Se você já quis falar sobre feminismo e não sentiu que tinha toda a base necessária para isso, significa que você entende muito bem qual é a importância desse conjunto de movimentos sociais e políticos que tem como objetivo garantir a equidade de direitos e de condições de vida para homens e mulheres.
Historicamente, a maioria das sociedades do mundo se construiu com base no patriarcado, no qual o homem tem poder sobre tudo, inclusive sobre as mulheres e as vontades delas. Com a ideia de que os homens são seres superiores e dominadores e que as mulheres são inferiores e submissas, a objetificação do corpo feminino e a desigualdade entre os gêneros passou a imperar.
Para combater as agressões físicas, psicológicas, verbais e morais às quais as mulheres são submetidas diariamente, exclusivamente por serem mulheres, no século XIX surgiram os primeiros movimentos sociais que poderiam ser associados ao feminismo, na Europa.
Desde então, mulheres de todo o mundo lutam por seus direitos e por condições de vida iguais às dos homens, por meio do feminismo, propagando a ideia de que elas também são seres humanos e não objetos de prazer masculino.
Direto ao ponto
O que é sororidade?
Um dos termos mais populares do feminismo é “sororidade”. Essa palavra é utilizada para falar sobre situações nas quais as mulheres se unem para se ajudar ou para combater uma injustiça, mas o significado do termo vai muito além disso.
Em uma sociedade patriarcal, as mulheres sempre são colocadas umas contra as outras. Elas precisam abrir mão de suas belezas para atender aos padrões, devem disputar a atenção dos homens e precisam ser melhores que as outras, se quiserem se destacar em algum âmbito de sua vida. O nome disso é competição feminina.
Sendo assim, a suposta rivalidade natural que existe entre as mulheres nada mais é do que uma construção machista para que elas estejam sempre sozinhas e vulneráveis à ação de terceiros. A sororidade é um esforço de garantir que as mulheres terão apoio, respeito e que serão ouvidas quando procurarem outras mulheres.
A sororidade não tem como objetivo promover o amor entre todas as mulheres. É possível praticar esse princípio e ainda assim não gostar de alguma mulher que já te fez mal, por exemplo. É importante destacar que a sororidade não deve ser aplicada de forma individual, para casos específicos. Ela diz respeito ao apoio mútuo entre as mulheres, a partir do qual é possível que uma mulher lute por questões que não a afetam diariamente, mas que ela sabe que afetam outras mulheres.
Um exemplo de como a sororidade pode ser colocada em prática é o esforço que uma mulher privilegiada deve fazer para auxiliar aquelas que têm menos condições financeiras, por exemplo. A sororidade também se mostra quando uma mulher branca se posiciona contra as situações de racismo, que afetam diariamente as mulheres pretas.
O que é empoderamento feminino?
Se você está estudando sobre feminismo, outro termo com o qual você vai se deparar é “empoderamento feminino”. Interpretado erroneamente em muitos casos, há quem acredite que o empoderamento feminino é um sinônimo de tornar as mulheres mais poderosas do que os homens. Esse não é o propósito.
Empoderamento feminino é a tomada de consciência por parte das mulheres de que elas não devem se submeter ao patriarcado para serem elas mesmas na sociedade. Os homens têm poder sobre as mulheres e o exercem de inúmeras formas; mas, uma vez que elas tomam consciência disso e lutam contra essa opressão, por meio do feminismo, a sociedade pode passar por mudanças.
Em vez de uma mulher se curvar aos desejos do marido, por exemplo, ela reconhece que é dona de si e que tem direito sobre o próprio corpo. Esse é um caso no qual o empoderamento feminino existe de forma individual; mas, para que ele seja eficiente, é preciso que se instale na sociedade de forma coletiva. Como assim?
Não é possível falar em empoderamento feminino na sociedade enquanto ainda há mulheres que sofrem violência doméstica, que são agredidas pela cor de pele diferente da branca, que são ofendidas por não terem um corpo que se encaixa nos padrões de beleza. Uma sociedade só terá colocado o empoderamento feminino em prática, se todas as mulheres estiverem em pé de igualdade e, além de serem iguais aos homens, forem iguais entre si.
Dessa forma, o empoderamento feminino é a conquista de direitos e de melhores condições de vida para todas as mulheres, principalmente aquelas que não são privilegiadas na sociedade. É essencial que se faça essa distinção, já que, em muitos casos, somente as mulheres brancas, magras e ricas é que são vistas como exemplos de mulheres empoderadas.
