Autoconhecimento

O governo não tem culpa

Desenho de tábua comprida entre chão e um abismo. Do lado da tábua que está no chão, estão várias pessoas de pé. Do outro lado da tábua, sobre o abismo, está um político falando em um palanque.
123rf/sentavio
Escrito por Pedro Paschuetto

Para exercer a Medicina no Brasil, são necessários pelo menos 5 anos de estudos, mais 2 anos de estágio, e a obtenção do CRM. Para exercer o Direito, são 5 anos de estudos, mais estágio, mais OAB. Para exercer engenharia, também são pelo menos 5 anos de estudo, e o CREA.

Para se candidatar a um cargo político, as exigências são, basicamente:

  • Ter nacionalidade brasileira (ser brasileiro nato ou naturalizado);
  • Possuir pleno exercício dos direitos políticos;
  • Ser alfabetizado (saber ler e escrever);
  • Estar em dia com a Justiça Eleitoral;
  • Ser maior de 18 anos de idade na data da posse;
  • Certificado de reservista (apenas para pessoas do sexo masculino).
Pessoa colocando um papel dentro de uma urna lacrada com cadeado.
123rf/zerbor

Resumindo, não é preciso estudar absolutamente nenhuma ciência do conhecimento disponível para ser considerado apto a representar o povo através de um cargo político.

Cabe a pergunta: como isso é possível?

A partir dessa simples constatação já podemos refletir muito acerca da base onde a política nacional está situada.

Quem gosta de seu filho, confiaria sua educação a uma entidade educacional com profissionais que não tenham estudado pedagogia?

Quem gosta de seu animal de estimação, entregaria-o aos cuidados de uma pessoa sem qualquer estudo de medicina veterinária?

Aquele que zela por seu automóvel, confiaria-o a uma oficina mecânica sem profissionais devidamente qualificados?

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Além da formação em uma área do conhecimento, um requisito básico para ter competência em gestão de pessoas é a honestidade. Mas como se mede a honestidade de um representante se às virtudes não cabe diploma?

Para termos a capacidade de ser honestos, é preciso que a honestidade exista primeiro dentro de nós – o que significa dizer que temos que ser honestos conosco antes de sermos com outrem. É aí que moram os inúmeros obstáculos que dificultam esse desenvolvimento. Ao mesmo tempo em que, de forma inconsciente, demandamos que os governantes sejam responsáveis, escapamos da honestidade de enxergar a nós mesmos.

Seguiremos com uma reflexão acerca do que é exigido pelo povo:

Saúde

Existe muita cobrança por condições mais favoráveis à saúde e ao bem-estar social: construção de hospitais, investimento na formação dos profissionais, melhorias no saneamento básico, controle na qualidade da água, etc.

Você já refletiu se está de fato cuidando e se responsabilizando por sua própria saúde?

Estetoscópio sobre um caderno, com uma caneta ao lado.
Pexels/Pixabay

Você se dedica a uma atividade física com regularidade, antes de apenas perguntar ao médico qual o motivo das dores no corpo?

Está atento ao que compra no mercado? Prioriza o natural ao invés do industrializado, antes de perguntar ao médico o motivo das manchas na pele?

Mesmo consumindo um produto que contém várias advertências na embalagem: “Este produto contém mais de 4.700 substâncias tóxicas e pode causar dependência química”, você mantém na mente a ideia de que pode responsabilizar alguém por sua falta de ar?

Economia

Desvios de verba pública são expostos na mídia rotineiramente: desse ou daquele candidato, dessa ou daquela organização, dessa ou daquela secretaria, etc. Quem nunca se percebeu (ou ouviu de alguém) fazendo um comentário do tipo: “deveriam ter feito esta rua de outro jeito! jogaram dinheiro fora!”?

Antes de nascer em nós uma crítica ou julgamento sobre a má administração das finanças públicas, seguimos com as perguntas:

Administro bem o meu salário, gastando apenas o necessário? Ou tenho inúmeras dívidas contraídas?

Compro roupas e acessórios de vestimenta que sempre utilizo? Ou cometi excessos no meu guarda-roupa e tenho peças que não uso há anos?

Está equilibrada a porcentagem da renda que destino a investimentos em cursos – estudos e livros (educação no geral) – se comparada à porcentagem investida em lazer e entretenimento?

Tenho objetos que comprei, mas quase nem usei, esquecidos no “quartinho da bagunça”? Costumo dedicar um pouco de atenção para separá-los para doação, de forma que sejam úteis a alguém?

Quanto é gasto em prazeres da carne, se comparado ao quanto é gasto em serenidade do espírito?

Muitas notas de cinquenta reais organizadas em um círculo, com duas notas de cem reais no centro, uma na vertical e a outra na horizontal.
Pexels/Pixabay

O mundo está aí, e ele é o que é. Todo o sistema foi criado por inconsciência de quem realmente somos e não pode ser mudado, o que apenas pode ser alterado é o nosso olhar para o mundo. Não adianta dar murro em ponta de faca, pois só causará dor em você. Em contrapartida, o que nasce do seu interior pode, sim, ser alterado: sua atitude perante si mesmo, perante a vida, um comprometimento de alma em fazer diferente onde quer que esteja.

O autoconhecimento – se levado a sério – exige um aprofundamento da honestidade de si para si, de cada um com cada um. Este caminhar de forma sincera faz brotar a bem-aventurança que é propriedade de quem realmente somos. Desfazer-se das mentiras que impedem o reconhecimento da liberdade é árduo, mas cada passo traz em si um contentamento de alma que alimenta a continuidade dessa caminhada para dentro.

Sobre o autor

Pedro Paschuetto

Pedro Paschuetto é natural de São Bernardo do Campo, SP. Iniciou sua trajetória em 2010, quando ingressou no curso de filosofia livre na academia, na Escola de Filosofia Livre, onde se formou como professor e orientou aulas de filosofia livre e meditação durante cinco anos.

Em 2011 iniciou sua prática de Tai Chi Chuan pelo Shobu Dojo, arte marcial que ensina desde 2014, ano em que se formou no curso de instrutor de Tai Chi Chuan pelo Espaço Caminho da Luz – professor Laércio Fonseca.

Fortemente identificado com a meditação, experimentou diversas técnicas. Se estabeleceu na Vipassana, tendo concluído seu primeiro curso em 2012.

Admirador das artes orientais, pratica Iaidô (espada japonesa) e Sumi-ê (pintura com tinta preta).

Por sua intensa necessidade de investigação da natureza da mente humana, em 2018 iniciou seus estudos em psicanálise.

CONHECE-TE é um projeto para a extinção do sofrimento por meio de autoconhecimento, consciência e verdade.

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