Depois de terminar uma aula em que os alunos perguntavam como era se formar em Psicologia, fiquei me perguntando o que mesmo falávamos e o que de fato eles me perguntavam.
Essa ideia de formação, de concluir um curso que irá nos formar, é algo totalmente carente de discussão, pois de fato a formação nunca acaba e, se não continua de uma forma, continua de outra. Por isso podemos pensar que algumas escolhas formarão nossos pensamentos, por conseguinte nossa pessoa; outras escolhas, por sua vez, irão deformar. Como sabemos se estamos nos formando ou deformando? Essa é uma pergunta que vale a pena.
Perguntas silenciosas e angustiantes sobre o que é fácil ou difícil de conquistar, sobre essa ou aquela abordagem para se trabalhar, atravessaram a conversa.
As abordagens são só as abordagens, e qualquer preferência pessoal por uma delas é somente isso, uma preferência pessoal por uma delas. O tipo de abordagem não importa, assim como o tipo de pesquisa também não. Em uma palavra, há o(a) psicólogo(a) que respeita a si e ao outro, e há o que não respeita; há pesquisas boas, e há pesquisas ruins. Claro que isso contém um caminhão de questões éticas, técnicas, filosóficas e psicológicas, mas o princípio é simples. Jung disse uma frase de efeito que me socorre nesse momento. Ele falou algo no sentido de dominar todas as técnicas e entender todas as teorias; mas, quando estiver atendendo um paciente, ser apenas uma alma diante de outra alma, ou seja, esse outro é gente como a gente.
Toda essa questão de formação, de dificuldade, de sentido e conquista me levou para minhas próprias memórias. Em certa música, Raul Seixas começava dizendo que passou fome ao migrar do Nordeste para o Sudeste em busca de se tornar artista, mas foi tão fácil conseguir seu desejo, que então se perguntava: “E daí? O que aconteceu entre a fome e o sucesso?”
Lá para o final da história de Harry Potter, em uma conversa no além com Dumbledore, ele perguntou o que aconteceria, se não voltasse para a vida em Hogwarts. Seu professor lhe respondeu simplesmente que ele iria seguir em frente. Mas ele já não havia entregue sua vida pela causa de deter o mal encarnado em Voldemort? Já não tinha entendido tudo em sua vida? O que mais seria ou haveria nesse seguir em frente? E, na saga “O Senhor dos Anéis”, Gandalf disse que não iria pedir aos hobbits que não chorassem, pois nem todas as lágrimas eram um mal. Qual seria o bem de chorar?
Quando estava próximo do final de sua vida, já às voltas com a loucura de que sofreu, Nietzsche escreveu sobre o amor fati, que dizia sobre aceitar a vida e amá-la no momento em que era vivida. Afinal, o sofrer humano enseja propósitos muito mais elevados e não vislumbrados no momento presente do que podemos supor sem vivê-los.
Iniciar uma carreira, de qualquer forma (entre elas, entrando em uma faculdade) é algo sofrido, embora claro, fascinante e delicioso. Muitos acham que na faculdade se passa a melhor época da vida, mas isso também é só o que muitos acham. Estudar Psicologia, sobretudo em uma época sem precedentes como a que vivemos, é algo realmente extraordinário, principalmente pelo fato de que não terminará quando daqui a pouco tempo (cinco anos passam voando) cada formando receber seu CRP.
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Títulos sempre abrirão portas, com certeza, mas serão nossas escolhas e condutas que as manterão abertas (e também as fecharão). Nas palavras de um querido professor que ainda tenho em minha vida: “nascer dá trabalho!”