Movimentos feministas
Depois de entender os conceitos básicos e mais disseminados sobre o feminismo, você vai aprender quais são os movimentos feministas de maior destaque na história e como eles foram representativos para as mulheres.
O primeiro movimento feminista reconhecido dessa forma, que integra a primeira onda do feminismo, foi a luta pelo sufrágio feminino, ou seja, pelo direito de as mulheres votarem em seus representantes. Ele aconteceu do final do século XIX ao começo do século XX, em várias partes do mundo.
Os protestos tinham como objetivo mostrar para a sociedade que as mulheres também são cidadãs e, portanto, devem poder escolher quem tomará as decisões que irão afetá-las. Depois das manifestações, as mulheres conquistaram o direito ao voto e, consequentemente, passaram a ser entendidas como cidadãs.
Outro movimento feminista relevante foi o que ficou conhecido como a queima de sutiãs. Segundo as teorias feministas, o sutiã é uma peça de roupa que preserva e representa a opressão sobre os corpos femininos, que devem estar sempre modelados. Os espartilhos, antes dos sutiãs, cumpriam esse papel, bem como as cintas modeladoras.
Em 1968, enquanto acontecia a eleição da Miss America, cerca de 400 mulheres feministas invadiram o evento, que enaltece os padrões de beleza, pendurando uma faixa com os dizeres “Liberação Feminina” no salão da competição.
As atenções do mundo todo se voltaram para elas. Além disso, espalharam pelo chão todos os acessórios ligados à feminilidade que oprimem as mulheres até hoje. Embora o nome do movimento faça referência a uma queima de sutiãs, esse fato em si não aconteceu nesse momento.
Um exemplo de movimento feminista mais recente foi o uso da hashtag “#MeToo”, que em tradução livre para o português significa “Eu Também”, a partir da qual mulheres de todos os lugares do mundo passaram a denunciar os assédios que sofreram. Inclusive, até mesmo astros de Hollywood foram expostos por terem cometido assédio sexual contra mulheres, como o produtor Harvey Weinstein.
Feminismo no Brasil
O movimento feminista no Brasil seguiu a tendência dos movimentos feministas que aconteciam em todo o mundo, tendo início ainda no século XIX e permanecendo ativo até os dias atuais, contando com o poder de influência da mídia e da internet.
Na época de desenvolvimento do feminismo no Brasil, as lutas das mulheres eram pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, sobretudo os direitos de votar, de trabalhar e de estudar, e pela abolição da escravidão, visto que as mulheres pretas viviam sob esse regime.
Embora as mulheres possam votar, trabalhar e tenham direito ao estudo, não é possível afirmar que o feminismo terminou seu trabalho. Ainda há desigualdade de gênero, e mesmo as mulheres que têm o direito de estudar não apresentam condições de fazê-lo, por problemas como a miséria e a fome. Ainda há um longo caminho a enfrentar.
Mulheres feministas
A melhor forma de entender como os conceitos do feminismo são percebidos na prática é tendo feministas famosas em quem se inspirar. A seguir, você vai conhecer aquelas que entraram para a história e se destacaram em suas áreas de atuação.
Dandara é uma mulher que simboliza a luta das mulheres pretas contra o racismo e contra o patriarcado. Esposa de Zumbi dos Palmares, pouco se sabe sobre a história dela, mas há hipóteses de que ela foi uma guerreira que dominava a capoeira.
Outro símbolo da luta feminista é Maria Quitéria de Jesus, que se consagrou ao entrar para o exército nacional vestida como um homem se veste. A lenda de Mulan e a história de Diadorim, em “Grande Sertão: Veredas”, são inspiradas em mulheres que se disfarçavam para lutar. Joana D’Arc também guerreava, mas sem esconder seu gênero.
Nísia Floresta é um nome pouco conhecido, mas que foi essencial para a história do feminismo no Brasil. Ela foi a primeira educadora feminista do país e a primeira mulher a publicar textos em jornais. Além disso, ela é autora da obra “Direito das Mulheres e Injustiças dos Homens”, na qual abordava a necessidade de as mulheres terem direito à educação e ao trabalho.
