Todo homem já nasce com medo, toda mulher não. No início, a vida se revela em sua faceta feminina. Dentro do ventre nos sentimos mulher e flores nos dão as boas-vindas.
Nos sentimos completos, pois na natureza já é bem sabido que o Princípio da vida é Feminino. O Feminino gera e nutre, cuida e mantém. Logo, no início da vida, ainda no ventre, todo ser se sente bem, se sente nutrido, cuidado, seguro. A segurança vem dela, do Feminino, da Mãe.
A Mãe é a grande onça, que protege, que defende sua cria, pois é tudo que lhe é caro. Seu rosnado, suas presas e suas garras são a força de seu Amor que mantém em bom cuidado essa cria tão querida.
Quando no ventre, como mulher, nos sentimos bem, como já dito. A Mãe está em nós, o Princípio Feminino está em nós, e nos lembra sempre que estamos seguros, que estamos cuidados. Sempre.
Quem tem medo, no colo seguro da Mãe?
Quando nasce, a mulher nasce então com a Mãe em si, pois a Mãe é seu ventre. O Princípio Feminino vibra latente e pulsante em seu corpo. Tudo está bem.
Já para os homens a coisa é um pouco diferente, ao menos no começo. Começamos mulher, mas em algum momento tudo pode mudar e os cromossomos nos levam para o outro lado de nossa faceta. Nesse lado, a energia é latente, potente, e chega assustando o pequeno ser, que até então conhecia apenas a suavidade das flores. Agora sente o trovão batendo forte em seu peito.
Mas então o susto de primeiro momento passa. O amor da Mãe que lhe abriga em seu ventre logo lhe preenche. Está tudo bem, ele sente.
Amor.
Assim a gestação continua.
Porém quando o bebê homem nasce, o medo lhe invade. Arrancado em um susto da segurança do ventre, ele chora. Sente o frio do mundo e a distância do lar. O lar é a Mãe, o lar é o Feminino.
O medo passa quando é devolvido à Mãe, não mais em seu ventre, mas em seu colo seguro e quente. Nos seios encontra a tão valiosa nutrição e nos braços a proteção.
A mulher sente o mesmo no colo da Mãe, porém ela se sente preenchida pela própria energia nutritiva que lhe aquece e lhe oferece no mundo o sentimento de proteção.
Assim nasce o homem com medo, e a mulher não.
Em nossa criação, o homem deveria ser guiado para logo nos primeiros anos sentir de novo o contato com a Mãe que nele habita. Pois não importa se seja homem, temos em nós os dois princípios, o Masculino e Feminino. Esses termos não são em si gêneros, mas as duas energias complementares que criam, mantêm e transformam o mundo. O anima e animus de Jung, ou Yin Yang oriental, são outros nomes comuns a essas energias.
O que nos foi perdido é o conhecimento de que o Feminino é o princípio, toda vida se origina dele. Assim o Feminino é o Princípio da vida; o Masculino é o Meio, pelo qual a vida advém ao núcleo; e a União de Feminino e Masculino é o Fim, que é um Novo Começo, o começo de uma nova vida.
Amor.
Desse modo a Tríade real é Mãe, Pai e Filho.
Assim pode ser que o Espírito Santo, da tão falada Trindade, seja nada mais do que a Mãe.
Voltando à criação dos homens.
Em seus primeiros anos o homem devia ser guiado pela Mãe, de modo que essa lhe apresentasse o mundo, lhe assentasse com zelo e cuidado no chão. Que ele, antes de pôr-se a se mover com suas perninhas e com suas pequenas mãos explorar o mundo, aprendesse a sentir este mundo no coração.
Depois que o bebê passa a andar, entra então a figura do Pai, e é com ele que o filho aprenderá a experimentar o mundo, pois o Feminino mostra e o Masculino vai pegar. (Lembrando que o Pai é o Princípio Masculino e não o gênero, podendo a mãe fazer esse papel.)
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Seguindo assim, o filho não sentiria uma desconexão com seu Feminino e perderia o medo da solidão que assola um ser que não se sente inteiro. A solidão vem porque apenas uma de suas metades está ativa, o Masculino, e o Feminino está amortecido, e com o tempo e a criação que se recebe na sociedade o aspecto Feminino se torna moribundo neste, e mesmo quando ativo está tão depreciado que o homem se sente apático. Para a mulher vale o mesmo.
