A casa própria é um sonho que resistiu ao tempo, às circunstâncias, aos acontecimentos. Nesse símbolo externo, há por trás um pedido da alma. Para retornar ao verdadeiro lar antes de se externalizar através das paredes sólidas.
Muitas vezes a casa só é vista através da perspectiva estética, mas ela é como um espelho que reflete nossas memórias, histórias e personalidades. É uma linguagem pela qual expressamos o nosso íntimo. Ou pelo menos assim deveria ser. Quando aceitamos uma moradia despersonificada, não conseguimos nos encontrar no mundo. E não se trata de serem necessários móveis caros para tal, e sim de habitar onde se vive no presente. Pode ser pequena, alugada, mas que seja de fato um reflexo que não esconde as imperfeições. Às vezes tem um rejunte que não está mais tão claro ou uma parede que mostra pelas manchas a continuidade da vida, mas tudo bem. É assim também dentro de nós. Surgem sentimentos em situações que são rotulados de ruins, como raiva e tristeza. E faz parte do habitar. De ser um habitante.
Nossa primeira casa é o corpo de uma mãe. Ele era moldado por meio do crescimento gradual da vida presente no útero. Depois que nascemos, passamos a residir na própria constituição física e ela é nossa segunda habitação que nos acompanhará até o momento da partida. O corpo casa deve ser assim tratado não apenas pela estética com cuidados faciais ou alimentação adequada, mas porque abriga a nossa matriz: a alma eterna.
A terceira morada, feita muitas vezes de paredes de cimento, é uma estrutura onde o corpo poderá será envolvido. Quando o abrigo é tratado com verdade, ele não trará uma experiência de talvez repressão dos sentidos e sentimentos, mas será uma extensão corporal e, portanto, tão vivo quanto.
Ocupar a própria casa pode ser dançar pela sala ou cozinha. Pode ser chorar no banheiro. Pode ser correr pelo jardim. Não existem limites de ocupação para um ser que se reconheceu ilimitado. Por isso, as tendências não são necessárias quando se tem um peito aberto disposto a externalizar a morada interior.
E não, não há problema em ver referências de outras residências, mas desde que sirva apenas como inspiração e não com a finalidade de reprodução. Estamos vivendo um tempo em que muitas habitações são praticamente iguais e, assim, não há espaço para o único e singular. Que é a própria existência.
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Proponho um simples exercício. Colocar uma música que te traga bem-estar. Deitar, fechar os olhos e apenas respirar. Estabelecendo assim um contato com a casa corpo. Depois lembrar-se de detalhes da residência em que viveu e foi mais feliz na infância (você pode ter morado em várias, como eu). Depois, desenhe-a à sua maneira, com os detalhes que mais te traziam alegria, conforto e bem-estar. Nossa criança interior sempre sabe o que é fundamental e ela trará de volta ao presente não a casa em que viveu, mas a chama viva da sua simples e verdadeira essência. Que é ser feliz onde quer que habite.