Todos nós, ao longo de nossas vidas, já fomos feridos por alguém. Isso pode ter acontecido de forma intencional pelo outro, ou não. Podemos ter sido magoados por alguém que amamos, por conhecidos ou por desconhecidos.
Há alguns anos o perdão passou a ser foco de estudos da Psicologia, o que gerou alguns estudos científicos sobre esse tema e também o desenvolvimento de workshops, cursos e treinamentos para que as pessoas aprendessem a perdoar. A Universidade de Stanford, por exemplo, desenvolve um dos maiores projetos de pesquisa sobre treinamento em perdão, o Stanford Forgiveness Project.
No artigo “Aspectos conceituais do perdão no campo da psicologia”, encontramos a definição de perdão do Dr. Bob Enright, um dos maiores estudiosos sobre o perdão, com mais de três décadas de pesquisa sobre o tema.
Para Enright, perdoar é:
uma atitude moral na qual uma pessoa considera abdicar do ressentimento, julgamentos negativos e comportamentos negativos para com a outra pessoa que a ofendeu injustamente, e, ao mesmo tempo, nutrir sentimentos imerecidos de compaixão, misericórdia e possivelmente amor para com o ofensor. (Enright, R. D. 1988, apud Santana, R.G. et al, 2012)
Os benefícios do perdão para a saúde física e mental
Por meio das pesquisas realizadas pelo Dr. Frederic Luskin e outros, chegou-se à conclusão de que o perdão pode ter efeitos benéficos sobre a saúde física e o bem-estar. É importante frisar que o maior beneficiado pelo perdão é você!
Entre vários benefícios, podemos destacar que perdoar:
Ajuda a “soltar a dor”, reduzindo a raiva e o ressentimento, evitando que essas emoções interfiram em outros relacionamentos, inclusive consigo mesmo.
Pode auxiliar na redução da ansiedade e nos efeitos do estresse, o que, por consequência, pode auxiliar na redução da tensão muscular e na qualidade de sono.
Pode favorecer uma melhora na autoestima.
Oferece uma oportunidade de aprendizado e crescimento.
Estimula o aumento de emoções positivas, com o otimismo, a esperança e a compaixão.
Você pode aprender a praticar o perdão
As pessoas muitas vezes não têm paciência para o perdão, mas querem uma resposta rápida e imediata e, quando isso não ocorre, desistem, seguindo com a dor e as emoções geradas pela situação. O perdão é um processo com o qual você tem que se comprometer e em que precisa investir. O tempo que leva esse processo é bastante relativo, dependendo muito do tempo de cada um, e isso pode estar relacionado à gravidade da situação.
Algumas pessoas encontram dificuldades em perdoar desde coisas pequenas do dia a dia até coisas mais significativas.
Você não pode mudar o passado, não pode mudar o que aconteceu com você, não pode mudar as atitudes das outras pessoas. Sobre nada disso você tem controle. Mas você é livre para escolher o que irá fazer com o que aconteceu com você.
Isso pode soar um tanto quanto clichê, mas é real.
Você é livre para escolher os fardos que irá carregar e o quanto eles irão interferir na sua vida, nas suas relações com os outros e com você mesmo e na sua visão de mundo.
Escolher iniciar um processo de perdão nem sempre é fácil, mas poderá lhe trazer inúmeros benefícios em todos os níveis. É preciso encarar a experiência vivida, ficar cara a cara com as emoções negativas geradas, buscar um novo significado para isso tudo e escolher se libertar para, a partir de então, vivenciar novas experiências. Isso tudo requer coragem e persistência.
O fato é que perdoar é uma escolha. Você é livre para tomar a decisão sobre onde irá investir a sua energia: se no processo do perdão ou se na manutenção das emoções negativas geradas pela situação.
Perdoar não é esquecer
Muitas pessoas acabam por resistir em perdoar ou se perdem muitas vezes nesse processo devido a alguns equívocos. Entre eles, os mais comuns são os que podem nos levar a entender que, para perdoar, é preciso esquecer o que aconteceu. Se houve um perdão real, você não vai ficar remoendo o que aconteceu e ficar “jogando na cara” do outro o tempo todo.
Dependendo da gravidade da situação, acaba-se de fato esquecendo, mas isso não é obrigatório.
Você pode até lembrar da situação, mas de forma que não desperte em você sentimentos, por exemplo, de vingança, raiva, ressentimento.
Perdoar não é voltar a conviver
Não é porque você perdoou alguém que você precisa voltar a se relacionar. Muitas vezes isso acaba não sendo mais possível. Mais uma vez a questão é em relação a você, em como você se sente a respeito e em como você escolhe viver, apesar do que lhe fizeram.
