Em meio aos muitos casos de ansiedade, depressão, e uso abusivo de substâncias, me deparo regularmente com pessoas com dificuldades para encontrar um sentido para a vida.
“Me explica melhor o que sentes.”
“É difícil definir em palavras, Celso. Tenho uma sensação de vazio. Me sinto saudável, tenho gratidão pelo meu trabalho e pela minha família, mas não consigo deixar de pensar que falta alguma coisa na minha vida.”
“Entendo. É possível que as tuas escolhas tenham sido influenciadas pelos teus familiares e amigos?”
“Não entendi a tua pergunta.”
“Quando decidiste seguir uma carreira, quando tiveste que escolher entre diferentes caminhos, profissionais e afetivos, levaste em conta o que os teus parentes e amigos pensavam?”
“Creio que sim. Não parei para pensar nisso, mas faz sentido. É errado pedir conselhos para quem nós confiamos?”
“Não se trata de ser certo ou errado. Estou tentando estabelecer a originalidade das tuas escolhas.”
“Me sinto tenso quando tenho que tomar decisões importantes. Tenho medo de errar.”
“Errar ou perder?”
“Errar e perder.”
“Deixa eu te explicar uma coisa. Ninguém consegue viver sem cometer erros. Mesmo assim eles são relativos: o que para mim é certo, para ti pode ser errado. Trocar ganho financeiro por mais tranquilidade, por exemplo. As pessoas diferem em relação ao que é o certo e o errado.”
“É verdade.”
“Perder é diferente. Se eu não faço uma escolha verdadeira, eu não corro risco de perder.”
“Podes explicar melhor?”
“Quando eu escolho um caminho, todos os outros se fecham. Porém, outros caminhos se abrem na minha frente. São consequência da minha escolha.”
“Agora eu entendi, Celso! Sou ruim de fazer escolhas. Tento contorná-las, para fugir das perdas.”
“Esse mecanismo pode fazer parte da tua sensação de vazio. Teremos que trabalhar nisso.”
“Estou disposto, mas sinto que não será fácil mudar algo que fiz durante toda a minha vida.”
Tentar conciliar escolhas que se opõem é uma das causas comuns da nossa sensação de perda de sentido da vida.
Quero ter uma relação exclusiva e poder conhecer novas pessoas. Quero ter tempo livre e dobrar os meus rendimentos. Quero conhecer os meus filhos, mas não aceito ser contrariado.
Vivemos em um mundo de respostas fáceis, de excessiva simplificação. Os clichês de felicidade nos assombram.
“O filho do fulano passou naquele concurso e tu estás desempregado.”
“A tua prima já está grávida do segundo filho e tu ainda estás solteira.”
“O vizinho já trocou de carro duas vezes e continuamos com o nosso carro velho.”
A imagem de felicidade criada pela repetição de padrões de sucesso incorporados na nossa cultura, frequentemente, soterra o que é realmente importante para cada um de nós. Isso torna cada vez mais distantes nossos sonhos inconfessáveis.
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A nossa natureza é capaz de criar soluções únicas e que podem não ser compreendidas pelos que estão próximos de nós. Essa mesma natureza nos dá a habilidade de ocultar nossa originalidade pelo temor de humilhação.
Somos todos únicos e complexos. Os outros não podem nos ajudar nas escolhas fundamentais da vida. Somos nós que temos que nos dispor a correr riscos.
A construção do sentido da nossa vida passa, necessariamente, por erros e acertos. Todos pessoais e intransferíveis.