O pai omisso é o parceiro que costuma facilitar o abuso da mãe narcisista, perversa, em detrimento dos próprios filhos. Ele, porém, é mais uma das vítimas sequestradas e é tão impedido de proteger a si mesmo quanto aos seus filhos. É menosprezado, jogado para escanteio e ignorado.
As atitudes e diretrizes da família, portanto, ficam apenas e tão somente a critério da mãe, esposa desajustada.
Se acaso o cônjuge resolver reivindicar o seu posto, ou mesmo se tentar proteger as suas crias das crueldades a elas inferidas, os resultados costumam ser tão devastadores, que dificilmente conseguirá se sentir seguro o suficiente a ponto de poder se confrontar com as situações armadas.
Nas ocasiões de impacto, as respostas são repletas de dramas, descontrole emocional e encenações de mais cenários abusivos. A ira é direcionada ao marido, que, no final, para não abandonar o barco com os filhos dentro e à deriva, acuado, decide se calar. E, em seu silêncio profundo, anuncia a sua subjugação, tornando-se coparticipante da trama abusiva, pela escolha da omissão.
Por outro lado, a esposa narcisista escolhe como marido alguém com um terreno emocional e com características de personalidade específicas para que possa colocar em prática as suas desequilibradas e estratégicas ações.
A fúria, o discurso e o drama das mães predadoras são estonteantemente intensos, a ponto de calar qualquer um que estiver a sua volta. O pai, muitas vezes ciente do que ocorre, ainda assim não tem coragem de colocar limites claros para proteger os seus filhos ou abandonar a família. A causa da desistência de si mesmo se deve a conceitos culturais e também ao resultado que os acuamentos emocionais no ambiente tóxico promovem no universo psíquico.
Por mais inacreditável que possa parecer, algumas vezes, a mãe é quem acaba pedindo a separação desse pai, acusando-o de inútil, invasivo e impondo outras desqualificações, quando ele tenta cuidar da família ao seu modo ou mesmo proteger os filhos.
Nessa trama sem saída, se o marido se cala, é acusado de inútil e omisso; se reivindica, é acusado de sem jeito, agressivo, egoísta, desumano e desrespeitador da autoridade materna.
Essas esposas muitas vezes avisam que vão se separar apenas para acuar mais ainda e dar uma espécie de “corretivo” no marido, imaginando que com isso a submissão poderá aumentar, e elas assim ganhariam mais espaço, ficando mais autoritárias e mais magnânimas em seus delírios de grandeza.
Você também pode gostar
- Entenda melhor a trama psicológica das mães narcisistas perversas
- De onde vem o comportamento das mães narcisistas?
- Como se blindar dos abusos das mães narcisistas perversas
Se, nessa fatídica oportunidade, o cônjuge estiver minimamente desperto, ele vai aproveitar para cair fora de vez, apostando que os filhos reconheçam a vida que têm e, quem sabe, a que podem ter.
Nesses momentos, porém, mais uma guerra costuma ser armada, e essas adoecidas mães farão de tudo para minar ainda mais a imagem desses pais. A tentativa é fortalecer a aliança de submissão dos filhos, aumentando o medo do desamparo e da rejeição.
As histórias que tenho em consultório mostram que, por mais que essas mães tentem denegrir a imagem do pai, a verdade de algum modo sempre aparece.
Certa vez atendi um filho único, que ficou grande parte de sua vida distante do pai, que havia se separado da sua mãe. Tinha lembranças das inúmeras vezes em que o esperou para passear e que ele não aparecia. Tinha lembranças da sua mãe falando mal dele, dizendo que ele era assim mesmo. Também tinha uma lembrança específica de um dia em que o pai veio visitar e trouxe um colar de presente para a sua mãe, provavelmente em uma tentativa de reconciliação, e que ela não aceitou. Poucas vezes o viu depois disso; mas, apesar das falas da mãe e da dor de não mais o ter encontrado, lembrava-se do pai sempre sendo afetivo consigo. Já adulto, casado e com filhos, a sua mãe adoeceu gravemente. Sendo ele seu único filho, largou tudo, passando um bom tempo no hospital com ela, até que inusitadamente o seu pai aparece, olha para ele e diz: “filho, você está cansado, vejo no seu olhar, vá para casa, tome um banho e, a partir de agora, este posto é meu”. Depois de um tempo, sua mãe faleceu e realmente amoleceu antes de partir, permitindo-se ser cuidada. O meu paciente também pôde entender toda a trama que houve, além da que ele próprio havia passado com a mãe.
Os filhos que vêm fazer terapia conseguem discernir, fazendo as reparações necessárias, cuidando de si mesmos, porque também são vítimas que sofreram bastante.
Quanto mais despertos, melhor!
Silvia Malamud