Perdoar não é justificar ou concordar
É muito saudável termos empatia, isto é, nos colocarmos no lugar do outro como forma de compreendermos o contexto de determinada situação e as atitudes de quem nos feriu, mas perdoar não significa que você tenha que justificar as ações do outro e nem concordar com essas atitudes.
Você pode perdoar mesmo entendendo que aquilo que o outro fez foi errado.
Por onde começar?
Lembre-se sempre de que perdoar é um processo, e o tempo que leva é muito individual.
Antes de mais nada, você precisa escolher, decidir encarar esse processo.
Com os avanços das pesquisas na área, existem diferentes métodos para facilitar esse processo. O que lhe trago abaixo é uma proposta de uma sequência de atividades que poderão auxiliá-lo.
Para exercitar o perdão:
1 – Tome a decisão de perdoar
O primeiro passo é a escolha – você deve decidir perdoar e se comprometer com isso.
Comprometer-se significa que você irá de fato assumir um compromisso com esse processo, pois ao longo do caminho você poderá se deparar com sentimentos difíceis de lidar, o que exigirá persistência.
O processo do perdão nos leva a ficar frente a frente com experiências e emoções que nos causaram dor, e muitas vezes deparamos com a tomada de consciência da dor que nós também causamos no outro. Nesse caso é preciso também se abrir para o autoperdão.
2 – Entre em contato com os seus sentimentos e coloque-os para fora
Pense na situação que lhe causou mágoa, ressentimento, rancor, raiva… Procure trazer à tona todas as emoções que você sentiu e vem sentindo.
Não se julgue, não reprima o que sente e não tente direcionar essas emoções para aquilo que você considera como correto sentir.
Não há certo ou errado nesse momento. Deixe simplesmente emergir.
Uma maneira bastante eficaz de fazer isso é escrevendo.
Coloque no papel tudo o que sentiu, direcionando as frases à pessoa a qual você escolheu perdoar.
Quando terminar, você poderá descartar essa carta.
3 – Procure focar no que essa experiência lhe trouxe de positivo
Todas as experiências pelas quais passamos, boas ou ruins, nos proporcionam algo de positivo.
Elas nos tornam mais fortes, nos proporcionam algum aprendizado, nos fazem rever nossos conceitos ou nos mostram o que não queremos fazer ou repetir.
E para você? O que essa experiência lhe proporcionou de positivo?
4 – Mude a pergunta
Quando terminar o passo anterior, em vez de perguntar qual foi a razão de terem feito algo a você, pergunte-se quais as razões que você tem para perdoar.
O foco é você e não o outro – o perdão é para você e para mais ninguém.
Feito isso, faça uma lista das razões que você tem para perdoar.
Imagine como seria a sua vida sem essa dor e sem essas emoções.
E as suas relações?
O que mudaria no seu dia a dia?
Quais benefícios para a sua saúde física e emocional o perdão pode lhe proporcionar?
Faça uma lista com todos os benefícios que você terá por ter escolhido perdoar.
Guarde essa lista com você para que possa recorrer a ela sempre que seja necessário recordar as razões pelas quais você optou perdoar.
5 – Estratégias para manejo do estresse
Entrar em contato com essas emoções pode desencadear uma dose extra de tensão.
Existem algumas técnicas que podem aliviar um pouco o resultado do estresse no nosso corpo, como fazer um exercício de respiração ou relaxamento, praticar atividades físicas e fazer algo que lhe proporciona bem-estar.
Aqui também não tem certo ou errado. O importante é que isso faça com que você se sinta bem.
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6 – Compartilhe com alguém; se for o caso, com um terapeuta
Você não precisa passar por toda essa experiência sozinha.
Divida-a com alguém que você ama e confia.
Se for o caso, busque ajuda de um profissional da saúde.
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Com amor,
Joyce R. F. M. Muzy
Psicóloga
CRP 06/73289
Referências bibliográficas
Harris, AH, Luskin, FM., Benisovich, SV, Standard, S., Bruning, J., Evans, S. e Thoresen, C. (2006). Um estudo randomizado. Jornal de Psicologia Clínica. 62 (6) 715-733.
International Forgiveness Institute, 2020. Disponível em: https://internationalforgiveness.com/. Acesso em: 20 jul. 2020.
SANTANA, Rodrigo Gomes; LOPES, Renata Ferrarez Fernandes. Aspectos conceituais do perdão no campo da psicologia. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 32, n. 3, p. 618-631, 2012. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932012000300008&lng=en&nrm=iso>. acesso em 20 de julho de 2020. https://doi.org/10.1590/S1414-98932012000300008 .
Stanford Medicine, 2020. Disponível em: https://sm.stanford.edu/archive/stanmed/1999summer/forgiveness.html. Acesso em: 20 jul. 2020.