Todavia, na menina, o princípio de criação seria o mesmo. A Mãe (o Princípio Feminino) lhe mostra o mundo e o Pai (Masculino) lhe ensina a experienciar. O bebê menina tem uma facilidade inicial, ela não se sente só, pois o Princípio Feminino está ativo em seu corpo lhe mantendo naturalmente conectada ao sentimento de inteireza.
Porém o que acontece com a mulher é que o Feminino em nossa sociedade foi apedrejado. A mulher se tornou criada.
Assim a menina mesmo que amada tem de um modo ou de outro sua essência deprimida, ela é nada e deve apenas esperar, sem voz deve se calar. Ela não mais mostra o mundo e, sem o aconselhamento natural da Mãe, o homem pega tudo para si, sem respeito e desmedido.
Se o mundo estivesse de fato doente, estaria aí a doença.
Mas não há doença, só a crença.
No passado, a mulher passou a ser renegada, jogada para dentro do lar, onde de fato ela tem o domínio (o Feminino é o lar), mas mesmo este domínio lhe arrancaram, deixando apenas a obrigação de zelar. O Feminino é fraco e incapaz — esta é a crença vigente, e tanto homem quanto mulher vivem nela em algum grau.
O sexo frágil como se diz. Gracioso sim, mas frágil não.
Se temos um dos polos doentes, o outro de imediato também se adoece. Se a sociedade depredou a Mãe a colocando como reles serviçal, o homem adoeceu, e o princípio ativo nele em desequilíbrio doentio traz a agressividade incessável.
Daí as guerras.
O homem só quer pegar, nem sabe por que, ainda se encontra preso ao comportamento do bebê que tudo o que vê toma nas mãos, e se lhe tomam, este chora. No entanto, homem não pode chorar, mas pode matar.
O homem quando se distancia do Princípio Feminino, se sente sem a Mãe, e sem a Mãe o bebê está só, daí o medo. Na natureza, um animal acuado ou se enfia em um buraco ou mostra os dentes. O homem em seu medo ou agride ou se esconde.
Aqueles que inconscientemente se sentem abandonados pela Mãe passam a odiar. E o ódio é incitado de preferência contra a mulher. Mas a mulher cheira a flores e as flores carregam o perfume que lhes faltam, buscam-na então incansavelmente. Porém como a mulher é mera posse, só buscam-na para tê-la. Claro que nem todos são assim, há aqueles que respeitam a mulher, estes não entraram no ódio contra a Mãe, mas esta ainda lhes falta, e de algum modo eles se escondem atrás da Mãe que ainda há neles. Mas esse Feminino está calado, foi depredado, e está doente, logo está debilitado, então não vibra. E, com o Masculino escondido atrás de um Feminino engessado, o homem nunca sai do lugar.
E o mesmo com a mulher.
Não enxergam mais o seu poder natural. O Feminino aprendeu a esconder e mesmo as que mostram não sabem o que têm. Na tenra infância aprenderam a servir. Algumas se rebelam, mas sem apoio, guia e amor, se perdem, e o ódio surge de seu Masculino também ferido.
Todos doentes, todos feridos. Tudo crença.
Todos solitários buscando no outro um alívio. Tantas perguntas, tantas respostas, nenhum sentido.
Por isso, para a cura do mundo, é apenas preciso o resgate do Feminino.
O resgate da Mãe, da grande Mãe. A Mãe natureza, Gaia Mãe Terra.
Quem mais sofre com a fome voraz do homem doente é a própria Mãe. O Princípio Feminino é destruído, consumido em brasa e carvão. O homem se nutre, se abriga, se regozija com os privilégios da Mãe.
A Mãe tem amor, cuida do filho, mesmo do filho ingrato.
Mas a Mãe sabe corrigir e se for preciso ela mostrará a verdade do mundo.
Então para cada um de nós fica um caminho: aceitar a Mãe, o Feminino. Seja homem ou mulher, aceitar em si o Feminino, toda sua glória, graça e poder. Assim se cura também o Masculino, e no equilíbrio se alinha de novo a harmonia do mundo. Feminino e Masculino de novo unidos, e dessa união o Filho nasce.
O Novo Começo. O Filho é o Amor.
De uma lição que aprendi com a Grande Mãe. Gratidão!