Têm-se confundido — muitas vezes — alegria com fuga de si. Lá fora, existem muitas barracas de pseudoalegrias para vender. Mas, ao retornar para o lar, torna-se perceptível que era apenas ilusionismo. Com a terceirização da alegria — se assim posso dizer — nos tornamos dependentes do excesso para que o sorriso apareça no rosto. Mas, na verdade, a alegria é discreta.
Quando era criança, me sentia alegre com o abraço dos meus pais, com a roupa que aquecia, com um inesperado banho de mangueira, com uma acerola colhida fresquinha do pé. Acordava feliz e dormia feliz. Criança sabe ser presente. Porém, com a educação para o futuro, aconteceu uma distorção. Enredei-me na crença — limitante — que dizia que a alegria estava ao passar no vestibular, e não estava. Que estava na formatura, e, mais uma vez, não estava. Então, parei no meio do caos exterior incessante e entendi que no futuro não há alegria, pois ela consiste em voltar os olhos para o momento e receber o presente. É nele que a alegria se encontra.
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Ao contrário da felicidade, que é perene — estado de bem-estar, a alegria é a sua manifestação. A felicidade é como um copo d’água parado; a alegria é como um copo tão cheio, que transborda. Ser alegre é estar em êxtase. E o êxtase está no presente. E o presente? Ele é sutil, discreto. Por isso, a alegria também é.
Em alguns versos do grande poeta brasileiro Mário Quintana (1906–1994), é possível ter um vislumbre interior do que é a alegria. Eu, pelo menos, sorrio ao final dos versos. E o sorriso é uma doce expressão da alegria.
DA DISCRETA ALEGRIA
Mário Quintana
Longe do mundo vão, goza o feliz minuto
Que arrebataste às horas distraídas.
Maior prazer não é roubar um fruto
Mas sim ir saboreá-lo às escondidas.
Que possamos saborear os nossos próprios frutos.
Que possamos sentir
a discrição extasiante da alegria.