Comportamento Convivendo Energia em Equilíbrio Psicologia

Crianças e seus brinquedos

Criança segurando brinquedos coloridos vista de cima
Escrito por Andrews Amoramar

Somos crianças entediadas engatinhando em um mundo novo sem nada para fazer. Mas como crianças precisamos de ação, atividade; então a buscamos.

Nessa busca nos deparamos com algum brinquedo. A criança para. Olhos arregalados, boca aberta, dedos agitados. O brinquedo é lindo, sua forma e brilho nos atraem. Nossa curiosidade se infla a ponto de estourar. Olhamos ao redor e vemos outras crianças, todas com um brinquedo igual ou semelhante. Isso só faz a curiosidade aumentar. Tantas crianças maravilhadas com aquilo, só pode ser o que procuramos. A criança engatinha até a coisa.

Em suas mãos aquilo parece brilhar ainda mais. Ela sorri, agita o brinquedo acima de sua cabeça, o coloca no chão, vira de um lado, ajeita de outro, morde. O tédio por um momento desaparece.

Menino brincando com peças coloridas em cima da mesa
Foto de Pragyan Bezbaruah no Pexels

Depois de um tempo, o brinquedo parece perder o brilho. A forma já se desgasta e a criança começa a se ver entediada. Já deu ao brinquedo todo tipo de uso que seu cérebro infantil poderia conceber.

Frustrada, ela larga o objeto e segue em busca de algo mais para se ocupar.

Logo ela encontra um novo brinquedo, maior e mais brilhante. Animada, ela acelera o ritmo em sua direção.

Os dias passam e a criança segue encontrando e largando os mais variados brinquedos. Nada lhe satisfaz. Tudo cai facilmente no vácuo frio do tédio.

Assim somos. Grandes crianças procurando se distrair com seus brinquedos. Com a pequena diferença de que aprendemos a guardar os nossos.

Temos dois motivos fortes para isso. O primeiro é que, diferentemente da criança, a maioria não obtém o brinquedo sem esforço. E o segundo é que aprendemos que, quanto mais temos, mais admiração atraímos para nós.

Afinal, se essas crianças buscam por brinquedos em busca de satisfazerem-se, é de se esperar que a criança com muitos brinquedos seja vista pelos outros como alguém pleno. Pela lógica, isso seria sensato.

Na prática, a teoria se revela outra. Aqueles que acumulam grandes montantes de brinquedos percebem que continuam totalmente insatisfeitos. Como a criança no começo da história, ela facilmente se entedia com o novo brinquedo. E, quanto mais possui, mais tediosos todos eles se parecem.

Porém, mesmo insatisfeita, a criança rica de brinquedos jamais assume aos outros seu descontentamento. Em vez disso, ela se orgulha de si e procura sempre exibir o sorriso de sucesso que os outros esperam dela. Um sorriso que se desfaz no momento em que não há ninguém para olhar.

Com isso a criança aprende um novo modo de se distrair. Cultivar a admiração dos outros, ou a inveja, mas para ela tanto faz. A atenção para si lhe parece servir bem como ocupação. E as outras crianças, cobiçando todos aqueles brinquedos, se esforçam para obter o máximo que puderem, e assim o jogo começa.

Agora parece que a vida está encaminhada. Todas as crianças encontraram uma distração que lhes ocupe o tempo. Acumular brinquedos. Quem tem mais vence. As que nada possuem nada são. Ótimo, o jogo nunca acabará, pois há sempre mais para se ter, é perfeito. Agora todas as crianças têm o que fazer.

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Mas de noite, em suas camas, o jogo cessa, e algo lhes parece errado, elas ainda se sentem entediadas. Confusas se viram e se obrigam a dormir. No outro dia ouvem de todos os lados outras crianças alegando que estão muito felizes com seus brinquedos novos. As crianças confusas, acreditando serem as únicas confusas, acham melhor fazer o mesmo. Melhor não parecer diferente. Então fingem o mesmo contentamento e contam vantagem de suas novas aquisições. Pobres ingênuas, mal sabem que a confusão é geral.

Assim mais um dia se finda neste jogo incessante e sufocante, e as crianças voltam para suas casas cheias de novos brinquedos. Elas os ajeitam em suas salas e quartos e vão para cama, onde se deitam entediadas com o olhar vazio voltado ao teto e palavras ecoando na mente.

O que falta?

Sobre o autor

Andrews Amoramar

Anos atrás surgia por estas terras um pequeno garoto, um garoto que amou logo de cara o que viu. Um pequeno sonhador, explorador do quintal de casa, curioso pelas coisas afora. Esse pequeno amava desde cedo criar, e explorava sua criatividade com uma folha e lápis na mão, desenhando seus personagens preferidos.

Os anos passaram e o pequeno esticou em tamanho, porém a curiosidade e a ânsia em criar se mantiveram as mesmas. Hoje o garoto tem novas ferramentas e conhecimento para explorar mais e mais. Hoje o quintal é maior, relativamente maior. As experiências muito mais desafiadoras e às vezes assustadoras, mas o desafio maior é manter viva a alegria do garoto, mesmo em meio a tantos obstáculos.

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