Antes de começar a escrever sobre essa descoberta, tive a intuição de dar uma olhada no dicionário online.
eu
pronominal
1.
pronominal pessoal
palavra us. por aquele que fala ou escreve para se referir a si mesmo, quando gramaticalmente é o sujeito da oração.
“eu vou sair”
2.
substantivo masculino
a individualidade da pessoa humana.
Descobrir
Do latim discooperire, “destapar”
verbo
1.
transitivo direto
remover, tirar o que cobre (algo), total ou parcialmente.
“o pano sobre uma cesta de pão”
2.
transitivo direto e pronominal
remover, tirar peças de vestuário, cobertor etc. de cima de.
“descubra essa criança, está calor”
interior
adjetivo de dois gêneros
1.
relativo à parte de dentro; interno.
“espaço i.”
2.
situado dentro dos limites de algo; interno.
“pátio i.”
Antes preciso dizer que estou muito feliz com esta oportunidade de escrever para o site www.eusemfronteiras.com.br
Agora vamos começar essa viagem das minhas descobertas nesses 5 meses (150 dias) em que estou vivendo na cidade do interior de São Paulo, em Jaguariúna.
Tem muita gente me perguntando como é a vida no interior. Eu sempre digo: “depende muito de como você lida consigo mesmo”. Em qualquer lugar do mundo que porventura a gente venha a escolher viver, teremos de conviver com nós mesmos. Quanto mais calmo é o endereço (local), mais barulho interno terá de ouvir.
Eu costumo brincar: “aonde for, terei de me levar junto”. Outra coisa importante, dependendo da sua atividade profissional, é a aquisição de uma internet de qualidade. Por causa do isolamento (distanciamento) social, muitas atividades podem ser realizadas no mundo online.
Cheguei por aqui na primeira semana de março de 2020, achando que ficaria no máximo por 40 dias para cuidar da minha mãe, que hoje está com 80 anos, e lá se vão 150 dias. Isso prova que muitas vezes não temos nenhum controle sobre a agenda da vida.
Percebi que, pelo fato de não ter tentado controlar a vida, tornou-se muito mais fácil de aceitar e entender este movimento e momento planetário.
Jaguariúna é uma cidade incrível, com cerca de 50 mil habitantes, ao lado da cidade de Campinas, a 20 km de distância, e a 130 km de São Paulo.
O que vou compartilhar com você que está dedicando seu precioso tempo para ler este texto, você vai perceber que não tem muito a ver com estar morando em uma cidade do interior, e sim buscar entender minha jornada pessoal ao meu interior mais profundo.
Para abrir esta jornada, vou lhe apresentar um poeta que enche meu coração de alegria e ajuda a recobrar a memória e o propósito da minha alma verdadeira.
“Alguém entrou no quarto de um poeta e perguntou: ‘por que ficas aqui sozinho, o dia inteiro?’ O poeta respondeu: ‘agora, que entraste, eu realmente estou só, porque me separaste de Deus’.” (Rumi)
Rumi passou a maior parte dos últimos anos de sua vida em Anatólia, dedicado a terminar sua obra-prima do sufismo (sabedoria mística e contemplativa do Islão) “Masnavi”, formada por seis volumes.
Eu entendo que foi a forma de ele ir morar no interior da sua própria alma. Quando decidimos algo tão radical como é uma mudança de casa, podemos ser convidados a habitar a nossa casa interior e assim pude observar que Rumi escreveu ainda vários volumes de poesias populares.
Durante muito tempo, Mawlānā (Rumi) foi considerado um dos maiores poetas persas de todos os tempos e foi chamado de “certamente o maior poeta místico na história da humanidade” (ARBERRY, 1949, p. xix). Disponível em: https://iqaraislam.com/quem-foi-rumi-uma-breve-biografia.
Só é possível um ser humano produzir algo tão profundo e verdadeiro a partir do momento em que escolhe ou é obrigado a essa mudança para seu interior mais profundo.
Muitas vezes deparei-me com citações como esta: “A inspiração que você procura já está dentro de você. Fique em silêncio e escute.” (Rumi)
Vou confessar que muitas vezes fiquei com raiva de ouvir pessoas repetindo essa frase, mas quando mudamos e vamos morar no nosso interior, essa frase passa a se tornar um sentimento. É aí que começa a fazer sentido e eu passei a viver e sentir: “A inspiração que você procura já está dentro de você. Fique em silêncio e escute.” (Rumi)
Tenho de confessar: não é nada fácil morar no seu interior. As crises existenciais fazem com que a gente chegue próximo à loucura ou ao barulho da vida na cidade externa a nossa casa interior.
Nesses 150 dias, já aconteceu de tudo. Uma pessoa que ajudei como fiador de um imóvel em São Paulo há mais de 10 anos, de que eu nem me lembrava, por causa da pandemia e da quarentena, perdeu o emprego e ficou três meses sem poder pagar o aluguel e os donos do imóvel que têm centenas de imóveis de aluguel entraram com uma ação de despejo.
Isso faz a gente ficar triste e vem logo a observação (julgamento): “essas pessoas não têm coração. Com tantos imóveis, ainda assim estão colocando as pessoas na rua!” Por mais que pareça um sentimento humanitário, nada mais é do que o meu julgamento. Cada um faz o que acha que tem de fazer. A mim caberia resolver a ação e pensar se eu voltaria ou não a ser fiador.
