Por séculos a criança era vista como um complemento do trabalho dos pais, trabalhando arduamente na agricultura e na criação de animais, entre outras tarefas ligadas ao cotidiano doméstico.
No século 18 e início do século 19, tínhamos uma infância bem mais curta, e discussões sobre o trabalho infantil começaram a surgir. Um menino ou menina com 5 ou 6 anos já trabalhava e era tratado como adulto no período da Revolução Industrial, sujeitando-se a condições muito duras e demasiado difíceis para a sua idade. Depois, o século 20 surge e culmina em três décadas atípicas, dos anos 70 aos 2000, em que a criança começou a ser vista como isso mesmo, uma criança. Era tratada e mimada como tal. O “mimo” continuou, de uma maneira diferente, com os pais comprando o tempo e satisfazendo-a com objetos.
A sexualidade precoce devido à cultura e ao fácil acesso à informação e conteúdos incentivou o que chamo de “criança mimada com liberdade libidinal”.
Hoje em dia verificamos que a infância inocente é um período relativamente curto, a criança assume-se como um ser sexualizado muito mais cedo, mas mentalmente não possui consciencialização real. Os nossos jovens são precoces mas ao mesmo tempo são infantilizados por mais tempo. Os adultos são considerados jovens durante mais anos e a velhice esconde em si traços joviais que antigamente não se verificavam.
Infância encurtada – A cultura e o maior número de informações (seja pela internet, seja pela interação social), que anteriormente não era recebida pelas crianças conjugadas com a evolução cerebral acelerada, consequência da evolução tecnológica, tiveram um papel preponderante nessa mudança. Essa tomada de conhecimento faz com que a criança reaja a estímulos, sexuais ou não, que na verdade ela não conhece, e para os quais nem o corpo dela está preparado. O acesso à vida adulta e a maior liberdade fazem com que a criança tenha pressa de chegar a uma fase da vida que quando alcançada a fará ter saudade de voltar a ser criança. A infantilidade adulta também promoveu esse encurtamento entre as fases, entrelaçando comportamentos entre ambas.
É a “Síndrome da Porta Giratória”. Numa eterna volta.
Sempre na tentativa de eternizar a fase em que a felicidade está na irresponsabilidade.
A criança na primeira ou segunda infância ou ainda na pré-adolescência ou na adolescência encontra-se na fase que ainda pode desfrutar de muitos benefícios e cuidados.
Em que tem muitos direitos e poucas obrigações.
A solidão proveniente da atual sociedade também favoreceu o uso da criança pelos próprios pais como companhia. Ser adulto é ter forma e conteúdo para promover e produzir amparo aos mais jovens. E não para usá-los como antídoto para a solidão ou depressão.
A adolescência prolongada – O consumismo gerou uma necessidade financeira que mantém os jovens mais tempo com os pais. As mães, com o reflexo da solidão, consequência da sociedade atual e devido aos novos perigos, como a violência e as más companhias, tornaram-se mais protetoras, induzindo assim o filho a ser mais dependente. As gerações anteriores tinham toda a segurança e nenhuma liberdade. A geração atual tem total liberdade e nenhuma segurança. É necessário parar e rever esta equação para encontrar o elo perdido e restabelecer o equilíbrio.
Entre o sim e o não, o tudo e o nada, há muito e muitas questões que necessitam de discussão.
Os adultos são garotões – A cultura e a questão financeira promoveram uma situação em que os homens pudessem ter mais acesso a mulheres mais novas, fazendo com que adotassem uma cultura de “garotões” para “igualar” a idade da companheira.
A velhice mais jovem – A internet fez com que pessoas mais velhas tivessem acesso a informações variadas. O mundo virtual já não é exclusivo dos mais jovens e é partilhado por gente de todas as faixas etárias. Os mais velhos são agora mais atualizados e pertencem ao mundo das novas gerações. A velhice não é tão pesada no sentido de que pode ser efetivamente vivida e deixou de ser vista apenas como uma espera pelo fim. A própria sexualidade mudou entre os mais velhos. O sexo continua a fazer parte da sua vivência e o namorar voltou a não ser visto mais como tabu numa idade avançada. Ser velho passou a ser apenas um número e não uma realidade que tem que ser necessariamente vivida dentro dos paradigmas que assistíamos em décadas anteriores. Assistimos hoje a uma terceira juventude na terceira idade!
Há desdobramentos nessas alternâncias.
Nem sempre damos conta de ser o que aparentamos e demonstramos.
Será que você quer o que deseja?
Há relações curtas que não são pequenas.
Mas há relações intensas que ganharam profundidade atravessando o tempo e as fases da vida. Construindo o que somos e mostramos ter conquistado.
É tão bom a verdade que nos habita ser vivida na integralidade.
Para viver um personagem há muito desgaste de energia.
Ser o que somos verdadeira e genuinamente é libertador.
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Isso começa na infância, pois o projeto do adulto é lançado nos primeiros anos em que a semente conhece seus próprios mistérios e segredos.
Precisa do tempo, do clima e de terreno fértil para florescer.
Assim somos nós.
Precisamos da família, da educação, da formação, da sociedade, da cultura.
Somos multifatoriais.
Que possamos ser conscientes e permitir que as gerações atravessem o tempo e se desenvolvam a cada fase como o projeto humano nos proporciona, crescimento, desenvolvimento, maturidade.
Caso contrário, estaremos todos na “Terra do Nunca”, como na história de Peter Pan, que não queria crescer!