A pandemia da Covid-19 provocou o distanciamento social, necessário para a preservação da vida e para evitar o contágio da doença em ritmo e proporções incontroláveis, as pessoas foram obrigadas a um período de quarentena.
Todas as atividades fora de casa, com exceção de algumas essenciais aos cuidados para a resistência e a sobrevivência à doença, foram paralisadas.
As pessoas foram cerceadas de sua liberdade, de seu direito de ir e vir, das relações interpessoais estabelecidas em todos os âmbitos da vida cotidiana — na escola, no trabalho, na igreja, no clube, na academia, etc. O contato com o mundo externo é por meio da tecnologia de comunicação disponível e se percebeu o quanto ela é insuficiente para romper a solidão e o distanciamento. Todos gostam de contato físico, de estar junto, de ver ao vivo, de se divertir.
Os noticiários vão sinalizando o monitoramento da doença e trazendo a angústia, a ansiedade e o estresse. Vamos tomando contato com pessoas que conhecemos ou não e que sucumbiram à doença. Defrontamos a dura realidade de que o processo de restabelecimento tende a ser longo e árduo.
Esse cenário vai provocando descrença, desesperança, fadiga, irritabilidade, dores crônicas, agitação mental, transtornos do sono, instabilidade emocional e compulsão alimentar.
Por mais que a mídia tente trazer conforto às pessoas, orientação sobre como se manter mental e fisicamente saudável durante a quarentena, ainda há pessoas que não conseguem superar a tristeza pelo isolamento e a falta de acolhimento. Algumas passaram pela realidade de ter perdido entes queridos.
Uma das causas do ganho de peso é a compulsão alimentar, substitutiva da carência emocional. Motivo até de piadinhas na internet sobre o antes e o depois da quarentena, comer se tornou um meio de saciar a necessidade de proteção, de curar de alguma forma, as dores emocionais, de se distrair. Concomitante a isso, a vida acabou se tornando mais sedentária.
A ingestão de alimentos funciona como uma válvula de escape para lidar com as adversidades e incertezas do momento de pandemia e de distanciamento social. Para muitas pessoas, comer representa ter prazer e felicidade.
Os gatilhos da fome
Não há nada de errado em buscar prazer ou conforto na comida. O problema é quando essa situação se torna corriqueira e se perde o controle da frequência e da quantidade na ingestão de alimentos.
Quando a pessoa tem uma consciência corporal apurada, ela é capaz de diferenciar o que é um gatilho físico da fome, quando o organismo precisa do alimento, de um gatilho emocional da fome, que algumas pessoas não conseguem diferenciar e confundem sensações de ansiedade, de frustração, de tristeza, de raiva, de vazio, com a sensação de fome.
Imagine uma pessoa que acabou de almoçar e já sente uma necessidade de comer alguma coisa e pior, sente que deve comer até se sentir empanturrada. Esse é um gatilho emocional da fome.
O que é o comer consciente
Comer consciente é ter a noção exata de que a alimentação é fundamental para manter o corpo e a mente em funcionamento, pois envolve os nutrientes e as substâncias que o organismo precisa para viver, sem desequilíbrio na quantidade, no tipo de alimentos e na frequência da ingestão.
Significa comer com atenção plena para obter prazer e saciedade, usufruindo do momento, para transformar a relação pessoal com a comida e com a forma como a pessoa se alimenta.
Tudo o que é diferente de comer para satisfazer fisicamente o organismo e se tornar um ato destinado a diminuir as tensões e insatisfações emocionais, deixa de ser consciente, da mesma forma que se houver descontrole na ingestão de alimentos.
As dietas restritivas não são eficazes quando se trata da ingestão descontrolada de alimentos decorrente de questões emocionais.
O controle dos gatilhos emocionais da fome e a prática do comer consciente
O autoconhecimento é o facilitador da aquisição do equilíbrio na alimentação e do controle dos gatilhos emocionais da fome.
O comer consciente deve ser praticado, é um exercício de autoconhecimento e pode ser realizado, principalmente durante a quarentena. Acompanhe e pratique os passos a seguir:
- Desligue-se da televisão, do rádio e do celular ao iniciar a refeição.
- Prepare-se para comer, observe os alimentos.
- Esteja confortável à mesa, porém não de forma relaxada, comer consciente é um trabalho a ser feito com atenção e amor.
- Utilize os talheres adequadamente. Não vale substituir o garfo pela colher para agilizar a ingestão da comida, excluir a faca ou algo semelhante.
- Coma devagar, saboreando os alimentos, sentindo o aroma, observando as cores.
- Pense nos alimentos do ponto de vista da origem, de como eles podem ter sido processados, de como são produzidos, de como chegam até à sua mesa.
- Analise quais as sensações desse momento para você, quais são os seus sentimentos, a gratidão, a alegria, a satisfação, o conforto.
- Evite pensar sobre as calorias, os nutrientes e a composição dos alimentos, não é o momento de estresse sobre se são mais ou menos impactantes na massa corpórea, essa etapa faz parte da compra dos alimentos ou da preparação do cardápio.
- Tente perceber o seu grau de saciedade na refeição, ela deve ser suficiente. Evite pensar no que pode comer depois.
- Conclua a refeição agradecendo e refletindo sobre a oportunidade de tê-la à mesa.
A quarentena trouxe muitos transtornos para a vida das pessoas, mas ela pode ser o momento de transformação que todos precisavam nas suas vidas. Uma dessas transformações pode ser a relação com a comida. O mindful eating é um instrumento para essa mudança.
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Praticar o Mindful Eating é estar presente ao comer, explorar as sensações que a comida proporciona, cultivar estados mentais positivos que nos apoiam a ter alegria e entusiasmo para encarar os desafios. Esse ato permite a concentração no momento e o desligamento do que é aflitivo e causa desequilíbrio emocional. É individual, portanto pode ser feito sem companhia.
O Mindful Eating e a quarentena podem ser aliados, porque durante esse período, a prática diária, em todas as refeições, do comer consciente, pode ajudar a ter resiliência e motivação para lidar com esse momento difícil. Reflita sobre essa proposta e pratique durante um período de pelo menos 21 dias. Constate os resultados!