Não tive opção, a não ser recorrer ao poeta Rumi, e chegou a mim este pensamento: “Que a beleza do que você ama seja o que você faz.” (Rumi)
Parei e pensei em tudo o que fiz durante toda a minha vida, hoje com 58 anos. Muitas coisas foram feitas com segundas intenções e hoje me questiono as intenções das coisas que faço. Isso é o que acontece quando resolvemos morar em nosso interior. Nada é mais como antigamente, quando a cidade grande me fazia viver uma vida cheia de distrações e talvez com muitas segundas intenções.
Viajei muito pelo Brasil e muitos países pelo mundo afora. Sempre me sentia preso e com uma culpa que não fazia ideia de onde vinha. Tudo era muito incrível. O lugar, as pessoas, as experiências, e mesmo assim sentia uma prisão, que não sabia de onde vinha esse sentimento.
Mais uma vez, Rumi chega até mim e provoca este questionamento: “Por que você permanece na prisão, quando a porta está completamente aberta?” (Rumi)
Agora voltemos ao título deste texto: “Eu descobri minha vida no interior”
Comecei a questionar: “será que eu realmente descobri minha vida no interior?”
Na verdade essa é uma busca por toda a vida. O que impactou muito este momento foi mais uma vez o poeta Rumi. Desta vez ele não teve pena ou dó de mim. Não que eu seja merecedor de pena, mas minha criança ferida queria ser afagada ou bajulada neste momento, mas o poeta não teve dúvidas, chamou-me à realidade e entregou mais um cesto com pérolas:
“Desde que chegaste ao mundo do ser, uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses. Primeiro, foste mineral; depois, te tornaste planta, e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti? Finalmente, foste feito homem, com conhecimento, razão e fé. Contempla teu corpo – um punhado de pó, vê quão perfeito se tornou! Quando tiveres cumprido tua jornada, decerto hás de regressar como anjo; depois disso, terás terminado de vez com a terra, e tua estação há de ser o céu.” (Rumi)
Por isso estou feliz de ter escolhido morar nessa minha cidade interior. Na realidade é um verdadeiro universo interior, muito maior que uma casa. Não existem paredes, fronteiras ou mesmo governos e governantes, só existe o que eu entendo como fronteiras. Durante as meditações profundas, percebi que o corpo é apenas um endereço temporário.
Minhas atividades em São Paulo estavam todas focadas em ações presenciais. Por causa da pandemia e restrições dos encontros em espaços fechados, eu e minha sócia Anna Maria de Oliveira vimo-nos tendo de realizar nossas ações da Academia Confluência no mundo online.
No começo parecia que não teríamos as mesmas vivências e energia que experimentávamos nos eventos ao vivo, principalmente com o projeto Jornada Interior com a Força dos 4 Arquétipos, que era realizado dentro das instalações da Umapaz, no Parque Ibirapuera. Estávamos muito enganados. A força dos encontros online mostrou-se muito potente e as fronteiras mais uma vez vieram por terra. Hoje já somos vistos em todo o Brasil e em vários países.
Isso me levou a refletir: “Qual é o meu verdadeiro tamanho? As minhas limitações estão dentro da minha casa interior.”
Hoje, quando faço meus atendimentos como terapeuta de regressão a vidas passadas ou faço uma mentoria, ou mesmo nossos workshop, ou os grupos de imersão, é muito surreal o resultado que estou conseguindo atingir.
Vou tomar mais um pouco do seu tempo e convidar a ler as definições das palavras encontradas no dicionário:
“(eu)… pronominal pessoal… palavra usada por aquele que fala ou escreve para se referir a si mesmo, quando gramaticalmente é o sujeito da oração. ‘eu vou sair’ substantivo masculino … a individualidade da pessoa humana.
(descobrir)… do latim discooperire, ‘destapar’ verbo… transitivo direto… remover, tirar o que cobre (algo), total ou parcialmente… ‘o pano sobre uma cesta de pão’ … transitivo direto e pronominal… remover, tirar peças de vestuário, cobertor etc. de cima de. ‘descubra essa criança, que está com calor’
(interior) … adjetivo de dois gêneros …relativo à parte de dentro; interno… ‘espaço interno do ser’… situado dentro dos limites de algo; pátio interno.”
Acredito que agora muitos de vocês terão um desejo de buscar uma cidade no interior de sua própria existência e sentirão um prazer, talvez, jamais experimentado em toda essa jornada presencial nas grandes cidades externas do seu próprio ser+humano.
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Finalizo com outro poeta, porque eu não sou capaz de entender a vida interior como os poetas tão bem o fazem.
Saramago diz que a única prioridade absoluta é o ser humano. Segundo Saramago, que participou da abertura do Primeiro Congresso Internacional de Educação, cada vez há mais coisas para saber e cada vez mais há menos condições para ter esse conhecimento. “O saber concentrou-se numa minoria, numa elite, com uma massa cada vez maior de ignorantes, ignorantes que sabem ler e sabem escrever”. No Brasil, disse o escritor, há uma consciência desses problemas e “isso já é meio caminho andado”. Disponível em: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2003-10-13/saramago-diz-que-unica-prioridade-absoluta-e-ser-humano
“Apenas sei que o mundo necessita de ser mais humano.” (José Saramago)
Agradeço imensamente esse tempo que passamos juntos dentro da minha casa, aqui no meu interior.