Sempre gostei de cachorro, desde pequeno. Aprendi com meu pai a gostar deles. Quando eu era criança, ele tinha dois cachorros: a Piaba e o Jacaré, um casal de vira-latas, que viveu por muitos anos com a nossa família. Nessa época, morávamos no interior e o meu pai criava os cachorros para servir-nos de companhia e para espantar os animais silvestres durante a noite.
Lembro-me de que quando fomos morar na cidade meu pai logo tratou de arrumar um cantinho especial na nova casa para a Piaba e o Jacaré. Lá eles tiveram três filhotes. Um filhote morreu logo em seguida, os outros dois cresceram fortes e saudáveis. Quando completaram a idade de 3 anos, meu pai levou-os para o interior. Sofri muito com essa separação! Lembro-me de que fiquei até doente.
Assim que os cachorros chegaram no campo, papai trocou os nomes de Mary e Puff para Lampião e Raposa. Quando mamãe cobrou uma explicação de por que ele havia trocado o nome dos cachorros, papai disse: “A vida no campo não é fácil”. No princípio não gostei muito de Lampião e Raposa, mas aos poucos fui me acostumando e passei a entender as razões de meu pai.
Quando Piaba e Jacaré morreram, sofri muito essa segunda separação. Só não sofri mais porque um mês antes papai veio nos visitar e trouxe consigo Lampião e Raposa. Foi um verdadeiro encontro de família. Piaba e Jacaré estavam tão felizes que parece que estavam pressentindo que iriam morrer de velhice dali a três meses. Foi nessa época que meus pais me ensinaram sobre o ciclo vital dos seres vivos, isto é, que todo ser vivo nasce, cresce, reproduz e morre.
Sete meses depois da partida para o além de Piaba e Jacaré, meu pai trouxe do campo dois lindos cachorrinhos, filhos de Lampião e Raposa. Qual não foi a nossa surpresa quando ele disse que poderíamos chamá-los de Mary e Puff! Aceitamos a sugestão e a alegria voltou a reinar na nossa família!
Anos depois, quando me tornei adulto e interdependente financeiramente, passei a criar um cachorro. Como nessa época eu era estudante de filosofia, chamei-o de Apeíron. Era um cachorro lindo, da raça poodle. Ganhei-o pequenino, filhote ainda. Nessa época eu era solteiro. Foi a minha namorada que me deu. Anos mais tarde fiquei sabendo que aquele presente fora um teste. Minha namorada queria saber se eu era um rapaz responsável. Passei no teste. Três anos depois nos casamos.
Quando o nosso filho nasceu, o Apeíron já era um cachorro adulto. Aos poucos foi perdendo a vitalidade. Levamos para o veterinário e ele nos orientou a fazer o abatimento, o que rejeitamos imediatamente. Aplicamos todos os medicamentos prescritos pelo médico, mas uma semana depois ele veio a óbito. Eu e minha esposa sofremos muito, pois o Apeíron fora o nosso cupido. Em outras palavras: o Apeíron era como um filho para nós.
Já tinha passado mais de um ano da morte do Apeíron quando apareceu o Sadam, um cachorro da raça pastor-alemão. Ganhei-o de um colega de trabalho escolar. Quando a minha esposa viu o Sadam pela primeira vez não gostou dele. Ela disse que não daria certo aquele cachorro em casa junto com o nosso filho pequeno. Tentei argumentar o contrário, dizendo que ele traria inúmeros benefícios, mais fui convencido quando ela me mostrou um atestado que dizia que o nosso filho era alérgico. Ainda passei seis meses com ele, depois desse tempo doei-o a um colega também de trabalho escolar.
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Atualmente moro num ambiente em que não é possível criar cachorros. O meu sonho é morar numa casa grande, com quintal, para criar uma porção deles. Na verdade, eu sonho em criar nove cachorros, resgatar a dinastia canina de Piaba e Jacaré, Mary e Puff, Lampião e Raposa, Apeíron e Sadam, e o nono cachorro é para conquistar o coração do meu filho, que, diferentemente de mim, ama os felinos e já até criou três deles.
O último gato que ele criou foi o Tom, um gato feio e malandro. Ele encontrou esse gato na lixeira da vizinha, levou-o para casa, deu leite, carinho, afeto e quando ele ficou grande fugiu de casa com os outros gatos, deixando o meu filho em prantos. Eu aproveitei a ocasião e expliquei para ele a diferença entre os cães e os gatos. No final ele me disse: “Os gatos não têm sentimentos”.
Por fim, li para ele uma frase do livro “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, publicada em 1945: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros”. A minha esperança é que ele siga o exemplo do pai e passe a gostar mais dos cachorros do que dos gatos!