Marie Curie é um dos nomes mais importantes da química, mas também é um exemplo de feminista. Vencedora de dois prêmios Nobel, ela foi a primeira a receber a premiação. Apesar disso, foi impedida de ingressar no Ensino Superior por ser mulher. Para driblar esse problema, Curie entrou em uma instituição clandestina de ensino para terminar sua formação acadêmica.
Pagu destacou-se não só por ser feminista, mas também por representar uma voz ativa na luta pelo comunismo. Casada com Oswald de Andrade, foi a primeira mulher a ser presa por um motivo político e produziu obras que abordavam as dificuldades de vida das mulheres pobres e a permanência da imposição de padrões de gênero.
E não poderia faltar nessa seleção duas feministas notáveis: Angela Davis e Simone de Beauvoir. As duas teóricas são responsáveis por desenvolver teses que abordam a relação entre patriarcado e racismo e o papel da mulher na sociedade, respectivamente, sendo referências para os estudos de gênero e de raça.
O feminismo negro
A influência de Angela Davis foi o que permitiu que o feminismo negro se desenvolvesse. Enquanto o feminismo branco analisa apenas a opressão que as mulheres sofrem por causa do gênero, o feminismo negro considera que as mulheres pretas sofrem uma dupla opressão, de gênero e de raça.
Assim, o feminismo negro é uma teoria que defende não só a equidade de gênero e a liberdade das mulheres, mas também a importância da luta por igualdade racial na preservação da juventude preta e de melhores condições de vida para as mulheres pretas.
O feminismo radical
Por outro lado, a teoria de Simone de Beauvoir parte de um determinismo biológico que pauta o feminismo radical. De acordo com essa vertente do feminismo, se uma pessoa nasce com uma vagina, ela automaticamente será oprimida, enquanto uma pessoa que nasce com um pênis automaticamente será uma opressora.
Embora o feminismo radical seja útil para entender como a feminilidade e a masculinidade se constroem na sociedade, é importante ressaltar que, em muitas situações, a comunidade transsexual não está incluída nessas discussões, por não se identificar com seu gênero de nascimento.
Algumas frases feministas
As frases feministas permitem que os conceitos desse movimento social sejam disseminados com mais facilidade, mas também são essenciais para promover reflexões sobre a desigualdade de gênero. A seguir, confira algumas frases feministas para se inspirar.
“Eu não sou livre enquanto alguma mulher não o for, mesmo quando as correntes dela forem muito diferentes das minhas.” – Audre Lorde
“Pela maior parte da História, ‘anônimo’ foi uma mulher.” – Virginia Woolf
“Independentemente da origem, existe um sofrimento que é nosso. Meu, que fui criada na Barra, e da menina da favela da Maré. Ela tem uma vida muito mais difícil, claro. Há um abismo entre nós, mas nos encontramos na dor.” – Taís Araújo
“Não se nasce mulher, torna-se mulher.” – Simone de Beauvoir
“Algumas pessoas perguntam: ‘Por que a palavra feminista? Por que não só dizer que você acredita nos direitos humanos ou algo assim?’ Porque isso seria um jeito de fingir que não são as mulheres que têm, por séculos, sido excluídas. Isso seria uma forma de negar que os problemas de gênero afetam as mulheres.” – Chimamanda Ngozi Adichie
Significado de símbolos feministas
Ao longo da sua jornada de estudos sobre feminismo, é possível que você se depare com símbolos feministas que não carregam um significado explícito. Para compreendê-los sem dificuldades, confira a lista a seguir.
1) Espelho de Vênus
O Espelho de Vênus foi adotado como um símbolo feminista, embora ele seja a representação astrológica e visual do feminino. Então, utilizar esse símbolo é uma forma de se referir ao poder feminino para promover mudanças na sociedade.
2) Feminismo negro
Um símbolo feminista que se parece com o espelho de Vênus é o símbolo do feminismo negro. Com um punho cerrado e erguido no meio do círculo da representação do feminino, é possível transmitir a ideia de que a luta das mulheres pretas não é só pela igualdade de gênero, mas também pela igualdade de raça. Esse símbolo não deve ser utilizado por feministas que não são pretas.
3) Transfeminismo
O símbolo do transfeminismo é a união do espelho de Vênus com a representação do masculino (uma flecha apontada para cima), de um punho cerrado em sinal de luta e de uma flecha com um traço no meio, representando um terceiro gênero, que se une ao feminino e ao masculino. Assim, é possível identificar a luta das pessoas transexuais dentro do feminismo.
