um rapaz perguntou a um mestre indiano o motivo de não se lembrar de seu nascimento:
“Você nunca nasceu! Como há de se lembrar disso?”
Há uma quebra nesta frase. Um simples alento de esperança, induzindo o rapaz que fez o questionamento a sair do status quo de onde a pergunta foi formulada – que considera apenas a memória que a mente traz, e repete a ideia de que ele nasceu em tal dia, tal hora, tal cidade, etc.
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A ferramenta “mente” tem essa característica: pensar em si mesma de maneira individualizada e separada de todas as coisas. É aí que um Ego é criado. Não vamos questionar aqui a necessidade de termos um ego para viver em sociedade, porque isso é indiscutível. Assim como um objeto precisa ter nome e características atribuídas a ele; assim como um país tem nome e cultura, também uma pessoa precisa ter um nome.
O problema não é o ego em si, mas o quanto cada pessoa está identificada com esse Ego que se pensa separado.
Uma breve história…
Certa vez, um rapaz passou o dia todo pintando seu querido barco. Era seu hobby, sua paixão. Ao final do dia, com a tinta do barco ainda fresca, resolveu se deleitar com seu companheiro: colocou-o no lago para algumas remadas. Instantes depois, uma neblina começou a descer sobre o lago e o rapaz começou a voltar para a margem. Mas, no meio da neblina, um outro barco veio de encontro e o atingiu em cheio, raspando a pintura. Esse rapaz ficou irado! Começou a xingar, insultar: “Como assim você bateu no meu barco? Está cego? Não vê por onde rema?”. Eis, então, que o outro barco se aproxima um pouco mais e o rapaz nota que não havia ninguém no comando do barco…
Pergunta: para onde foi a raiva do rapaz que teve a pintura do barco danificada?
A raiva que uma pessoa sente tem que ser destinada a alguém, a algum sistema, a alguma organização, a alguma situação. Comumente, ela é direcionada para quem essa pessoa pensa ser (a raiva de si) porque, caso contrário, não seria possível destiná-la a ninguém.
Novamente: a questão não gira em torno de ter ou não ter um nome. Mas de quem cada um é, antes de qualquer rótulo. O que cada objeto é, antes de receber um nome. Todos os nomes são dados através da linguagem de um terceiro, de alguém externo.
- Quem é você antes de pensar seu nome?
- Quem é você antes de sentir a raiva?
- Quem é você antes de sentir a alegria?
- Quem é você antes de trazer uma idade utilizando apenas a memória de sua mente?
Se tem um vírus com o qual precisamos nos ocupar (e não pré-ocupar) em perceber, então esse vírus é o Ego.