Convivendo

Movimento Infância Livre de Consumismo

Escrito por Eu Sem Fronteiras

Você tem filhos? Como se sente quando seu filho assiste e televisão ou vê alguma publicidade de um determinado produto e logo deseja comprar? Se sente pressionado? Não é por menos.

Cada vez mais as propagandas se aproveitam das crianças para mostrar os seus brinquedos, vestuários e comidas. São empresas que crescem a partir desse consumo desenfreados dos pais para contentar  seus filhos.

Foto de quatro mulheres segurando um cartaz laranja escrito "eu quero infância livre".
Foto cedida pelo Movimento Infância Livre

Na contrapartida deste caminho, existe um movimento que questiona a publicidade, a comunicação mercadológica e como as empresas se prevalecem das crianças para venderem seus produtos, é o Movimento Infância Livre de Consumismo que é formado por mães, pais e cidadãos. O Eu sem Fronteiras conversou com o grupo para saber como funciona este movimento, o que defendem e como o consumo exagerado das crianças pode torná-las adultos endividados e infelizes. Confira a entrevista:

Eu sem Fronteiras: O que fato é o Movimento Infância Livre de Consumismo?

Movimento Infância Livre de Consumismo: O Movimento Infância Livre de Consumismo (MILC) é um movimento social formado por mães, pais e cidadãos comprometidos com uma infância livre de comunicação mercadológica dirigida às crianças.

Eu sem Fronteiras: Como surgiu?

MILC: O movimento nasceu em março de 2012 devido à indignação dos participantes do Grupo de Discussão Consumismo e Publicidade Infantil. Nessa época, alguns membros do grupo resolveram participar do debate proposto por uma campanha empreendida por uma associação da publicidade. Ao contrário do que seria de se esperar, rapidamente pudemos concluir que o verdadeiro intuito da campanha era culpabilizar exclusivamente os pais, colocando-os como únicos responsáveis por controlar a exposição de seus filhos às propagandas abusivas veiculadas atualmente. Assim, a campanha mostrou-se parcial, na medida em que defende a autorregulamentação e o “bom senso” dos anunciantes como os únicos controladores da publicidade infantil.

Eu sem Fronteiras: Qual o propósito de vocês?

MILC: O MILC defende o envolvimento de mães e pais no debate sobre a regulamentação da publicidade infantil atuando de forma vigilante, expondo ações de mídia que possam interferir no desenvolvimento da criança e fomentando o debate junto a pais e educadores sobre a relação entre mídia e infância.

Eu sem Fronteiras: Como é a relação da propaganda com as crianças?

MILC: Desleal. A propaganda no Brasil abusa da vulnerabilidade das crianças, utilizando personagens queridos, recursos tecnológicos e apelos de status para vender produtos.

Eu sem Fronteiras: Quais os cuidados que os pais devem ter? Como eles podem atuar neste sentido?

MILC: Sem mediação, a presença de um responsável para conversar sobre o conteúdo apresentando a propaganda acerta diretamente no alvo que são as crianças. O problema é que nem sempre os pais podem estar juntos da tevê. Preferir canais sem publicidade (hoje basicamente os estatais), DVDs e programação online sem publicidade podem ser uma saída.

Eu sem Fronteiras: Qualquer pessoa pode colaborar com vocês?

MILC: Sim, qualquer pessoa.

Eu sem Fronteiras: Qual a maior dificuldade encontrada?

MILC: Convencer as empresas de que estão fazendo mal às crianças ao lançarem mão de recursos abusivos na publicidade.

Eu sem Fronteiras: Como é a regulamentação no Brasil?

MILC: No Brasil a publicidade é autorregulamentada. Isso significa que os próprios profissionais de mídia decidem se uma propaganda é ou não abusiva. Na prática as queixas entre empresas são julgadas com mais rigor do que as denúncias de consumidores.

Você também pode gostar

Eu sem Fronteiras: fique à vontade para escreverem mais algo:

MILC: A publicidade dirigida ao público infantil é danosa porque pressiona as crianças a desejarem cada vez mais bens de consumo, associando-os a um discurso enganoso de alegria, felicidade e status social. Esses bens de consumo podem ser alimentícios, de vestuário, brinquedos ou até mesmo itens para adultos anunciados para as crianças, que tornam-se promotores de tais produtos, indicando-os aos pais. Além de trazer sofrimento às crianças que não podem adquirir esses bens devido à falta de recursos financeiros, essa pressão causa estresse familiar e não pode ser devidamente elaborada pelos pequenos, cujo senso crítico ainda está em desenvolvimento.

Publicidade dirigida à crianças é incompatível com o ideal de uma sociedade que preza o bem-estar de seus cidadãos. E não é à toa que em países como a Suécia ela é proibida. O marqueteiro, que estudou vários anos e em geral fez curso superior, é um especialista em psicologia infantil, estuda os hábitos, conhecendo profundamente os desejos e aspirações de seu público-alvo. Todo esse conhecimento tem como propósito derrubar as barreiras, filtros e principalmente a consciência crítica que define critérios para a compra de produtos. O que importa ao marqueteiro é obter o resultado esperado pelo anunciante: vender mais para mais gente. Para eles, o mercado infantil também representa a busca pela fidelização da marca pelas crianças desde a infância. Do outro lado, está a criança, geralmente solitária, indefesa e vulnerável, pois ainda não aprendeu as manhas do mundo adulto e acredita no que lhe é dito e mostrado. A disputa é covarde.

Infância livre de consumo__ (1)

No Brasil, a televisão ainda tem um papel muito importante no cotidiano das famílias: além de servir como “babá eletrônica” para crianças de todas as classes sociais, nos lares menos favorecidos, ainda numerosos no país, há somente um cômodo ou dois, não deixando a possibilidade de “tirar os filhos da sala”, ainda que os pais estejam por perto. Assim, não podemos responsabilizar somente pais e mães que trabalham dentro ou fora de casa pelo conteúdo a que seus filhos assistem diariamente nem pelo efeito disso em seus comportamentos.

Além disso, estamos diante de um novo fato: pela primeira vez na história humana, se questiona a forma como estamos consumindo o planeta Terra. As crianças de hoje serão responsáveis pelo planeta de amanhã. Mas, ao invés de serem educadas para se tornarem cidadãs conscientes, elas estão sendo transformadas em consumidoras desde a mais tenra idade.

O excesso de propagandas e o conteúdo manipulatório delas incentiva o consumismo e dificulta a educação cidadã e sustentável que todos desejamos.


• Entrevista realizada por Angelica Weise da Equipe Eu Sem Fronteiras

Sobre o autor

Eu Sem Fronteiras

O Eu Sem Fronteiras conta com uma equipe de jornalistas e profissionais de comunicação empenhados em trazer sempre informações atualizadas. Aqui você não encontrará textos copiados de outros sites. Nossa proposta é a de propagar o bem sempre, respeitando os direitos alheios.

"O que a gente não quer para nós, não desejamos aos outros"

Sejam Bem-vindos!

Torne-se também um colunista. Envie um e-mail para colunistas@eusemfronteiras.com.br