Comportamento Convivendo

Com qual vírus devemos nos preocupar?

Um peão de xadrez recebendo luz, e sua sombra mostra um rei do xadrez.
123rf/Alta Oosthuizen
Escrito por Pedro Paschuetto

Enquanto o ser humano não descobrir quem é, fatalmente estará fadado ao sofrimento. Como assim?!
Existe um vírus colocado, instalado, configurado, replicado, fomentado, fortalecido, inserido e hierarquizado. Ele foi, é e será transmitido para todos nós – e sequer nos damos conta de que estamos contaminados.

Esse vírus se chama Ego.

Ego é tudo aquilo que faz uma pessoa pensar que ela é alguém. Ele fornece a estrutura, a base da “pessoa” que nós acreditamos piamente ser: a base dos pensamentos (cognição e memórias), a base das emoções (alegrias e tristezas), a base da imagem (corpo) etc.

Mulher sentada em cima de uma mesa, com as pernas cruzadas, e segurando um espelho. Ela olha seu reflexo, e a foto mostra ela mesma e seu reflexo.
Pixabay/Jerzy Górecki

Sempre que um bebê nasce, é senso comum atribuir-lhe um nome. Este nome é definido por alguém externo, e depois repetido indefinidamente ao longo do processo de crescimento do bebê, fazendo com que ele acredite ser “Fulano de Tal”. Destaco: alguém de fora definiu um nome arbitrário, e a criança passou a acreditar que ela era aquele nome. Uma reflexão rápida: se essa criança, já crescida, quiser mudar de cidade/país… e se apresentar com um outro nome… então quem ela será?

Certa vez, um rapaz perguntou a um mestre indiano o motivo de não se lembrar de seu nascimento:

“Você nunca nasceu! Como há de se lembrar disso?”

Há uma quebra nesta frase. Um simples alento de esperança, induzindo o rapaz que fez o questionamento a sair do status quo de onde a pergunta foi formulada – que considera apenas a memória que a mente traz, e repete a ideia de que ele nasceu em tal dia, tal hora, tal cidade, etc.

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A ferramenta “mente” tem essa característica: pensar em si mesma de maneira individualizada e separada de todas as coisas. É aí que um Ego é criado. Não vamos questionar aqui a necessidade de termos um ego para viver em sociedade, porque isso é indiscutível. Assim como um objeto precisa ter nome e características atribuídas a ele; assim como um país tem nome e cultura, também uma pessoa precisa ter um nome.

O problema não é o ego em si, mas o quanto cada pessoa está identificada com esse Ego que se pensa separado.

Uma breve história…

Certa vez, um rapaz passou o dia todo pintando seu querido barco. Era seu hobby, sua paixão. Ao final do dia, com a tinta do barco ainda fresca, resolveu se deleitar com seu companheiro: colocou-o no lago para algumas remadas. Instantes depois, uma neblina começou a descer sobre o lago e o rapaz começou a voltar para a margem. Mas, no meio da neblina, um outro barco veio de encontro e o atingiu em cheio, raspando a pintura. Esse rapaz ficou irado! Começou a xingar, insultar: “Como assim você bateu no meu barco? Está cego? Não vê por onde rema?”. Eis, então, que o outro barco se aproxima um pouco mais e o rapaz nota que não havia ninguém no comando do barco…

Pergunta: para onde foi a raiva do rapaz que teve a pintura do barco danificada?

A raiva que uma pessoa sente tem que ser destinada a alguém, a algum sistema, a alguma organização, a alguma situação. Comumente, ela é direcionada para quem essa pessoa pensa ser (a raiva de si) porque, caso contrário, não seria possível destiná-la a ninguém.

Novamente: a questão não gira em torno de ter ou não ter um nome. Mas de quem cada um é, antes de qualquer rótulo. O que cada objeto é, antes de receber um nome. Todos os nomes são dados através da linguagem de um terceiro, de alguém externo.

Silhueta de mulher e espelho em pôr-do-sol. A mulher está beijando seu reflexo no espelho, que faz o mesmo.
123rf/prazis
  • Quem é você antes de pensar seu nome?
  • Quem é você antes de sentir a raiva?
  • Quem é você antes de sentir a alegria?
  • Quem é você antes de trazer uma idade utilizando apenas a memória de sua mente?

Se tem um vírus com o qual precisamos nos ocupar (e não pré-ocupar) em perceber, então esse vírus é o Ego.

Sobre o autor

Pedro Paschuetto

Pedro Paschuetto é natural de São Bernardo do Campo, SP. Iniciou sua trajetória em 2010, quando ingressou no curso de filosofia livre na academia, na Escola de Filosofia Livre, onde se formou como professor e orientou aulas de filosofia livre e meditação durante cinco anos.

Em 2011 iniciou sua prática de Tai Chi Chuan pelo Shobu Dojo, arte marcial que ensina desde 2014, ano em que se formou no curso de instrutor de Tai Chi Chuan pelo Espaço Caminho da Luz – professor Laércio Fonseca.

Fortemente identificado com a meditação, experimentou diversas técnicas. Se estabeleceu na Vipassana, tendo concluído seu primeiro curso em 2012.

Admirador das artes orientais, pratica Iaidô (espada japonesa) e Sumi-ê (pintura com tinta preta).

Por sua intensa necessidade de investigação da natureza da mente humana, em 2018 iniciou seus estudos em psicanálise.

CONHECE-TE é um projeto para a extinção do sofrimento por meio de autoconhecimento, consciência e verdade.

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