A criança que nasce livre começa a ser aprisionada para que consiga viver em sociedade. E o corpo, casa terrestre, logo é advertido – principalmente o feminino – para que se mantenha quieto. Mas a natureza corporal é movimento e a dança é um dos instrumentos que possibilita a fluidez nas águas da vida.
Não sou especialista em dança, mas uma vez tendo um corpo, sei dançar. Nisso consiste uma libertação. Meu ser corpóreo não pode ser enquadrado, metrificado, padronizado, pois nasceu para ser livre e festejar.
As energias criativas necessitam de vazão para que haja equilíbrio em nossas vidas. Quando uma mulher expressa sua criatividade genuína, passa a aceitar o feminino intrínseco, honrá-lo e celebrá-lo. As expressões corporais exprimem as energias femininas e a dança pode ser um canal. Desde tempos antigos, a dança é utilizada em cerimônias, rituais. O corpo que se movimenta promove uma ligação entre o mundo interior e o exterior. Para a mulher, a dança é um meio natural de dar vazão à ciclicidade, o corpo se une ao ritmo da vida.
No livro Lua vermelha: as energias criativas do ciclo menstrual como fonte de empoderamento sexual, espiritual e emocional, de Miranda Gray, têm-se a seguinte sugestão:
Ao começar a dançar, deixe que o ritmo conduza seus passos e pensamentos. O balanço ao ritmo da música aos poucos vai dissipar qualquer sentimento de vergonha ou inibição, e você logo sentirá alegria e prazer com os movimentos do seu corpo. Conscientize-se, por meio do ritmo, das energias criativas em seu corpo e no mundo que a rodeia. Permita que seus sentimentos expressem essas energias por meio da dança no mundo manifesto; dance sua sexualidade, seu prazer de viver, sua consciência, sua visão, sua intuição e criatividade. Deixe que a energia flua dos seus dedos, dos seus cabelos e dos seus pés e visualize essa energia como uma aura radiante ao seu redor. Use sua voz para chamar, arfar, gritar alto enquanto dança, liberando a energia por meio da respiração. Por fim, se solte e chore e, ao se sentir exausta, deite-se no chão e descanse.
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O corpo, naturalmente sagrado, foi distorcido e silenciado por muitas culturas patriarcais. Só é possível a harmonia através da consciência e respeito aos nossos quatro corpos: físico, mental, emocional e espiritual. A relação com o corpo físico é um reflexo da nossa consciência, por isso quanto mais nos expandimos, mais amor sentimos por todas as partes que nos compõem.
Recentemente, li uma frase de um poema celta: “Talvez o seu corpo seja sua própria fé e o melhor amigo da sua alma”. Desde então, percebi que nosso corpo é nosso próprio caminho.