4) We can do it!
Você já deve ter visto a imagem de uma mulher vestindo um macacão jeans, com uma bandana vermelha na cabeça, erguendo uma das mangas e mostrando a força de seu braço. O símbolo “we can do it!”, que em tradução livre para o português significa “nós podemos fazer isso!”, é uma referência sobre a união e a força feminina.
5) Lute como uma garota
Antigamente, lutar como uma garota era um sinônimo de fraqueza e de insuficiência. Porém, com a apropriação dessa frase como símbolo feminista, lutar como uma garota é um sinônimo de lutar por seus direitos com determinação, força e coragem.
O que é ser feminista?
Como o feminismo é um movimento muito plural, é comum que uma mulher compreenda que ela é feminista simplesmente por ser mulher, ou só porque não quer continuar sendo oprimida.
Porém, ser feminista vai muito além de ter uma opinião. Ser feminista implica lutar, agir para que o mundo seja mais igual para homens e mulheres. Essa luta se manifesta em atitudes, em palavras e em um estudo constante sobre a teoria feminista, para compreender o que tem sido feito no mundo e o que ainda está acontecendo.
Sendo assim, uma pessoa não é feminista só por utilizar algum dos símbolos do movimento, ou por acreditar que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos e as mesmas condições de vida. É preciso agir, ouvir, compreender e se abrir para discussões sobre o tema.
Como ser feminista?
Para colocar em prática tudo que você aprendeu sobre feminismo, sendo assim uma feminista, existem algumas coisas que você precisa fazer. A primeira delas é ter consciência de que o estudo nunca acabou. Não importa quantos livros você já leu ou a quantos vídeos assistiu, você ainda não sabe de tudo e sempre há mais a aprender.
Então continue sempre buscando ampliar os seus conhecimentos sobre as questões que afetam as mulheres, inclusive as mulheres que são diferentes de você. Uma vez que você estiver aberta a fazer isso, mostre também tudo que você aprende constantemente para as outras pessoas. Compartilhe seus conhecimentos e participe de debates sobre o tema.
Além do constante aprendizado e da busca pela conscientização de outras pessoas, você deve ouvir as mulheres que estão ao seu redor e as que estão distantes de você. Converse com mulheres mais e menos privilegiadas do que você, ouça o que as mulheres da sua família já experienciaram e entenda como essas vivências são contaminadas pelo patriarcado.
Demonstrar-se aberta ao diálogo e à escuta é um dos exercícios mais importantes, se você quiser ser feminista, porque mesmo com muito estudo ainda existirão questões que você não compreende integralmente e que só poderiam ser aprendidas se outra mulher compartilhasse as histórias dela com você.
Outro ponto fundamental sobre ser feminista é estar sempre aberta para mudar de opinião. Talvez você acredite que já fez tudo que poderia, ou que está sempre certa nos seus pensamentos. No entanto, esse tipo de comportamento te afastará de outras mulheres, e a união é essencial para essa luta. Colete inúmeros pontos de vista e esteja sempre aberta para rever seus conceitos.
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Por fim, se você tiver condições de ajudar as mulheres que são menos favorecidas que você, seja por meio do incentivo e do apoio a diferentes projetos, seja por meio de um suporte financeiro, você pode fazer isso. Mostre para essas mulheres que elas não estão sozinhas e que podem contar com a sua ajuda para receber algum tipo de orientação, para estudar ou para manter um negócio. É claro, faça isso dentro das suas limitações.
Se você quer ser uma feminista que inspira outras mulheres, também deverá participar de protestos e de manifestações que tenham como objetivo promover a igualdade de direitos e de condições de vida para as mulheres e para os homens. Posicione-se perante situações de opressão e defenda as mulheres que precisam, além de lutar por si mesma.
O feminismo não é um movimento individual. No processo de aprender sobre ele, provavelmente você se questionará sobre inúmeros comportamentos que você aprendeu a reproduzir, mas que não condizem com as suas verdadeiras vontades. Se conseguir, mude, mas tenha paciência com as mulheres que precisarem de mais tempo para mudar. Lembre que o feminismo não é só sobre você, mas sobre todas as mulheres de uma sociedade. Lute por todas!